Os portos de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho estão suspendendo as operações em agosto, devido ao baixo nível do Rio Paraguai, um dos menores em 22 anos, causado pela seca extrema que ocorre na bacia. Essa paralisação da navegação comercial é um impacto para as exportações de Mato Grosso do Sul.
Segundo a Secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), o estado deixará de movimentar pelo menos 50% do volume de cargas de grãos e minério de ferro previsto pela hidrovia em 2020.
A prolongada estiagem, no entanto, é apenas um dos fatores que implicam diretamente na limitada operacionalidade do rio, que integra um dos maiores eixos continentais de integração comercial do Brasil com seus parceiros latinos. A falta de investimentos do governo federal em infraestrutura, nas últimas décadas, colocou a Hidrovia do Paraguai – corredor estratégico para potencializar economicamente o Estado – em um modal de baixo rendimento.
“O cenário que estamos vivenciando agora com as limitações de calado expõe, na verdade, as mazelas do nosso sistema hidroviário”, afirma Jaime Verruck, titular da Semagro. Ele cita dois fatores que precisam ser atacados urgentemente: o alto nível de assoreamento do rio, com dragagem de manutenção, e a melhoria da sinalização náutica, hoje à cargo da Marinha.
Navegação no limite
Para o secretário, são limitações que, se resolvidas tecnicamente e com investimentos, hoje poderiam tornar a hidrovia plenamente navegável em condições mais críticas. “O governo do Estado criou uma linha estratégica e vem tratando isso conceitualmente com Brasília, em uma ação conjunta também com o Paraguai e a Bolívia, no sentido de trazer a Hidrovia do Paraguai para o patamar de discussões dos grandes eixos rodoviários e ferroviários”, ponderou.
Com o calado do Rio Paraguai a sete pés (2,10 metros), em Porto Murtinho - previsão de reduzir ainda mais, a 1,67 metros na primeira semana de outubro -, o terminal da FV Cereais, que iniciou operações em março deste ano, não cumprirá 50% da meta de exportar 500 mil toneladas de grãos para os mercados asiáticos, via Oceano Atlântico. Até a última sexta-feira (14), os embarques somavam 230 mil toneladas e as operações já se inviabilizaram.
“Estamos no limite, a hidrovia vai parar”, afirmou o empresário Peter Feter, um dos proprietários do porto. O baixo nível do rio no trecho brasileiro da hidrovia não é o único entrave para os comboios que saem de Corumbá, Ladário e Murtinho, hoje com 30% a 40% menos de cargas. As maiores restrições estão no lado paraguaio, na região de Valemi, onde há concentração de rochas. O trecho que limita o calado vai de Murtinho a Assunção.