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ENTREVISTA Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2015, 08:12 - A | A

Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2015, 08h:12 - A | A

“Boas decisões para o bem do agronegócio” diz presidente da Famasul em entrevista exclusiva

Taciane Peres - Capital News

O agronegócio em Mato Grosso do Sul é considerado uma das maiores potências econômicas do país. E para que essa potência se consolide ainda mais, enfrentando desde desajustes econômicos, situações de mercado e até mesmo questões fundiárias é preciso saber tomar decisões para que contribuam para a cadeia produtiva do Estado. Numa conversa entre a equipe do Capital News e o novo presidente da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) Nilton Pickler o presidente fala sobre o novo desafio a frente da federação, assuntos como economia, política e soluções para questões agrárias. Confira a entrevista do Capital News.

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Presidente da Famasul, Nilton Pickler fala sobre projetos para 2015 e a retomada econômica no agronegócio
Foto: Ana Brito/Famasul

Capital News: Como o senhor encara essa nova etapa da sua vida, como presidente da Famasul?

Nilton Pickler: Em primeiro lugar eu me sinto honrado de estar aqui, foi um grande desafio que eu aceitei enfrenta e com certeza farei de tudo para que a confiança depositada seja honrada pelo melhor para a classe produtiva. Nós ficamos orgulhosos de buscar bons caminhos para o produtor, e pensamos sempre em tentar solucionar os gargalos que existem e afetam a agropecuária no país e o agronegócio. Superando alguns obstáculos, aliando um trabalho que seja bom no campo e bom para o consumidor final, para que tenham bons produtos em casa e para exportar até para o mundo. Esse será um objetivo a ser alcançado e uma meta a ser cumprida.

Capital News: Hoje qual seria o principal desafio para o primeiro trimestre de 2015? Quais são as primeiras metas?

Nilton Pickler: Nós estamos num período em que vamos entrar numa safra de soja, em alguns meses, estaremos começando com as lavouras e a colheita. São poucas, dentro de 2% ou 3% mas já começou a colheita 2015 e ai vêm os gargalos, vêm os problemas de logística, nós não temos estradas e assim acaba ficando difícil para o produtor escoar sua produção, vai ficando difícil para a nossa safra, pois as vezes o produtor tem que vender o mais rápido possível pois nós produzimos 14 milhões de toneladas para armazenar em torno de 8 milhões, então durante a safra tem quase que trabalhar mais rápido do que o normal. ..

Capital News: A questão da logística e condições das estradas acaba sendo um desafio a mais para o produtor, como o senhor avalia esse problema? Seria crônico no Estado?

Nilton Pickler: As estradas vicinais que dão acesso aos municípios têm muitas estradas de chão, o que muitas vezes prejudica, quando tem muita chuva aumenta a colheita o que atrapalha no que se refere ao transporte. Nós vamos buscar junto aos municípios e o Estado, que melhore a situação nesse período de safra para que a safra possa ser transplantada com segurança.

Capital News: Também falta mais investimento em hidrovias e ferrovias para melhorar as condições de escoamento dessa produção?

Nilton Pickler: No Estado temos essa possibilidade, temos Corumbá, temos Porto Murtinho, temos o rio Paraná do outro lado e conforme divulgado, o governador tem mostrado grande interesse e cogitado buscar uma saída para melhorar essas questões. Tem também em Maracaju, o Porto de Paranaguá, com o investimento vindo eles vão certamente melhorar o escoamento da safra. A safra para Porto Murtinho já existe, falta fazer uma operação para que ele volte a funcionar e o produtor possa tirar sua safra, escoar de maneira mais tranqüila.

Capital News: Pode-se esperar uma “parceria” entre Federação e Governo do Estado para enfrentar esses problemas?

Nilton Pickler: Nós estamos esperando todo o apoio, pois a gente sabe que o governador apoia e dará toda a ajuda e fará o esforço necessário para a nossa categoria quanto a de outras atividades. O poder público tem seus gargalos, suas complicações, o Estado não está aquela maravilha que a gente esperava, mas o governador é uma pessoa muito inteligente e vai saber buscar junto ao Governo Federal e junto à iniciativa privada a solução para os gargalos enfrentados no setor. Nós esperamos uma relação boa, de buscar sempre a melhoria para o setor mas sabemos as dificuldades. Sabemos que ele é governador de toda a sociedade Sul-mato-grossense e não só do agronegócio, mas que ele muitos desafios pela frente, já tive com ele há alguns dias atrás e já senti que a demanda é muito grande. Ele conhece o agronegócio e sabe onde “o calo aperta”, sabe das dificuldades que temos. A gente sabe que não vai ser de imediato uma resposta ao agronegócio até por que nos demais setores do Estado tem problemas a serem resolvidos e não vai olhar só a agropecuária e sim a situação como um todo.

Capital News: O governo Federal representado por Dilma Rousseff na campanha de 2014 não teve muito apoio de Mato Grosso do Sul, um Estado considerado força no agronegócio nacional. Como você espera o apoio do Governo Federal para 2015?

Nilton Pickler: A expectativa é boa. Tivemos uma boa sinalização da presidenta Dilma, a procurar para o Ministério da Agricultura uma líder rural, que é a Kátia Abreu, foi presidente de sindicato, também atuou dentro da federação do Tocantins, foi deputada federal, foi senadora da república, presidenta da CNA e agora foi contemplada como Ministra da Agricultura. Isso é uma boa sinalização pois deixa o setor agropecuário um pouco mais favorecido, para que ela consiga fazer um bom trabalho não somente no agronegócio mas que também possa intervir sobre a tão desejada “paz no campo.

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Controle da aftosa foi um dos destaques da entrevista com o presidente da Famasul, Nilton Pickler
Foto: Ana Brito/Famasul

Capital News: A questão indígena ainda é um tabu? Um desejo de certa forma que ainda está longe de ser alcançado? Anda a passos lentos?

Nilton Pickler: Eu não considero um tabu. Mas hoje nosso Estado na região sul está perdendo muito, estamos perdendo muitos investimentos de indústrias que não tem vindo para investir em nosso Estado por problemas fundiários. Esse é um problema do Governo Federal e que algo tem que ser feito prontamente, não dá mais pra esperar, vamos esperar e torcer para que a ministra juntamente com a presidenta Dilma possa articular para acelerar os problemas das questões fundiárias no Estado e invasões de terra.

Capital News: A Superintendência de assuntos indígenas é um passo dado na longa caminhada dos problemas fundiários no Estado?

Nilton Pickler: Esse é um passo que mostra que esses problemas tem que serem enfrentados de frente, sempre dentro da lei e buscando o diálogo. Nós produtores rurais, juntamente com o governo e a bancada federal temos que buscar essa solução e não pode ser mais a passos de formiguinha não, temos que fazer isso o mais rápido possível pois a população não aceita mais esse tipo de confronto nos tempos de hoje e ainda com tudo brigas com problemas fundiários é um atraso muito grande para todos nós. A Famasul sempre se mostrará aberta a buscar soluções para os conflitos indígenas, pois não dá para fazer justiça com um e fazer injustiça com outro. Se o Estado vendeu essas terras antigamente para o produtor e hoje os indígenas reivindicam, então o Estado que compre essas áreas novamente e doe aos indígenas.  ..

Capital News: Hoje são em torno de 84 propriedades rurais invadidas por índios. O conflito entre os produtores e indígenas preocupa a categoria?

Nilton Pickler: Preocupa a todos em todas as esferas. Eu não digo que é o um problema simples mas eu acrescento que em muitos casos falta vontade política para isso que não está tendo, que está deixando essas coisas serem resolvidas. Hoje nós temos essas 84 propriedades invadidas mas os produtores estão fora. Muitos destes pequenos produtores estão quase na beira da estrada, tem que ter vontade política que isso se resolve.

Capital News: Mudando de questões agrárias para a pecuária. Como está o controle da aftosa para o início deste ano?

Nilton Pickler: Estamos vivendo um momento muito bom na pecuária. Desde 2006 nós não tivemos mais foco de febre aftosa no Estado, ou seja, você vê que são praticamente 8 ou 9 anos sem focos em Mato Grosso do Sul, hoje somos um Estado livre com vacinação como exigência na fronteira, mas que aos poucos as relações com o país vizinho vão tomando um formato em que se adéqüem e sigam exigências que são boas para o mercado. Alguns problemas na região de fronteira tem dado um pouco de trabalho ao produtor mas o Paraguai tem atendido as exigências evitado problemas na produção. Hoje na faixa de fronteira, busca-se uma exigência de que os animais devem ser devidamente registrados e identificados. O controle ainda é lento, mas aos poucos está resolvendo e seremos nos próximos anos grandes exportadores do nosso produto. ..

Capital News: 2014 foi um ano de muitas oscilações no setor econômico no Brasil. Como avalia a retomada da economia pra este ano nas diversas atividades entre agricultura e pecuária no Estado?

Nilton Pickler: A política econômica teve alguns problemas no final de 2014 e até começou 2015 se intensificando ainda mais, demonstrando que teremos uma crise pela frente. No caso da pecuária a oferta do boi não é tão grande, o mercado internacional é muito grande então acredito que não vá afetar muito a pecuária. Na agricultura temos percebido que caiu um pouco a bolsa de Chicago, mas o dólar tem subido e dado uma sustentação. Esperamos que não haja grandes turbulências até por que o agronegócio é que faz com que a balança comercial brasileira consiga se manter, é o que dá o superávit para a balança comercial do Brasil, então espero que ele não seja tão afetado para gerar um problema de desequilíbrio na economia.

Capital News: A falta de mão-de-obra qualificada e a evasão de trabalhadores geram uma crise instalada nessa esfera da atividade?

Nilton Pickler: É uma situação preocupante pois nós sabemos que existem vagas no mercado, existem espaços e locais para que as pessoas possam se profissionalizar, aprender a trabalhar de forma especializada mas ainda existe o problema de falta de preenchimento de vagas. Temos trabalhado juntamente com o Senar que oferecem cursos técnicos, especialização, para que essa quebra não prejudique o setor. Eu até iria mais além, dizendo que o governo federal dá uma “cesta de bondades”, que ajuda muita gente, mas também trás muita acomodação de algumas pessoas da sociedade que poderiam estar produzindo, melhorarem de vida e se apegam num benefício desse e acha que está protegido. O governo deve se preocupar com isso. Hoje o Senar tem parceria com o Pronatec, um programa do governo federal e trabalho têm. Hoje falta mão-de-obra e tem vagas no mercado. Tem que começar a conscientizar as pessoas para ganhar o seu ganha-pão com trabalho qualificado.

Capital News: A frente da Famasul como presidente, boas perspectivas e muito trabalho pela frente?

Nilton Pickler: Eu assumi em menos de 20 dias com um desafio muito grande. Eu espero trabalhar a frente da Federação com muita honra muito trabalho e com a oportunidade de trabalhar em prol dos interesses do nosso Mato Grosso do Sul juntamente com o desenvolvimento da cadeia produtiva do agronegócio. Temos muitos projetos, o Senar por exemplo pretende formar 113 mil profissionais prontos para o mercado de trabalho. O desafio é grande, os projetos dentro da agropecuária são grandes, são a longo prazo, então vamos dar seguimentos a boas ideias, boas ações para dar as respostas que o produtor precisa.

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