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ENTREVISTA Segunda-feira, 09 de Fevereiro de 2009, 14:47 - A | A

Segunda-feira, 09 de Fevereiro de 2009, 14h:47 - A | A

Exclusivo: Capital News entrevista o presidente da Acrissul, Laucídio Coelho Neto

Lucia Morel, com assessoria - Capital News (www.capitalnews.com.br)

Em seu último ano como presidente da Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), o pecuarista Laucídio Coelho Neto fala ao Capital News sobre a atual conjuntura econômica e como esse quadro tem afetado o setor da carne aqui no Estado.

Com otimismo, Laucídio afirma que apesar da crise, há chances reais de as vendas melhorarem e de Mato Grosso do Sul despontar no mercado internacional, principalmente na Europa, com sua carne de grande qualidade.

Depois de décadas à frente da associação, o pecuarista abre espaço, como ele mesmo diz, para novos administradores. Sem meias palavras, ao falar dos planos, garante: "vamos cuidar de nossos negócios e outras missões que porventura venham a aparecer".

Confira a entrevista:

Capital News - No atual momento econômico é impossível não falar em crise. Como o mercado da carne está reagindo diante da redução nos abates nos frigoríficos e as demissões e férias coletivas do setor?
Laucídio Coelho Neto -
Não só Mato Grosso do Sul, mas o Brasil sofreu, com a crise sanitária que tivemos em 2005. A crise provocou uma queda violenta dos preços em nível de produtor. Por consequência, nós tivemos uma grande diminuição de rebanho e vale ressaltar que Mato Grosso do Sul foi o Estado mais atingido por essa diminuição de rebanho. Ano passado, 2008, o quadro mudou. Houve a recondução do status sanitário e com a volta das exportações nós tivemos uma boa recuperação nos preços. Essa conjuntura fez com que a crise financeira, que está atingindo praticamente todos os segmentos econômicos, esteja atingindo um pouco menos a pecuária porque nós temos o consumo interno brasileiro muito bom. E, coincidentemente, temos uma baixa no rebanho. Então, isso faz com que nossas ofertas hoje, sejam menores.

Capital News - Recentemente, o governo do Estado reduziu de 4% para 2% o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) incidente sobre a comercialização da carne bovina em Mato Grosso do Sul. Essa medida veio de encontro às necessidades desse mercado? Ajudou ou não o setor?
Laucídio - É uma ajuda. Não deixa de ser. Mas é uma ajuda bastante pequena. Porque uma vez que o frigorífico tira a nota fiscal dos seus abates, ele é obrigado a recolher todos os impostos estaduais e federais. A carga de impostos federais é bastante pesada. E nesse segmento não houve mudança nenhuma.

Capital News - O preço do boi está variando muito nos últimos meses, o que tem desagradado pecuaristas do Estado, principalmente por conta da rentabilidade que pode ser prejudicada. Como o setor tem reagido diante desse cenário e o que pode ser feito para driblar essa situação?
Laucídio -
O que nós temos dito hoje, é que os frigoríficos não estão comprando boi, estão fazendo pescaria. Eles abrem um preço bom, compram uma semana, dez dias e aí começam a ofertar preços bastante inferiores para completar as matanças. Então, aqueles que deixaram de vender na hora da compra, passam, se necessário for fazer negócios vender mais barato. E isso tem sido, a cada ciclo de dez, 15 dias é que frigoríficos entram no mercado realmente comprando. Então, se o pecuarista tiver realmente a paciência de ficar monitorando o mercado para vender nas horas em que o frigorífico está precisando os preços serão razoáveis.

Capital News - Depois de anos à frente da Acrissul, o senhor decide não se candidatar novamente à presidência da entidade. Por qual razão? Há alguma relação com as dificuldades porque passa o setor nesse momento?
Laucídio -
É, acredito que, primeiro, a necessidade de uma renovação da entidade. Isso é fundamental para a formação de novos líderes. Em segundo acreditamos que a contribuição que nós já demos à entidade e à pecuária do Estado foi feita. Vamos cuidar de nossos negócios e outras missões que porventura venham a aparecer.

Capital News - Hoje, a Acrissul conta com quantos associados, entre pequenos, médios e grandes produtores? O que o senhor aconselharia à nova administração diante da realidade do setor? Qual medida seria mais urgente e necessária à nova presidência da entidade?
Laucídio -
Nós temos hoje, em torno de 800 sócios ativos em todos os segmentos. E a para a nossa nova diretoria, que estará assumindo, provavelmente no mês de junho, tenho poucos conselhos a dar porque serão pessoas todas experientes. Apenas com pouca experiência, ainda, de Acrissul, mas bons conhecedores do negócio. E essa turbulência no mercado financeiro internacional que atingiu duramente as exportações de carne do Brasil, nós não temos ainda um cenário claro que possibilite fazer prognósticos. Então, a atual gestão da Acrissul está fazendo todos os esforços para fazer uma grande Expogrande. Temos a convicção de que ela acontecerá e neste andamento da carruagem vamos sentindo o mercado. Acreditamos que até essa fase de transição, o Estado já tenha um pouco mais de luz.

Capital News - Apenas três fazendas do Estado estão habilitadas para exportar para a União Europeia. A quarta que havia sido liberada perdeu a concessão porque não renovou a certificação. Como está a situação de Mato Grosso do Sul com relação à exportação? O fato de já sermos considerados área livre de aftosa com vacinação ajuda, mas ainda poucas unidades estão vendendo o produto para o exterior. O Estado tem condições de liderar esse mercado? A carne do Estado ainda é a melhor do País?
Laucídio -
A carne do Mato Grosso do Sul é a melhor carne do Brasil. E Mato Grosso do Sul voltou a exportar em larga escala. Esse reconhecimento da missão européia da nossa condição sanitária e essa visita a nossas fazendas, tem um valor muito grande de referência. O reconhecimento da Europa é uma boa referência, mas Mato Grosso do Sul ainda negocia muito pouquinho com a Europa. E vamos, ao longo de 2009, se possível recuperar esse mercado também.

Capital News - Como a crise econômica mundial tem afetado o mercado da carne? A transferência de tecnologia e o cuidado com a qualidade da carne têm sido prejudicados?
Laucídio -
A qualidade não. A infraestrutura montada e funcionando para cuidar da carne é a mesma e serve tanto para o mercado interno como para o externo. Nós não podemos, jamais, esquecer que 75% de toda a produção nossa é consumida internamente. Então, esse é o grande mercado que nós temos. A gente fala muito na exportação porque é o plus, é o mais, completa. A produção, hoje, é muito grande e precisamos exportar para que não fique sobrando carne no mercado interno. Mas essa crise é um fato e está instalada. Contudo, nós acreditamos que a população vai continuar comendo, bebendo, se divertindo porque isso faz parte da vida. Então, a tendência, principalmente nesse setor é de uma volta a uma certa normalidade. Porque em uma situação de economia, evidentemente, os clientes ficam mais retraídos. Mas eles aí estão e vão voltar.

Capital News - Como estão os preparativos para a Expogrande 2009, agora que será sua última participação como presidente da Acrissul? Qual a expectativa para este ano: de público, de capital e de leilões?
Laucídio -
A agenda de leilões está praticamente concluída. Devemos ter o mesmo número de animais do ano passado. E vamos torcer para que consigamos os mesmo preços do ano passado. Um pouco mais, se possível. Mas ao menos os mesmos preços do ano passado, que foi uma boa Expogrande. Temos, neste ano, a Dinapec acontecendo junto com a abertura da Expogrande. A Dinapec é uma exposição de tecnologia da Embrapa. E serão três dias de campo (25, 26 e 27 de março) lá na Embrapa. Esses técnicos, após o dia 27 se deslocarão para o Parque de Exposições e estarão no Centro de Informações Tecnológicas que será montado aqui dentro, atendendo a todos os pecuaristas e agricultores do Estado. Vai ser muito forte essa parte de palestras e de tecnologia. É muito importante essa interação entre Acrissul, Embrapa e produtores de nosso Estado. Quanto à nossa população, estamos aí caprichando nos nossos shows. Ainda não estamos com a agenda fechada. Estamos em fase de negociação, mas estamos fazendo o possível para que venham atrações que tragam a população de Campo Grande que sempre gostou e sempre prestigiou a nossa Expogrande. E é nossa intenção fazer o possível para atraí-la e gostaríamos de pedir o apoio já da nossa carinhosa gente de Campo Grande.

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*Agradecemos a Assessoria de Imprensa da Acrissul pela atenção.

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