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ENTREVISTA Quinta-feira, 18 de Maio de 2017, 16:12 - A | A

Quinta-feira, 18 de Maio de 2017, 16h:12 - A | A

Entrevista

Maio Laranja: mês de combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes

O Capital News entrevistou a Psicanalista Viviane Vaz, Coordenadora do Projeto Nova, em Campo Grande

Maisse Cunha
Capital News

Divulgação

18 de maio: Dia Nacional de Combate a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Deurico/Capital News

18 de maio: Dia Nacional de Combate a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Viviane Vaz, em sessão solene na Câmara Municipal

Em 18 de maio de 1973, uma criança de oito anos foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada, no Espírito Santo. O corpo foi encontrado seis dias depois. Os seus agressores, jovens, de família influente, nunca foram punidos.

 

Hoje, 44 anos depois, lamentavelmente, histórias como essa ainda se repetem. Assim, em referência ao "Caso Araceli", maio ficou instituído como o mês de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, dando nome à Campanha Maio Laranja.

O Capital News entrevistou a Psicanalista Viviane Vaz, Coordenadora do Projeto Nova, que é referência em assistência às famílias das crianças vítimas de abuso sexual, em Campo Grande.
 
Confira na íntegra a entrevista:

Capital News - Quais são as formas mais comuns de abuso?
Viviane Vaz - Além do abuso sexual, existe o abuso físico, psicológico, moral e também o abandono, a negligência.

Capital News - O que leva ao abuso?

Viviane Vaz - Muitas podem ser as causas que levam um indivíduo a cometer abuso sexual. Dentre essas causas, podemos destacar todo um sistema de crenças, baseado nos mitos culturais sobre a própria masculinidade, a reprodução da violência sofrida, a perversão, a compulsão, o vício sexual, a pedofilia, entre outras situações.

Capital News - Quem comete esses abusos?
Viviane Vaz - Não se pode ter um padrão estabelecido, pode ser qualquer pessoa. Mas, em 90% dos casos, as vítimas foram abusadas por homens, que têm vida social e histórico de violência na infância. Destes, 97% tem acima de 18 anos que, dificilmente, reconhecem que precisam de ajuda.

"Nem todo abusador de crianças é pedófilo, e nem todo pedófilo pratica crimes sexuais!"

Com as intervenções necessárias, 50% deles pode deixar de praticar novos abusos. São raros os casos em que eles deixam espontaneamente. As crianças e os adolescentes também podem reproduzir abuso. É importante frisar que nem todo abusador de crianças é pedófilo, e nem todo pedófilo pratica crimes sexuais.

Capital News - Quais os indícios de que uma criança está sofrendo ou sofreu algum tipo de abuso?
Viviane Vaz - Essas crianças podem apresentar diversos sinais, entre eles baixa autoestima, alteração no rendimento escolar, dificuldade de aprendizado, agressividade, mudança de humor, apetite, alteração no sono, pesadelos, agitação noturna, dificuldade de relacionamento, tendência de isolamento social, falta de confiança, comportamentos regredidos, comportamentos erotizados, sentimento de medo, seja de ficar sozinho, de ficar no escuro ou de alguém específico, culta, tristeza.

 

A criança pode sentir-se suja, apresentar ansiedade, marcas no corpo, dor, algum tipo de lesão, inchaço, sangramento das partes íntimas, autoflagelação ou ideação suicida. Doenças sexualmente transmissíveis, uso de drogas lícitas ou ilícitas. O surgimento de objetos pessoais, brinquedos, dinheiros ou outros bens que estão além das possibilidades financeiras da criança, do adolescente e da família pode ser indicador de favorecimento ou aliciamento.

Capital News - Qual a melhor forma de abordar uma criança que, suspeita-se, tenha sofrido abuso sexual?
Viviane Vaz - Primeiro de tudo, a criança não mente sobre um assunto tão íntimo e doloroso. Então, a família tem que acreditar no que a criança diz.

 

É importante não falar do que “eu suspeito” com a criança. Apenas fazer perguntas. Falar do que é concreto, não de hipóteses. Observação no relacionamento com a família, dialogar sem achismos. Ser um adulto de confiança, se importando, sendo discreto.  Ensinar que no corpo temos partes que são intimas e elas não podem ser tocadas por outra pessoa, mesmo que seja familiar. Ensinar a diferenciar toques bons e toques ruins.


A criança deve perceber seus próprios sentimentos.  Que sentimentos ruins não devem ser guardados. Toques bons e de amor não precisam ser escondidos. Que as pessoas devem se respeitar, que a privacidade é algo importante, que não se deve tirar ou compartilhar fotos que tenham partes íntimas de alguém. Que imagens com censura podem fazer muito mal a sua mente, por tanto precisam se respeitar.


Informar a criança de que se aconteceu alguma coisa a culpa não é dela e que a pessoa que comete algo desse tipo deve ser punida e, acima de tudo, proteger essa criança. Nosso desafio é transformar o ciclo de violência e agressividade num ciclo de afetividade.

Capital News - As crianças vítimas de abuso têm consciência de que o que sofreram é errado e prejudicial?
Viviane Vaz - Nem sempre. Elas sabem que o que aconteceu com elas é ruim, mas não sabem que é crime. Elas não sabem que , embora o abusador peça para não dizer nada sobre o que aconteceu, elas tem direito à proteção. Elas não sabem que ficar em silêncio é tão prejudicial para a vida delas e que aquilo pode causar tanto mal.

Capital News - Que tipo de trabalho é realizado com as crianças no Projeto Nova?
Viviane Vaz - As crianças assistidas pelo Projeto Nova, desfrutam de um ambiente de segurança e confiança, fortalecendo a autoestima,recebem auxílio social, atendimento psicológico, odontológico  e palestras preventivas contra o Abuso.

 

Serviço:
Até o fim do mês, diversas ações serão realizadas, em comemoração ao Maio Laranja, como  palestras em escolas e exposição de fotos, no dia 26, na Plataforma Cultural.

 

Os interessados em conhecer, contribuir e, ainda, buscar assistência, podem entrar em contato com a equipe pelo telefone 67 3324-4200. O Projeto Nova fica na rua Bernardo Franco Baís, 515, Vila Carvalho.

 

   
   
   
   

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