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ENTREVISTA Sábado, 03 de Agosto de 2024, 10:43 - A | A

Sábado, 03 de Agosto de 2024, 10h:43 - A | A

Entrevista

Por que o câncer pode voltar?

Recidivas da doença, entenda como acontece

Renata Santos Portela
Capital News

Foto Cedida

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Wesley Pereira Andrade destaca que quando a doença retorna é um pouco mais grave

Receber o diagnóstico de câncer não é algo fácil de lidar, não é mesmo? No entanto, receber alta do tratamento oncológico é um momento de grande alegria.

No entanto, os médicos evitam chamar essa situação de “cura” e isso tem um motivo: a possível recidiva da doença, ou seja, o grande temor dos pacientes.

Mesmo que as condutas iniciais para tratar o câncer sejam bem-sucedidas, as células malignas podem ressurgir semanas, meses ou até anos após a alta, dizem os especialistas. É por isso que os pacientes precisam ficar atentos.

Por mais que esse assunto cause medo, precisamos falar sobre ele. Afinal, com informação de qualidade, é possível entender o que está acontecendo no organismo e enfrentar os desafios com serenidade.

1. Capital News: O que é a recidiva tumoral? Sempre volta no mesmo órgão afetado?

Recidiva pode ser local, regional ou sistêmica

Wesley Pereira Andrade: A recidiva tumoral consiste no retorno da doença. Essa recidiva pode ser local, regional ou sistêmica. A local, é no mesmo local onde surgiu, como por exemplo, um câncer de mama que volta na mama, recidiva local.

A recidiva regional corresponde aos gânglios que drenam aquela região. Então, por exemplo, o câncer voltou na axila do mesmo lado do câncer de mama, recidiva regional. Voltou na mesma região do abdômen, referente àquele câncer de intestino, recidiva regional.

Já a recidiva sistêmica consiste em uma contaminação, em geral, por via sanguínea, fora da região de origem. Então, voltou no cérebro, voltou no pulmão. Então, quer dizer que saiu da mama e foi pro cérebro, foi pro pulmão. Ou saiu do intestino e foi pro cérebro, foi pro pulmão, como exemplo.

2. Capital News: Quais os principais fatores de risco para o retorno de uma doença oncológica?

Wesley Pereira Andrade: Os principais fatores de risco para um câncer consistem do estadiamento ao diagnóstico, ou seja, qualquer volume de doença no momento do diagnóstico. Suponhamos que um paciente com câncer de mama de 2 centímetros, tem um prognóstico completamente diferente de um paciente com o mesmo câncer de mama de 10 centímetros e com vários gânglios comprometidos na axila. Outros fatores têm a ver com a agressividade biológica do câncer, bem como a qualidade do tratamento cirúrgico, a qualidade do tratamento de radioterapia, bem como ao acesso aos medicamentos para quimioterapia e imunoterapia.

Soma-se a isso, os fatores inerentes ao paciente, como a idade, a condição de aderência ao tratamento, se ele vai seguir as orientações médicas e tomar os medicamentos de forma adequada, manter-se magro ou, se for gordinho, perder peso, parar de fumar, parar de beber. Esses são fatores importantes para ajudar a evitar o retorno da doença.

3. Capital News: Quando há o retorno da doença, quais as chances de sucesso no tratamento?

Quando a doença retorna é um pouco mais grave

Wesley Pereira Andrade: Quando a doença retorna é um pouco mais grave. Quando esse retorno é apenas local, então tratou com câncer de mama dois anos atrás, hoje retornou na mama. É ainda passível de tentar curar fazendo uma nova cirurgia mamária. Voltou regionalmente nos gânglios, também é possível tentar curar esvaziando os gânglios daquela região. Já quando a recidiva é sistêmica, ou seja, voltou no pulmão, o problema não está no pulmão, então não adianta tirar aquela metástase do pulmão. O problema está no sangue. As células tumorais chegaram ao pulmão, via sanguínea, e essas células estão circulando no sangue, apesar de vermos a metástase no pulmão. Então, não adianta eu ir lá e ressecar o pulmão para tirar o que eu vejo. O problema é o que eu não vejo, é o sangue contaminado. E aí precisa de remédio. Quando nós falamos de uma metástase sistêmica, a maioria dos cânceres podem ser controlados por um tempo, mas a cura já é bem mais difícil de ser alcançada.

4. Capital News: Como prevenir a recidiva oncológica?

Wesley Pereira Andrade: A recidiva é prevenida através de um diagnóstico precoce, já que diagnosticado tardiamente aumenta o risco. Então é importante, se o paciente está fazendo os rastreamentos dos cânceres que são passivos de rastreamento, câncer de mama, câncer de próstata, câncer de intestino, achar no início é importantíssimo. Fazer o tratamento de forma adequada, ter uma ótima adesão ao tratamento. É muito importante combater os fatores de risco. Por exemplo, o paciente teve um câncer de boca relacionado ao hábito de fumar. Se ele continuar fumando, vai ser maior o risco de ele ter um segundo câncer naquela região. Ah, se teve um câncer no sol, e ele continua se expondo ao sol, às vezes pela própria atividade profissional, vai aumentar o risco. Então, a mudança de hábito de vida em relação aos fatores predisponentes é extremamente importante. Então, parar de fumar, parar de beber, parar de se expor ao sol, usar protetor solar, manter-se magro, combater o tabagismo, perder peso, combater a obesidade, perder peso, são extremamente importantes para reduzir o risco de uma reincidência.

5. Capital News: Hábitos de vida influenciam, ou seja, o paciente precisa fazer a parte dele? Se sim, de qual forma?

Wesley Pereira Andrade: Os hábitos de vida são extremamente importantes, como dito anteriormente, muitos hábitos de vida levam ao câncer. Então, fumar leva a risco do câncer de pulmão, câncer de boca. Beber leva a risco de câncer de boca, câncer do intestino, câncer de mama. Tomar sol leva ao risco de ter câncer de pele. Comer alimentos multiprocessados leva ao risco de se ter câncer de intestino. Se eu já sei quais são os fatores que vão aumentar o risco de ter o primeiro, esses fatores também vão ser fatores para ter o segundo, o terceiro câncer dessas regiões. Então, o hábito de vida é extremamente importante. O paciente precisa mudar o hábito de vida em relação àquele fator que gerou aquele terminal do câncer.

6. Capital News: O que ele precisa evitar?

Wesley Pereira Andrade: O que precisa ser evitado são as substâncias e agressões sabidamente cancerígenas. Tabagismo, álcool, exposição ao sol, radiação ionizante, alimentos ultraprocessados. Isso precisa evitar.

Reprodução/ TV Brasil

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7. Capital News: Quando a químio é rádio são indicadas ?

Wesley Pereira Andrade: A radioterapia é indicada quando se tem um risco grande do tumor voltar naquela região. Então, quando o paciente, por exemplo, opera um câncer de mama, aquela mama remanescente tem risco de ter células microscópicas, então precisa tomar radioterapia. Quando se resseca um tumor na cabeça e pescoço, tem risco também de as células disseminarem para os gânglios, precisa tomar radioterapia. Já a quimioterapia visa a proteger o corpo como um todo, então também vai se estimar o risco da doença sair do local de origem e contaminar o sangue. Então, a quimioterapia serve para proteger o corpo como um todo por matar células no sangue. A radioterapia serve para proteger o local apenas da disseminação adjacente de células tumorais.

8. Capital News: A genética pode aumentar o risco de um segundo tumor?

Wesley Pereira Andrade: As mutações genéticas podem influenciar no risco de um segundo e terceiro tumor. Por exemplo, uma mulher que tem a mutação do gene BRCA1, ela tem maior risco de ter um segundo câncer de mama. Por exemplo, ela teve um câncer de mama hoje, ela tem maior risco de ter um segundo câncer de mama. Bem como ter câncer em outras regiões, como câncer de ovário, câncer de pâncreas e câncer de pele. Então cada gene defeituoso ele se associa com uma série de cânceres relacionados àquela mutação específica. Então é importante que o médico esteja atento para se fazer um diagnóstico também de uma síndrome de predisposição hereditária ao câncer.

9. Capital News: Quais os tipos de tumores mais comuns de reincidir?

Wesley Pereira Andrade: O maior risco de incidência são câncer de mama, câncer de pele, câncer de pulmão, câncer da região da cabeça e pescoço e, além desses, podemos citar também o câncer de ovário.

10. Capital News: Qual recado você deixa.

Wesley Pereira Andrade: O recado principal em relação à oncologia é ter o diagnóstico precoce. Daí é importante fazer os exames preventivos, porque quando se acha o câncer, no início ele é altamente curado, com tratamentos pouco invasivos e, consequentemente, vamos ter baixa taxa de reincidência. Naturalmente, também vamos ter as mudanças de atos de vida para reduzirmos o risco de termos o primeiro câncer, bem como reduzir o risco de ter um segundo câncer para aqueles que já tiveram o primeiro.

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