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ENTREVISTA Sábado, 08 de Junho de 2024, 09:55 - A | A

Sábado, 08 de Junho de 2024, 09h:55 - A | A

Entrevista

Teste do pezinho: você sabe quando deve ser feito e a sua importância?

O teste faz parte do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), que identifica distúrbios metabólicos e doenças

Renata Santos Portela
Especial para o Capital News

Acervo Pessoal

Teste do pezinho: você sabe quando deve ser feito e a sua importância?

Médico diz que o teste do pezinho é importantíssimo para que as doenças triadas possam ser diagnosticadas com agilidade e o tratamento ser iniciado

Nesta semana, dia 6 de junho foi celebrado o Dia Nacional do Teste do Pezinho, a data tem como objetivo alertar a importância de se realizar o exame de prevenção. Isso porque o exame serve para sinalizar sobre a possibilidade de doença grave, cujo tratamento precoce garante o desenvolvimento normal e, em alguns casos, até a sobrevida da criança.

Em Mato Grosso do Sul, o Instituto de Pesquisas, Ensino e Diagnósticos da APAE de Campo Grande (IPED/APAE) é referência no exame. Em 2022, 33.854 recém-nascidos fizeram o teste do pezinho no Estado e no ano de 2023, foram 35.056.

Você sabe quando o teste deve ser feito e quais doenças podem ser detectadas através dele? O Capital News conversou com o médico geneticista da Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal Erros Inatos do Metabolismo (SBTEIM) Dr. Thiago Oliveira. Ele responde essas e outras questões.

Pedro Ribas/SMCS

Gotas preciosas

Teste do pezinho

1. Capital News: O que é o teste do pezinho?

Dr. Thiago Oliveira: É um método de triagem para todos os recém-nascidos, em que algumas doenças tratáveis, de sintomas iniciados ainda na infância, podem ser investigadas e posteriormente confirmadas, para diagnóstico e tratamento precoce.

2. Capital News: Como esse teste é feito?

Dr. Thiago Oliveira: O primeiro teste é feito a partir de coleta de sangue do calcanhar do recém-nascido e impregnado em papel-filtro. Esse método facilita a obtenção de amostra suficiente, com armazenamento e transporte seguro. Caso o primeiro teste dê alterado, pode ser necessária coleta de sangue venoso periférico ou outros tipos de testes.

3. Capital News: A coleta do sangue pode ser feita em outra região além do pé do bebê?

Dr. Thiago Oliveira: A escolha do calcanhar é para segurança do recém-nascido, pois é um local que fornece sangue suficiente, sem maiores riscos de sangramento desnecessário ou outras complicações. Em algumas situações especiais, como em prematuros, é mais recomendado coleta de sangue periférico venoso.

4. Capital News: Qual é a importância do teste do pezinho?

Dr. Thiago Oliveira: O teste é importantíssimo para que as doenças triadas possam ser diagnosticadas com agilidade e o tratamento ser iniciado o mais rápido possível. Todas as doenças inclusas no teste do pezinho são potencialmente graves, com chances de sequela ou mesmo óbito precoce nas crianças que não tem diagnóstico precoce e iniciam tratamento rapidamente. Felizmente, a expressiva maioria dos recém-nascidos tem o teste do pezinho normal, com nenhuma doença detectada, mas para aqueles que realmente tem a doença, o teste faz toda a diferença, pois possibilita um tratamento oportuno, muitas vezes antes mesmo da criança desenvolver qualquer sintoma.

5. Capital News: É correto afirmar que o teste do pezinho básico identifica até seis tipos de doenças? Se sim, quais são elas?

Dr. Thiago Oliveira: O teste básico do Sistema Único de Saúde detecta 6 grupos de doenças. No caso do exame eletroforese de hemoglobina, além de Doença Falciforme, outras Hemoglobinopatias podem ser detectadas, por isso falamos que é um grupo de doenças. Então, na prática são mais doenças, mas didaticamente são consideradas 6: Hipotireoidismo Congênito, Fenilcetonúria e outras Hiperfenilalaninemias, Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias, Fibrose Cística, Hiperplasia Adrenal Congênita e Deficiência de Biotinidase. Em alguns estados e municípios da federação, o teste do SUS pode detectar mais doenças. E no âmbito da saúde complementar (privado e convênios) em geral são mais doenças.

6. Capital News: O teste do pezinho foi ampliado com o objetivo de identificar mais tipos de doença. Esse procedimento é coberto pelo SUS?

Dr. Thiago Oliveira: Por enquanto, alguns estados já têm feito um teste ampliado, seja por leis locais - estaduais ou municipais - seja porque já estão iniciando a ampliação determinada pela Lei Federal 14.154, de 2021. São exemplos o município de São Paulo, o Distrito Federal e os estados de Minas Gerais, Paraíba, Paraná e Rio de Janeiro. A expectativa é que, nos próximos anos, todos os estados consigam contemplar a ampliação dessa lei.

7. Capital News: Existe um momento indicado para o teste ser feito? Se sim, qual?

Dr. Thiago Oliveira: O teste deve ser realizado até 28 dias de vida, no máximo, pois é uma triagem neonatal e o desenho do teste, incluindo os métodos laboratoriais, é feito para recém-nascidos. Coletas acima de 28 dias de vida só em situações de exceção. Mas além do respeito ao prazo máximo, é importante tentar coletar no período ideal, que é entre o 3o e o 5o dia de vida. Essa janela ideal considera algumas particularidades dos métodos laboratoriais e a garantia de agilidade nos resultados. Em alguns locais, a coleta pode ser antecipada para menos de 3 dias, pois são utilizados métodos laboratoriais mais modernos.

8. Capital News: Bebês prematuros também podem realizar o teste do pezinho?

Dr. Thiago Oliveira: Podem e devem. Só que a coleta é diferenciada, sendo indicada uma coleta seriada, em 3 etapas, para diminuir a chance de falsos-positivos e falsos-negativos pela prematuridade. A primeira coleta deve ser logo na admissão do prematuro na unidade hospitalar, a segunda coleta com 48 horas de vida e a terceira coleta na alta hospitalar ou aos 28 dias de vida se o prematuro permanecer internado nessa idade.

9. Capital News: Ao identificar uma doença, qual procedimento?

Dr. Thiago Oliveira: O primeiro teste, que é o que chamamos de teste do pezinho, é uma triagem, então, na maioria dos casos ele ainda não confirma uma doença. É necessário realizar uma investigação para confirmar ou excluir a suspeita do teste do pezinho. Essa investigação inclui outros exames, a maioria em sangue, que também devem ser realizados prontamente. Não deve haver perda de tempo nem menosprezo do resultado alterado. É uma urgência médica. No caso do teste do pezinho do SUS, a maioria dos estados conta com um serviço de busca ativa, que vai atrás da família, em geral por contato telefônico, para comunicar a alteração no teste e iniciar a investigação subsequente. De toda forma, também é responsabilidade das famílias buscarem o resultado, cobrarem das maternidades ou postos de saúde, bem como dos pediatras e médicos de família. É um trabalho de equipe, para que o resultado seja analisado o mais rápido possível.

10. Capital News: O teste do pezinho dói? O bebê pode ter alguma reação?

Dr. Thiago Oliveira: É uma punção muito tranquila, sem maiores riscos ao recém-nascido. É a dor de uma pequena picada. O benefício é muito superior, e as famílias devem ser orientadas e estimuladas a realizar o teste. Essa orientação deve começar ainda no pré-natal e seguir na assistência ao parto. É um trabalho de todos os profissionais de saúde que atendem gestantes e neonatos.

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