O aumento nos afastamentos não significa somente uma preocupação de saúde pública, mas também um risco para a sustentabilidade dos negócios no país, explica Raphael Rezende, gestor de carreira e especialista em bem-estar no mercado de trabalho
Os números não deixam dúvidas: a crise de saúde mental no trabalho se agravou. De acordo com dados do Ministério da Previdência Social os afastamentos por ansiedade, depressão e outros transtornos mentais cresceram 67% em um ano, saltando de 283,3 mil para 472,3 mil concessões. Essa estatística não é isolada. O Brasil já ocupa o topo dos rankings globais: país mais ansioso do mundo e segundo com mais casos de Burnout, segundo a OMS( Organização Mundial da Saúde) . O impacto da saúde mental no trabalho se tornou um dos maiores desafios do mercado – e ignorar essa realidade já não é mais uma opção.
O crescimento expressivo dos afastamentos por transtornos mentais não é apenas um problema de saúde pública, mas um risco real para a sustentabilidade dos negócios. Alguns pontos a serem analisados:
1- Impacto no absenteísmo e presenteísmo: o aumento dos afastamentos reflete diretamente na queda de produtividade e no aumento do presenteísmo – quando as pessoas seguem trabalhando, mas sem condições de desempenhar bem suas funções. O resultado? Menos inovação, mais falhas e um ambiente de exaustão contínua;
2- Marca empregadora e perda de talentos: as novas gerações priorizam bem-estar e saúde mental, assim como as lideranças femininas, que já demonstram altas taxas de saída do mercado. Empresas que não se adaptam sofrem com a rotatividade, dificultam a retenção e atração de talentos;
3- Custo do plano de saúde: os transtornos psicológicos estão entre os principais motivos de uso dos planos de saúde corporativos. Empresas que negligenciam a saúde mental dos trabalhadores acabam pagando essa conta – e ela só cresce; 4- Produtividade e segurança psicológica: a falta de segurança psicológica alimenta a cultura da pseudo-inovação - um modelo onde a entrega imediata é priorizada, mas a criatividade e o pensamento crítico são sufocados. Sem um ambiente seguro, as pessoas evitam sugerir melhorias, questionar processos ou testar novas ideias;
5- Agenda estratégica: a alta liderança precisa incorporar essa pauta como uma agenda central do negócio. A própria área de pessoas precisa e deve ter OKRs e KPIs específicos para avançarmos neste tema. Saúde mental não pode ser um tópico isolado ou secundário, mas um pilar estruturante para a construção de ambientes mais seguros e saudáveis.
Dois caminhos para ambientes de trabalho mais saudáveis
A saúde mental no ambiente de trabalho precisa ganhar cada vez mais espaço na agenda empresarial, impulsionada por novas regulamentações que exigem mudanças reais e estruturais. Dois marcos recentes exemplificam essa transformação:
● Lei 14.831/24:Certifica empresas que investem na promoção da saúde mental, estabelecendo critérios claros para ambientes de trabalho mais saudáveis - muitas empresas já estão se adequando;
● NR-01 (maio/2025): Determina a obrigatoriedade da identificação e prevenção de riscos psicossociais no trabalho. O que antes era opcional agora se torna um requisito regulatório, impactando especialmente setores como telecomunicações, tecnologia, saúde e varejo.
Mas não basta apenas cumprir a lei. A reconstrução dos ambientes de trabalho precisa ser uma estratégia de negócio, com intencionalidade e ações reais.O atual mercado de trabalho exige mudanças rápidas e o futuro também. Afinal, não há inovação, crescimento ou resultado sustentável sem a sustentabilidade humana. Agora a pergunta que fica: será que podemos adiar essa pauta?
*Raphael Rezende
Empreendedor, Advogado dos Direitos Humanos, especializado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho e Direitos Sociais, Palestrante sobre o Futuro do Mercado de Trabalho & Mentor de Carreiras e Negócios com +2 mil alunas, eleito Top 100 People 2024, Vozes Visionárias LGBT+ TikTok 2024, Linkedin Top Voice 2024, Top 50 Creator Carreira 2024 pela Favikon.
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