"Em todos os lugares nos quais a revolução Symmtrista foi tentada, resultou em fome, holocaustos e ditadura. Mesmo assim, tentamos ainda, não é? Dizemos que nunca foram colocada em prática de verdade, que dá próxima será a vez boa. Por que, mesmo depois de tantos planetas destruídos, continuamos a insistir na revolução?"
A Simetria Azul
M. P. Garnet
Acredito que todos nós já ouvimos falar de “revolução”. Seja assistindo aos jornais, seja lendo algum livro, seja assistindo algum vídeo, ou alguma aula. Seja de uma maneira ou de outra, acredito que todos nós já esbarramos nessa palavra, assim como com o seu conceito e a ideia que o mesmo nos passa. Dessa forma, trazemos em nossas mentes a ideia de que uma revolução deveria ser, pelo menos em teoria, um meio de corrigir as inúmeras injustiças que existem, um meio de transformar a sociedade em algo melhor. Mas, se prestarmos atenção aos resultados que algumas “revoluções” trouxeram a humanidade, perceberemos que parece existir um tipo de revolução que nunca termina, que não se contenta com nenhuma conquista. Esse tipo de “revolução”, no lugar de trazer liberdade ou progresso, se transforma em um ciclo vicioso onde cada etapa é apenas uma preparação para a próxima, sempre com a promessa de um amanhã que parece nunca chegar.
Em “A Simetria Azul”, M. P. Garnet descreve uma revolução desse tipo, uma revolução que nunca termina. Garnet descreve um mundo em que a revolução se tornou perpétua, uma corrida sem linha de chegada. A revolução descrita por M. P. Garnet se reinventa a cada etapa, criando sempre um novo objetivo a ser alcançado, uma nova injustiça a ser corrigida, um novo inimigo a ser eliminado. Cada nova fase, que deveria representar uma vitória definitiva, é apenas mais um degrau rumo a um objetivo que se afasta constantemente. Em “A Simetria Azul”, a simetrização da sociedade leva ao completo apagamento das individualidades. Primeiro, padronizam as aparências físicas, depois eliminam o caráter, até que a própria capacidade de pensamento independente se torna uma ameaça ao sistema. Esse é o desfecho inevitável de qualquer revolução que se coloca como eterna.
Quando estava lendo “A Simetria Azul” e me deparei com a revolução descrita nessa ficção escrita por M. P. Garnet, foi inevitável não traçar um paralelo com a realidade, trazendo a memória a história das “revoluções” da história de nossa sociedade. Revoluções essas que, quando se pensa que finalmente chegaram ao destino, descobre-se que a linha de chegada foi movida para mais longe. Dessa forma, a revolução que deveria ser um meio para alcançar um ideal, torna-se um fim em si mesma. É inevitável não perceber que a história contada por Marcelo Garnet encontra ecos na história real.
Particularmente, os aspectos descritos por M. P. Garnet em sua revolução fictícia, me fizeram pensar, imediatamente, na revolução comunista, que, como apontado por Trótski em “A Revolução Permanente”, jamais pode se dar por concluída.
Em “A Revolução Permanente”, Leon Trótski defende a ideia de que uma revolução não pode se encerrar após a tomada do poder. Segundo Trótski, a luta deve continuar indefinidamente, pois a revolução, se interrompida, regride. E aqui encontramos um paralelo com a revolução descrita por Garnet: uma revolução que nunca se define, que nunca sabe exatamente quando atingiu seus objetivos. Trótski acreditava que uma revolução nunca poderia se limitar a um único país nem se padronizar em um sistema fixo. Para ele, qualquer pausa significava retrocesso. Assim, o processo revolucionário deveria ser contínuo, sempre avançando, sempre buscando uma nova etapa. O problema dessa lógica é claro: se a revolução nunca pode se dar por satisfeita, significa que ela nunca pode consolidar em nada. Não há um momento em que se diga "chegamos lá". Sempre haverá mais uma "necessidade histórica", mais um obstáculo a ser removido, mais uma “purificação” a ser feita.
O problema desse tipo de revolução é que, se uma revolução não tem um fim, se ela nunca se completa, o que impede que ela se transforme em um mecanismo de dominação permanente, justificando repressões e medidas cada vez mais extremas?
A história já nos mostrou que muitas revoluções, em vez de libertar, acabam criando novas formas de tirania. O comunismo, por exemplo, que prometia igualdade e justiça, deu origem a regimes que se perpetuaram na promessa de um "amanhã melhor" que nunca chegava. Sempre havia mais um inimigo a eliminar, mais um problema estrutural a corrigir, mais uma "fase necessária" a suportar. E enquanto os líderes revolucionários exigiam paciência e sacrifício, o povo, que deveria ser beneficiado, continuava a sofrer sob novas formas de opressão.
Os regimes comunistas seguiram essa lógica. Na União Soviética, depois da derrubada do czar, veio a perseguição aos mencheviques, depois o expurgo dos kulaks, depois a eliminação dos próprios revolucionários da primeira hora. Na China de Mao, após a revolução, veio o Grande Salto Adiante, depois a Revolução Cultural, e assim sucessivamente. Cada nova fase era apresentada como essencial, cada fase era justificada como um avanço. Mas no final, o que se tinha era um ciclo contínuo de destruição e repressão, onde a revolução consumia os próprios filhos. Quando não há um fim claro, qualquer elemento que ameace interromper o processo precisa ser erradicado. Assim foi nos regimes comunistas: a perseguição aos dissidentes nunca terminava, pois sempre havia o risco de "desvios ideológicos".
O problema dessas revoluções sem fim é que elas não sabem o que realmente querem, elas sabem apenas o que não querem. Elas se definem pela destruição do que existe, mas nunca conseguem construir algo sólido em seu lugar. Derrubam instituições, mas não oferecem nada que realmente funcione para substituí-las. A cada passo, prometem que a vitória está próxima, que é preciso mais um esforço, mais um sacrifício. Mas a verdade é que nunca há vitória definitiva, apenas novas exigências, novos alvos, novos inimigos a serem combatidos.
E assim, em nome da revolução, gerações inteiras são moldadas para acreditar que a luta nunca acaba, que a paz e a estabilidade são apenas ilusões, que o sacrifício de hoje trará o paraíso de amanhã. Mas o amanhã nunca chega. Ele está sempre um pouco mais à frente, sempre dependendo de mais uma mudança, mais uma reeducação, mais uma renúncia à individualidade. No final, a única coisa realmente permanente nessas revoluções não é a mudança, mas a servidão.
Como consequência, ao tentar destruir todas as diferenças e assimetrias, ela acaba criando um sistema onde apenas um pequeno grupo controla tudo. Em nome da igualdade absoluta, instaura-se um regime onde a elite do partido dita o que se pode pensar, falar e fazer. O comunismo, que prometia libertar os trabalhadores, terminou criando sociedades onde a opressão era ainda mais profunda, pois se disfarçava de "emancipação". A revolução se tornava um pretexto para manter a estrutura de poder em constante mobilização, garantindo que nunca fosse desafiada.
E assim, o ciclo se repete. Na ficção de A Simetria Azul, a revolução azul nunca acaba porque não pode acabar. Se acabar, o sistema se deslegitima. No mundo real, a Revolução Permanente de Trótski e a prática comunista seguiram o mesmo caminho. Quando a utopia se torna uma desculpa para o poder absoluto, a revolução se torna uma prisão sem chaves, onde a promessa de um futuro melhor serve apenas para justificar a miséria do presente.
*Wanderson R. Monteiro
Autor dos livros “Cosmovisão em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”, “Crônicas de Uma Sociedade em Crise”, “Atormentai os Meus Filhos”, e da série “Meditações de Um Lavrador”, composta por 7 livros.
Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia.
Acadêmico correspondente da FEBACLA. Acadêmico fundador da AHBLA. Acadêmico imortal da AINTE.
Autor de 10 livros.
Vencedor de 4 prêmios literários. Coautor de 15 livros e 4 revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)
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