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Opinião Sexta-feira, 11 de Abril de 2025, 12:14 - A | A

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Gastronomia inclusiva: uma evolução necessária

Por Monica Ruschel dos Reis*

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A gastronomia, em sua essência, sempre foi um reflexo da cultura e das necessidades humanas. Hoje, diante de um cenário global marcado pela diversidade alimentar, esta se transforma em um instrumento de inclusão. Não é apenas uma questão de modismos passageiros, trata-se de uma resposta urgente a demandas reais: alergias, intolerâncias, doenças crônicas e escolhas éticas, como o veganismo. Nesse contexto, a gastronomia inclusiva surge não somente como uma opção, mas também como um compromisso social — e seu sucesso depende da colaboração entre dois pilares fundamentais: nutricionistas e gastrônomos.

A realidade atual é incontestável. Segundo dados do Ministério da Saúde, 8% das crianças brasileiras possuem alergias alimentares, por sua vez, o vegetarianismo cresce 46% ao ano no país. Esses números não são estatísticas vazias, representam pessoas que buscam experiências gastronômicas seguras, nutritivas e, acima de tudo, saborosas. É aqui que a sinergia entre profissionais se torna indispensável. Enquanto o nutricionista traz o rigor científico — garantindo equilíbrio nutricional e substituições seguras —, o gastrônomo empresta sua criatividade para transformar limitações em oportunidades culinárias. Juntos, eles quebram paradigmas, provando que restrição não é sinônimo de privação.

Um exemplo prático dessa parceria está na adaptação de cardápios. Imagine, por exemplo, um cliente celíaco que deseja degustar um pão de queijo tradicional. Por meio da identificação de componentes problemáticos pelo(a) nutricionista, o chef de cozinha, com sua expertise em ingredientes e técnicas culinárias, pode reformular receitas, substituindo ingredientes restritos por alternativas adequadas, como farinhas sem glúten ou outros alérgenos. O resultado? Um prato inclusivo, sem abrir mão do prazer gastronômico. Esse mesmo processo se aplica a dietas low carb, veganas ou adaptadas para diabéticos, em que a substituição inteligente de ingredientes exige conhecimento técnico e inventividade.

A comunicação também é um pilar dessa revolução. Nutricionistas e gastrônomos precisam trabalhar além da sintonia entre si, assim como necessitam da conexão com o público. Cardápios claros, sinalização de alergênicos e treinamento de equipes são passos essenciais para construir confiança. Tecnologias como aplicativos de gestão de alergênicos e softwares de análise nutricional já são aliados nessa jornada, democratizando o acesso à informação.

Como docente de Gastronomia, testemunho diariamente o impacto dessa colaboração na formação dos futuros profissionais. Em nossas aulas, incentivamos projetos interdisciplinares em que estudantes de nutrição e gastronomia cocriam receitas. Recentemente, um grupo desenvolveu um brownie vegano sem glúten, usando farinha de arroz como base — uma solução que une saúde, sustentabilidade e sabor. Essas iniciativas mostram que a educação é a semente para uma gastronomia mais humana e acolhedora.

O futuro da gastronomia inclusiva depende de romper barreiras entre saberes. Não basta substituir ingredientes, é preciso reinventar a forma como enxergamos a alimentação. Quando nutricionistas e gastrônomos unem forças, eles não apenas ampliam o leque de opções para quem tem restrições, mas elevam toda a cadeia produtiva. Pratos ganham novos significados e o ato de comer se torna um gesto de respeito à diversidade.

A gastronomia inclusiva não é um nicho — é um movimento que reflete os anseios de uma sociedade plural. Sua divulgação inspira outros profissionais, empodera consumidores e acelera mudanças necessárias. Afinal, em um mundo em que a comida ainda divide, é nossa responsabilidade transformá-la em ponte.


*Monica Ruschel dos Reis
Professora de Gastronomia na UNIASSELVI

 

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