Especial de Aniversário de 115 anos de Campo Grande.
No final do século 19, por conta do rápido processo de modernização do Japão, a imigração japonesa para o Brasil aconteceu em massa. Tal período ficou conhecido historicamente como Revolução Meiji.
O imperador Meiji instaurou um governo monárquico e centralizador, fazendo com a industrialização chegasse rápido ao país. Dessa forma, os japoneses começaram a vivenciar grandes oportunidades de vida e trabalho, o que favoreceu que a população aumentasse de forma drástica.
A imigração deu-se inicialmente com objetivos militares, e logo depois, como forma de combater a “superpopulação”. Nesse contexto, o governo criou um sistema de convênio com países do exterior para que os cidadãos japoneses trabalhassem nesses países por certo espaço de tempo.
Os grupos de imigrantes eram, em sua maioria, trabalhadores pobres da região da Okinawa, que mais tarde, seriam os fundadores da maior colônia japonesa em Campo Grande.
Em 1090, a notícia sobre a construção da ferrovia Noroeste do Brasil (NOB) deu nova oportunidade aos imigrantes japoneses. Assim vários grupos juntaram-se e, após a conclusão da ferrovia, decidiram se instalar em Campo Grande.
Vários podem ter sido os motivos que levaram os imigrantes japoneses optarem pela cidade morena. Um deles é que Campo Grande, antes mesmo da construção da ferrovia, já possui um otimismo em relação ao futuro que a cidade tomaria. Segundo relatos a população de Campo Grande estava animada com a ferrovia que ligaria a cidade ao “mundo civilizado”.
Tempos depois, os japoneses decidiram se firmar em Campo Grande, e aqui, começar uma nova vida. Uma das primeiras iniciativas da comunidade nipônica foi a participação na primeira feira livre da Capital, criada em 1924, pelo entendente municipal Arnaldo Estevão de Figueiredo.
Ferrovia Noroeste Brasil impulsionou a imigração japonesa
Foto: Arquivo pessoal Celso Higa
Com isso, os tempos passaram e a culinária japonesa se consolidou no Estado de Mato Grosso do Sul. Um dos eventos mais populares do calendário da capital é o Festival do Sobá, que acontece todos os anos na Feira Central.
Para quem não sabe o prato típico japonês, é feito com macarrão de trigo sarraceno, molho de carne suína ou bovina com a carne frita por cima, omelete em tiras e cebolinha, tudo regado com molho de soja e gengibre.
O festival, que acontece de forma ininterrupta há 30 anos, serve também o tradicional sushi, feito com alga, arroz japonês e variados tipos de peixes e legumes.
De acordo com informações da Associação Okinawa de Campo Grande o começo da imigração foi um momento difícil, pois os japoneses tiveram que enfrentar inúmeras dificuldades. Mesmo assim eles superaram os problemas e estabeleceram em Campo Grande uma das maiores colônias nipônicas do país.
Segundo o pesquisador Celso Higa uma importante contribuição dos imigrantes japoneses foi a introdução de hábitos alimentares que não existiam no Brasil. Foram eles que trouxeram a soja, o shoyu e algumas variedades de hortaliças para a culinária brasileira. Dessa forma, tais imigrantes ajudaram a culinária local a se tornar mais saudável com suas receitas centenárias.
Mário Kohatsu é neto de imigrantes japoneses e conta que os avós chegaram ao Brasil em 1950. “Inicialmente eles vieram para a Bolívia e depois por conta dos salários serem melhor aqui eles vieram para o Brasil”, conta.
Segundo relatos a imigração para Campo Grande foi acidental, visto que, os japoneses estavam indo para o Estado de São Paulo, mas ao passar pela região, até então Mato Grosso, encontraram uma situação favorável e resolveram ficar.
Kohatsu disse ainda que os avós decidiram se instalar na região porque receberam pequenos lotes de terra e com isso, começaram a se estabelecer financeiramente plantando hortaliças e criando pequenos animais.
O estudioso Celso Higa, conta que seus avós vieram para o Brasil para trabalhar nas fazendas de café, em 1917. Depois acabaram vindo para Campo Grande.
Sobre as pesquisas na sobre a colônia japonesa, Higa disse que está trabalhando nos estudos documentais. E afirmou ainda, “os japoneses aparecem nos documentos oficiais Morrendo. Quando ele morre, ele passa a ter raízes aqui, isso serve até para fazer a árvore genealógica da família. Daí é possível obter informações da família dele. Mas isso é só base, pois ainda tem a história das famílias, é uma base para consulta”.
Bon Odori
Para marcar as comemorações do Centenário da Imigração Japonesa na Capital de Mato Grosso do Sul, a colônia realiza a tradicional festa do “Bon Odori”, que já está em sua 30ª Edição.
A festa, originária do Budismo, tem em sua essência agradecer pela boa colheita e pela fertilidade, além da gratidão, a celebração das almas dos antepassados é feita por meio da dança realizada pelos vivos e por quem está celebrandoe dos tambores japoneses do Taiko.
Celso Higa explica que realizar rituais para homenagear os antepassados é uma característica forte das famílias japonesas, mas que o costume se perdeu ao longo dos anos. Sendo assim, o Bon Odori tenta manter essa tradição em evidencia para as novas gerações.
Para o presidente da Associação Nipo de Campo Grande, Acelino Sinjó Nakasato, a festa é uma oportunidade de conhecer mais sobre a cultura japonesa. “Estamos ansiosos para receber o público na festa”, declarou.
A dança consiste em movimentos delicados e simples com cinco gestos básicos: colher, ceifar, semear, agradecer e festejar. Criado há 30 anos pelos imigrantes japoneses da Capital, a festa encanta os descendentes de japoneses e principalmente os brasileiros, que durante os três dias de festa lotam a sede da Nipo Campo, somando um público com mais de 10 mil pessoas.
O Centenário da Imigração Japonesa é comemorado com várias festas
Foto: Márcio Lima Inácio/Foto cedida