Nesta semana o Governo de Mato Grosso do Sul informou que recebeu com mais R$ 137,6 milhões para as ações de prevenção e combate aos incêndios florestais que atingem o bioma. Durante uma transmissão ao vivo pela internet, com atualização de dados sobre o combate ao fogo, foi informado que não há nenhum incêndio florestal ativo no Pantanal, no entanto alguns focos de incêndio voltaram a aparecer.
Os incêndios no bioma começaram muito antes do previsto este ano. De acordo com dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA-UFRJ) do dia 1º a 30 de junho, a área queimada no Pantanal chegou a 407,1 mil hectares.
Os dados mostram também que o bioma devastado equivale a 9 campos de futebol queimado por minuto. Ainda conforme o Lasa, no mês de junho foram queimadas mais de 13,5 mil hectares de vegetação por dia, 565,3 hectares por hora, o que representa 9,4 hectares por minuto.
Conforme boletim divulgado pelo Governo do Estado, a Operação Pantanal 2024 já contou com a atuação de 516 bombeiros militares de Mato Grosso do Sul, fora a mobilização do Ibama, ICMbio, PrevFogo, Força Nacional e Forças Armadas, com mais de 400 integrantes se revezando no combate.
Além disso, os esforços contam com 11 aeronaves de combate ao fogo, incluindo aviões modelo Air Tractors e helicópteros estaduais e federais, e o cargueiro KC-390 da Força Aérea. A estrutura ainda conta com 39 veículos, entre caminhonetes, caminhões e lanchas, usados conforme a demanda diária e planejamento logístico da operação.
O Capital News conversou com um dos militares que trabalharam na linha de frente do combate ao fogo, o bombeiro Rahifi Daniel Reis Chaves. Profissional na área há 8 anos conta que esta foi a terceira vez que atuou na proteção do Pantanal.
Acervo Pessoal
Bombeiro Rahifi Daniel Reis Chaves, profissional na área há 8 anos. E Bombeiro durante Operação Rio Grande do Sul
É muito triste ver o Pantanal queimar
“O pantanal é um bioma que tenho uma paixão muito grande, já vi várias vezes onças. Certa vez, uma delas fugiu da guarnição, estava com a pata queimada. É muito triste ver o Pantanal queimar, os jacarés procurando se esconder, animais fugindo do fogo e a vegetação se acabando em chamas”, resume.
Especialista em incêndios florestais, o jovem de 33 anos conta que buscou conhecimentos na área para poder atuar de forma estratégica. “Foi um dos motivos que me fizeram fazer o curso, doar um pouco mais de mim e minimizar os impactos”, frisa.
Ele conta que em campo, as equipes são divididas em guarnições, segundo ele, são várias bases avançadas espalhadas no Pantanal e cada uma fica responsável por uma região. Cada grupo atua durante 16 dias manhã, tarde e noite, “é avaliado tempo, velocidade do vento entre outras questões para agir”, acrescenta.
Embora esse ano o acesso à comunicação, uso de aplicativos para saber a velocidade do vento, umidade relativa do ar, entre outras coisas, tenha evoluído, para ele, ainda existem muitos desafios. Ele relata que entre os principais na missão no combate ao fogo no Pantanal, estão as dificuldades de locomoção e acesso aos focos de incêndio.
Ele conta que o bioma é grande e cheio de particularidades que por vezes fazem as viaturas pararam e as equipes ficarem sem apoio e comunicação durante horas. Além disso, ele comenta que a escassez de água potável e alimentação também são desafiadoras, além, claro, salienta o militar, de ficar longe da família. “Quem se especializa arruma mais serviço”, brinca.
Impossível voltar para casa do mesmo jeito. Ver pessoas que perderam tudo ajudando outras
Embora essa jornada seja árdua, o jovem bombeiro afirma que ama o que faz. Ele enfatiza que o trabalho o possibilitou participar de missões que mudaram a forma de enxergar o mundo. Uma delas foi a das enchentes, no Rio Grande do Sul. “Impossível voltar para casa do mesmo jeito. Ver pessoas que perderam tudo ajudando outras. Dar um abraço, coisas simples que valem muito”, resume.
O bombeiro conta que entrou na profissão por causa do pai, ele cresceu no quartel vendo o trabalho dele e se apaixonou pela missão de salvar vidas. Natural de Campo Grande, começou sua carreira no interior de Mato Grosso do Sul, em Aparecida do Taboado.
Na cidade, trabalhou durante quase seis anos fazendo de tudo, experiência importante para adquirir conhecimento. Agora atua em Ribas do Rio Pardo, município há 97 quilômetros de Campo Grande, o que ajuda a matar a saudade da família.
Vidas precisam de você e se você não estiver preparado uma vida pode se perder nas suas mãos e eu não sei se conseguiria viver com esse peso
Quando pergunto o que é ser bombeiro para ele, Rahifi resume em poucas palavras. “É uma responsabilidade muito grande. Eu tenho que ser uma pessoa melhor todos os dias. Estudar, treinar, me especializar. Vidas precisam de você e se você não estiver preparado uma vida pode se perder nas suas mãos e eu não sei se conseguiria viver com esse peso”, finaliza.