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2024 Quarta-feira, 01 de Janeiro de 2025, 09:30 - A | A

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Retrospectiva 2024

Desafios e conquistas que marcaram Mato Grosso do Sul

De protestos indígenas a soluções emergenciais: um olhar sobre as crises enfrentadas e superadas neste ano

Vivianne Nunes
Capital News

Retrospectiva 2024

Clara Medeiros/Dourados News

Bloqueio da BR-156

O protesto é motivado pela crise de abastecimento de água que afeta as comunidades há mais de cinco anos

A crise de abastecimento de água nas aldeias Jaguapiru e Bororó, localizadas na Reserva Indígena de Dourados, foi um dos episódios mais marcantes de 2024 em Mato Grosso do Sul. Durante cinco dias, a rodovia MS-156 foi palco de intensos protestos, onde indígenas expressaram sua indignação diante da falta de ações concretas para resolver o problema da escassez de água, que persiste há mais de cinco anos.

No dia 25 de novembro, a interdição da rodovia trouxe visibilidade para uma demanda urgente: o fornecimento contínuo de água para as comunidades. O capitão Ramão Fernandes, um dos líderes do movimento, destacou que a perfuração de poços artesianos seria a única solução definitiva. "Estamos cansados de promessas vazias. Queremos um compromisso formalizado", afirmou, em tom de resistência e esperança.

A escalada da tensão e o uso da força policial

Dourados News

Confronto entre policiais e indígenas deixa 15 feridos e agrava crise na MS-156

Protesto por falta de água nas aldeias de Dourados leva a confrontos e agrava a situação na rodovia MS-156

À medida que os dias avançaram, o protesto adquiriu contornos mais tensos. No dia 27, o Batalhão de Choque da Polícia Militar foi acionado para cumprir uma ordem judicial que determinava o desbloqueio das rodovias. O confronto resultou em 15 feridos, incluindo dois indígenas hospitalizados. A ação policial, marcada pelo uso de balas de borracha e bombas de efeito moral, dividiu opiniões e gerou debates sobre os limites entre cumprimento da lei e respeito aos direitos humanos.

As autoridades estaduais defenderam a atuação da polícia, alegando esgotamento das vias de negociação e necessidade de garantir o direito de ir e vir da população. No entanto, os líderes indígenas denunciaram o que consideraram uma abordagem desproporcional, pedindo uma solução pacífica e definitiva para a questão da água.

Protestos revelam problemas estruturais e desafios políticos

Além do problema imediato do abastecimento, os episódios na MS-156 trouxeram à tona questões mais amplas, como o descaso histórico com as comunidades indígenas e a falta de políticas públicas eficazes. A tentativa de negociação entre as lideranças indígenas e o governo estadual, embora promissora, ainda não resultou em medidas concretas que satisfaçam as demandas da população.

O governador Eduardo Riedel enfatizou a importância de evitar manipulações políticas no contexto das comunidades indígenas. Contudo, a complexidade do cenário demanda mais do que discursos: ações imediatas e compromissos de longo prazo são fundamentais para evitar que episódios como esses se repitam.

Uma lição de resistência e urgência por mudanças

Os protestos de 2024 na MS-156 vão além de um simples bloqueio de rodovias. Eles simbolizam a luta de um povo por dignidade, respeito e acesso a direitos básicos. Ao mesmo tempo, expõem a necessidade de um olhar mais atento e humano por parte das autoridades, para que crises como esta não sejam apenas enfrentadas, mas solucionadas de forma definitiva.

Enquanto o ano chega ao fim, o que permanece é a esperança de que as vozes indígenas sejam ouvidas e que as promessas feitas durante os dias de conflito se transformem em ações concretas, trazendo alívio e justiça para as comunidades de Mato Grosso do Sul.

Acordo histórico traz fim ao bloqueio da MS-156

A luta por acesso a água potável marcou o cenário de Mato Grosso do Sul em 2024, culminando em um acordo histórico entre as comunidades indígenas das aldeias Bororó e Jaguapiru e os governos estadual e federal. Após quatro dias de protestos intensos e bloqueio total da rodovia MS-156, a via foi liberada nesta quinta-feira (28/11), graças a uma negociação bem-sucedida mediada pelo Ministério Público Federal (MPF).

Em uma reunião híbrida realizada na sede da Procuradoria da República em Dourados, lideranças indígenas e representantes das esferas governamentais firmaram um compromisso para solucionar a crise hídrica que afeta a região há mais de 20 anos. O principal ponto do acordo prevê a construção de dois poços artesianos, com entrega prometida para março de 2025, além de medidas emergenciais, como o envio contínuo de caminhões-pipa para suprir as necessidades das comunidades.

Governos se unem para solucionar problema histórico

Agência de Notícias

Após ação conjunta, governo de MS resolve crise hídrica na reserva indígena de Dourados

Entre as soluções adotadas estão a construção de novos poços para captação de água potável e o fornecimento de caminhões pipas

O Governo de Mato Grosso do Sul, em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e autoridades locais, anunciou a instalação de "superpoços" para atender a uma demanda que há décadas impacta as aldeias. "Estamos resolvendo um problema estrutural. Não há distinção entre cidadãos municipais, estaduais ou federais. Todos são sul-mato-grossenses, e é nosso dever trabalhar juntos por uma solução definitiva", afirmou Viviane Luiza, secretária estadual de Cidadania.

O projeto representa um investimento de R$ 490 mil e reflete a união de esforços entre o governo estadual, que se comprometeu com as obras, e o federal, responsável pelo financiamento adicional e suporte técnico. "É um marco importante que mostra a força da articulação entre os diferentes níveis de governo e a sensibilidade para atender as necessidades das comunidades indígenas", destacou Marco Antônio Delfino de Almeida, procurador do MPF.

Esperança e vigilância por parte das lideranças indígenas

Enquanto o acordo traz alívio imediato, líderes indígenas destacaram a importância de manter o compromisso. O capitão Ramão Fernandes, porta-voz do movimento, celebrou a negociação, mas ressaltou a necessidade de acompanhar de perto a implementação das promessas. "Foi uma vitória para todos nós, mas seguiremos vigilantes para que as obras sejam concluídas no prazo e o abastecimento provisório seja mantido", afirmou.

Reflexos e aprendizados para o futuro

Os protestos e a resolução da crise hídrica em Dourados não apenas evidenciaram a urgência de ações voltadas para as comunidades indígenas, mas também mostraram como o diálogo e a articulação intergovernamental podem ser ferramentas poderosas para superar desafios históricos.

A previsão de entrega dos poços artesianos para março de 2025 é um passo importante, mas também um lembrete de que a luta pelo acesso a direitos básicos deve ser contínua. O desfecho desta crise deixa um aprendizado significativo: soluções estruturais exigem planejamento, investimento e, acima de tudo, respeito às vozes daqueles que mais precisam ser ouvidos.

• Saiba mais sobre o protesto indígena na rodovia MS-156

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