Clara Medeiros/Dourados News
O protesto é motivado pela crise de abastecimento de água que afeta as comunidades há mais de cinco anos
A crise de abastecimento de água nas aldeias Jaguapiru e Bororó, localizadas na Reserva Indígena de Dourados, foi um dos episódios mais marcantes de 2024 em Mato Grosso do Sul. Durante cinco dias, a rodovia MS-156 foi palco de intensos protestos, onde indígenas expressaram sua indignação diante da falta de ações concretas para resolver o problema da escassez de água, que persiste há mais de cinco anos.
No dia 25 de novembro, a interdição da rodovia trouxe visibilidade para uma demanda urgente: o fornecimento contínuo de água para as comunidades. O capitão Ramão Fernandes, um dos líderes do movimento, destacou que a perfuração de poços artesianos seria a única solução definitiva. "Estamos cansados de promessas vazias. Queremos um compromisso formalizado", afirmou, em tom de resistência e esperança.
A escalada da tensão e o uso da força policial
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Protesto por falta de água nas aldeias de Dourados leva a confrontos e agrava a situação na rodovia MS-156
À medida que os dias avançaram, o protesto adquiriu contornos mais tensos. No dia 27, o Batalhão de Choque da Polícia Militar foi acionado para cumprir uma ordem judicial que determinava o desbloqueio das rodovias. O confronto resultou em 15 feridos, incluindo dois indígenas hospitalizados. A ação policial, marcada pelo uso de balas de borracha e bombas de efeito moral, dividiu opiniões e gerou debates sobre os limites entre cumprimento da lei e respeito aos direitos humanos.
As autoridades estaduais defenderam a atuação da polícia, alegando esgotamento das vias de negociação e necessidade de garantir o direito de ir e vir da população. No entanto, os líderes indígenas denunciaram o que consideraram uma abordagem desproporcional, pedindo uma solução pacífica e definitiva para a questão da água.
Protestos revelam problemas estruturais e desafios políticos
Além do problema imediato do abastecimento, os episódios na MS-156 trouxeram à tona questões mais amplas, como o descaso histórico com as comunidades indígenas e a falta de políticas públicas eficazes. A tentativa de negociação entre as lideranças indígenas e o governo estadual, embora promissora, ainda não resultou em medidas concretas que satisfaçam as demandas da população.
O governador Eduardo Riedel enfatizou a importância de evitar manipulações políticas no contexto das comunidades indígenas. Contudo, a complexidade do cenário demanda mais do que discursos: ações imediatas e compromissos de longo prazo são fundamentais para evitar que episódios como esses se repitam.
Uma lição de resistência e urgência por mudanças
Os protestos de 2024 na MS-156 vão além de um simples bloqueio de rodovias. Eles simbolizam a luta de um povo por dignidade, respeito e acesso a direitos básicos. Ao mesmo tempo, expõem a necessidade de um olhar mais atento e humano por parte das autoridades, para que crises como esta não sejam apenas enfrentadas, mas solucionadas de forma definitiva.
Enquanto o ano chega ao fim, o que permanece é a esperança de que as vozes indígenas sejam ouvidas e que as promessas feitas durante os dias de conflito se transformem em ações concretas, trazendo alívio e justiça para as comunidades de Mato Grosso do Sul.
Acordo histórico traz fim ao bloqueio da MS-156
A luta por acesso a água potável marcou o cenário de Mato Grosso do Sul em 2024, culminando em um acordo histórico entre as comunidades indígenas das aldeias Bororó e Jaguapiru e os governos estadual e federal. Após quatro dias de protestos intensos e bloqueio total da rodovia MS-156, a via foi liberada nesta quinta-feira (28/11), graças a uma negociação bem-sucedida mediada pelo Ministério Público Federal (MPF).
Em uma reunião híbrida realizada na sede da Procuradoria da República em Dourados, lideranças indígenas e representantes das esferas governamentais firmaram um compromisso para solucionar a crise hídrica que afeta a região há mais de 20 anos. O principal ponto do acordo prevê a construção de dois poços artesianos, com entrega prometida para março de 2025, além de medidas emergenciais, como o envio contínuo de caminhões-pipa para suprir as necessidades das comunidades.
Governos se unem para solucionar problema histórico
Agência de Notícias
Entre as soluções adotadas estão a construção de novos poços para captação de água potável e o fornecimento de caminhões pipas
O Governo de Mato Grosso do Sul, em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e autoridades locais, anunciou a instalação de "superpoços" para atender a uma demanda que há décadas impacta as aldeias. "Estamos resolvendo um problema estrutural. Não há distinção entre cidadãos municipais, estaduais ou federais. Todos são sul-mato-grossenses, e é nosso dever trabalhar juntos por uma solução definitiva", afirmou Viviane Luiza, secretária estadual de Cidadania.
O projeto representa um investimento de R$ 490 mil e reflete a união de esforços entre o governo estadual, que se comprometeu com as obras, e o federal, responsável pelo financiamento adicional e suporte técnico. "É um marco importante que mostra a força da articulação entre os diferentes níveis de governo e a sensibilidade para atender as necessidades das comunidades indígenas", destacou Marco Antônio Delfino de Almeida, procurador do MPF.
Esperança e vigilância por parte das lideranças indígenas
Enquanto o acordo traz alívio imediato, líderes indígenas destacaram a importância de manter o compromisso. O capitão Ramão Fernandes, porta-voz do movimento, celebrou a negociação, mas ressaltou a necessidade de acompanhar de perto a implementação das promessas. "Foi uma vitória para todos nós, mas seguiremos vigilantes para que as obras sejam concluídas no prazo e o abastecimento provisório seja mantido", afirmou.
Reflexos e aprendizados para o futuro
Os protestos e a resolução da crise hídrica em Dourados não apenas evidenciaram a urgência de ações voltadas para as comunidades indígenas, mas também mostraram como o diálogo e a articulação intergovernamental podem ser ferramentas poderosas para superar desafios históricos.
A previsão de entrega dos poços artesianos para março de 2025 é um passo importante, mas também um lembrete de que a luta pelo acesso a direitos básicos deve ser contínua. O desfecho desta crise deixa um aprendizado significativo: soluções estruturais exigem planejamento, investimento e, acima de tudo, respeito às vozes daqueles que mais precisam ser ouvidos.