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Rural Terça-feira, 31 de Março de 2009, 18:43 - A | A

Terça-feira, 31 de Março de 2009, 18h:43 - A | A

Kátia Abreu: “Estamos levando a CNA para o interior do Brasil”

Da Redação

Aproximação das entidades do Sistema CNA/SENAR com a sociedade brasileira, por meio das lideranças nos Estados, para mostrar as ações realizadas em favor da agropecuária brasileira. Este é o objetivo do programa CNA em Campo, lançado no sábado (28/3), em Campo Grande (MS), pela presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Conselho Deliberativo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), senadora Kátia Abreu. “Queremos conversar com o produtor, ouvir os problemas enfrentados pela base e apresentar os projetos e ações da entidade. Estamos levando a CNA para o interior do Brasil, pois nestes encontros mostramos as possibilidades e as dificuldades que estamos passando na agricultura”, enfatizou.

Uma destas dificuldades, abordada pela senadora na capital de Mato Grosso do Sul, foi a restrição de crédito para a agricultura, o que pode comprometer a safra 2009/2010. Em entrevista na chegada a Campo Grande, Kátia Abreu estimou uma redução de 8% a 10% da próxima safra em razão do nível de endividamento do produtor e da escassez de recursos privados. Segundo ela, o financiamento oficial corresponde a um terço do volume total destinado à lavoura. Ela explicou que, como muitos produtores prorrogaram suas parcelas de dívidas, estão com limite de endividamento comprometido e 70% deles devem ter dificuldades em ter acesso ao crédito oficial.

Outra questão que tem preocupado a senadora é a retração dos financiamentos das exportadoras, fornecedores de insumos e multinacionais, em função da crise econômica mundial. “A pergunta no momento é quem financiará a safra 2009/2010?”, afirmou. Kátia Abreu disse que o tema merece atenção porque a queda de produção pode trazer dois grandes problemas: o encarecimento do preço de alimentos à população e desemprego no campo. Ela lembrou que hoje 80% dos municípios brasileiros são dependentes do setor agropecuário.

Prêmio FAMASUL de Jornalismo

O primeiro compromisso da presidente da CNA em Campo Grande foi a solenidade de entrega do Prêmio FAMASUL de Jornalismo, da qual participaram o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (FAMASUL) e Vice-Presidente de Finanças da CNA, Ademar Silva Júnior. Kátia Abreu destacou a importância da imprensa para o setor rural e explicou que a mídia é fundamental para levar a verdade à sociedade e acabar com preconceitos sobre a classe.

“A retratação da realidade no campo pelos veículos de comunicação proporciona a correção de distorção e injustiça que persiste ao longo de décadas”, frisou. A agropecuária passou por profundas mudanças nas últimas décadas e é preciso acompanhar e conhecer essa realidade. O setor responde por um terço do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, vem se sobressaindo na utilização de novas tecnologias e obtém desempenhos cada vez melhores. É o único setor superavitário na balança comercial, completou a presidente da CNA.

Já o presidente da FAMASUL, Ademar Silva Júnior, elogiou os trabalhos inscritos no prêmio, destacando que a imprensa é indispensável para mudar a visão estereotipada do produtor rural. Ele lembrou que o trabalhador rural também precisa trabalhar para mudar este conceito e se aproximar da mídia. Para ele, matérias como as apresentadas pelos jornalistas participantes do prêmio dão importantes contribuições para mostrar com fidelidade o campo e o produtor rural.

Vencedores – Na categoria mídia impressa, o jornalista Ariosto Mesquista, da revista Panorama Rural, levou o prêmio com a matéria “Ambulância e Jeep do Pantanal”. Beatriz Arcoverde, da Rádio Brasil, venceu com a matéria “O Biodigestor Revoluciona a Suinocultura”. Na categoria website, o jornalista Anderson Viegas, do Canal da Cana, recebeu a premiação com a matéria “Iaco de Chapadão do Sul investe no controle biológico da broca da cana-de-açúcar". O prêmio de televisão ficou com a jornalista Juliana Lanari, da MS Record, pela reportagem “Cooperativa/Avicultura”. Ela também foi a vencedora do Prêmio Máster. Na categoria acadêmico, levaram a premiação as estudantes Katiane Arce, Flávia Silva, Isabela Carrato e Graziela Rezende, da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), com o trabalho “Fascículo Rural”.

Problemas do setor

Após a solenidade de premiação, Kátia Abreu concedeu entrevista coletiva à imprensa. Um dos temas abordados foi a crise dos frigoríficos. Ela informou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou uma carta de crédito de R$ 200 milhões para análise do Banco do Brasil, que definirá as condições para a realização de empréstimo ao Frigorífico Independência, que passa por dificuldades financeiras. Segundo ela, estes recursos seriam usados para pagar as dívidas contraídas com os pecuaristas pelo fornecimento de bois para o abate.

Kátia Abreu também defendeu a utilização de créditos tributários para pagamento dos débitos das indústrias aos produtores, proposta apresentada por ela na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado (CRA) há duas semanas. Segundo ela, só os créditos com a União somam R$ 149 milhões. Ela lembrou que o setor sofre muito com a crise devido à queda de exportações. “Um grande mercado que retraiu as compras foi a Rússia”, citou.

A senadora falou sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à demarcação contínua na reserva de Raposa Serra do Sol, em Roraima. Para ela, as ressalvas vêm para corroborar o que já era previsto e destacou o entendimento que ficou claro entre os magistrados, sobre o marco temporal, ou seja, só existe o fato indígena datado até 5 de outubro de 1988. “Após isso a alegação de existência de aldeias cai por terra”, explicou. Sobre o decreto da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) que propõe a ampliação de reservas indígenas, a senadora foi categórica e afirmou que o processo de demarcação a partir dele “seria uma irresponsabilidade”. No entanto, ela ressaltou que acredita na Justiça brasileira e que isso não vá acontecer.

Questionada, ainda, sobre o cumprimento da legislação trabalhista, Kátia Abreu disse que apenas uma minoria descumpre as regras e que a CNA lançará o programa “Mãos que trabalham”, que vai percorrer propriedades rurais em parceria com fiscais aposentados do Ministério do Trabalho. Ela informou também que a intenção da entidade é implantar um Certificado Social de Cumprimento à Legislação Trabalhista. Outra iniciativa defendida pela Confederação destacada pela senadora é o Planejamento da Defesa Animal, não somente para abrir novos mercados, mas para assegurar qualidade aos produtos agropecuários. “Nosso cliente mais precioso é a nossa sociedade”, justificou.

Encontro com lideranças

Após a entrevista coletiva, Kátia Abreu teve almoço com diversas autoridades de Mato Grosso do Sul. Participaram do encontro o governador do Estado, André Puccinelli, o vice-governador de MS, Murilo Zauith, o prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad, a secretária de Produção, Teresa Cristina Correa da Costa, e o senador Valter Pereira (PSDB), presidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado. Também estiveram presentes os deputados federais Waldemir Moka (PMDB) e Dagoberto (PDT), o superintendente federal de Agricultura, Orlando Baez, além dos deputados estaduais Zé Teixeira (DEM), Júnior Mochi (PMDB).

Invasões

Em visita ao Ministério Público Estadual (MPE) de Mato Grosso do Sul, onde se reuniu com o procurador-geral, Miguel Vieira, Kátia Abreu falou sobre a preocupação com as “invasões à caneta”, o que ela considerou a modalidade mais recente de ameaça ao patrimônio privado. “Disfarçadas de bandeiras sociais, estas invasões se dão literalmente por assinaturas de portarias e outras medidas expropriatórias”, argumentou a senadora, acompanhada pelo presidente da FAMASUL, Ademar Silva Júnior, e pelo vice-presidente, Eduardo Riedel. Entre as medidas, ela citou as regras para titulação de terras na faixa de fronteira. “É uma forma de expropriação tão grave quanto a questão indígena”, comentou.

O procurador-geral do MPE deixou clara sua preocupação quanto à questão indígena em Mato Grosso do Sul e lembrou o descumprimento, pela FUNAI, de acordo firmado com o próprio Ministério Público do Estado, no qual se comprometeu a esperar manifestações de entes envolvidos e da classe política após dar início às ações para demarcações. “Ele assinou, porque eu estava lá”, revelou o procurador. Dias depois, o presidente do órgão, Márcio Meira, publicou novas portarias para demarcação de áreas indígenas. Miguel Vieira disse, ainda, que questões como demarcações não poderiam estar sendo conduzidas apenas por uma Fundação, por meio de portaria, e o processo deveria ser determinado por Lei, através do Senado. Ele lembrou que, do contrário, o processo fere o pacto federativo. “A área pretendida pela Funai abrange um terço do território sul-mato-grossense. A população dos municípios envolvidos está preocupada”, afirmou o procurador.

Meio Ambiente

A legislação ambiental também esteve na pauta do encontro no MPE. A senadora expôs que o meio ambiente é uma causa da própria classe produtora, que depende dele para sustentabilidade de seus negócios. Kátia Abreu criticou a enxurrada de leis que são alteradas e colocam o produtor rural sempre em situação de ilegalidade, mesmo quando ele acaba de cumprir 100% das exigências. “Tivemos um decreto no ano passado que não dá possibilidade de ser cumprido e obriga das pessoas a ficarem na ilegalidade”, diz.

Segundo a presidente da CNA, se as regras ambientais forem integralmente cumpridas, apenas 33% do território nacional ficariam disponíveis para a produção rural. A presidente da CNA defendeu um molde racional de forma a contemplar grande corredores com rios, preservando a água, mata ciliar e biodiversidade. A questão também é tratada, já em estágio avançado, no Congresso Nacional. Ao final do encontro, a senadora ganhou do procurador-geral a estátua de um índio guaicuru.

Arquidiocese

Depois da visita ao MPE, Kátia Abreu e Ademar Silva Júnior estiveram na Arquediocese de Campo Grande, onde conversaram com o padre Roberto de Oliveira, ecônomo e arquediocesano, na Cúria Metropolitana. Participaram do encontro o padre José Marinoni e o coordenador da Pastoral Rural, Odailton Caetano, que apresentou ações desenvolvidas em assentamentos de Mato Grosso do Sul em parcerias com entidades como o Sebrae e SENAR. Outro tema tratado foi o estreitamento de parcerias através do programa SENAR + 100, iniciativa do Sistema CNA/SENAR que consiste na formação de alianças com 100 entidades não ligadas ao meio rural para trabalhar conjuntamente no desenvolvimento de projetos e na aproximação da instituição junto à sociedade.

Prêmio Empreendedor Rural

No fim da cerimônia de apresentação dos melhores projetos elaborados pelos participantes do Programa Empreendedor Rural (PER), o secretário-executivo do SENAR, Omar Hennemann, fez palestra aos mais de 400 participantes do evento. Em sua exposição, ele afirmou que trabalho, oportunidade, criatividade são as virtudes que levam ao sucesso profissional. Em seguida, Kátia Abreu falou sobre os programas desenvolvidos pelo SENAR e sobre a meta da Confederação em relação à sanidade animal e vegetal. Na sua avaliação, um dos pontos principais é determinar com exatidão o investimento necessário em sanidade. “Ninguém sabe quanto custa por cabeça de gado ou por planta”, explicou.

A senadora disse que os produtores precisam mudar de atitude. “Não quero mais ouvir a frase ‘o povo come porque eu produzo ou eu produzo para alimentar o povo’. O povo come porque trabalha e nós plantamos porque é nossa profissão, nossa vocação. Isso não pode virar moeda de troca. Não podemos cobrar pessoas que não nos devem”, alertou. Outra observação feita por ela foi relativa à criação ideológica de uma guerra de classes e de raças que não existe, como a questão dos assentados. Um exemplo é a questão dos assentados, que representam 80% dos atendidos pelo SENAR. “Nós somos contra a invasão e não contra assentados, que são produtores como nós”, disse Kátia Abreu.

O presidente da FAMASUL, Ademar Silva Junior, destacou a necessidade de mudança de comportamento dos produtores rurais. Ele apontou que é preciso investir em informação e também em atividades que tragam mais rentabilidade às fazendas. “É preciso observar que as propriedades rurais são empresas que precisam ser bem geridas. Quem não investir em gestão das propriedades, certamente, não conseguirá sobreviver”, afirmou.

O PER premiou 11 finalistas. O programa é desenvolvido desde 2007 pelo SENAR em parceria com a FAMASUL e Sebrae com intenção de desenvolver a visão empreendedora do produtor, levando-o à condição de empresário rural. O presidente da FAMASUL, Ademar Silva Júnior, reconheceu o empenho de toda a turma, que teve mais de 500 participantes nesta edição. “Não é fácil ficar 360 horas estudando e fazendo projetos”, disse. Porém, destacou, esse empenho é fundamental na busca pela capacidade de gestão, com visão inovadora. Ademar lembrou que o PER é uma iniciativa que vai de encontro com a necessidade do País, que busca produção eficiente, com qualidade, quantidade e bons preços.

Expogrande

Na manhã de ontem (29/3), a senadora Kátia Abreu proferiu palestra no Parque de Exposições Laucídio Coelho, em Campo Grande, durante a Expogrande. Ela destacou a coragem das mulheres que passaram a atuar ativamente no agronegócio deixando de ser coadjuvantes e passando ao papel de importantes protagonistas do agronegócio. Aos jovens, falou sobre a necessidade de se quebrar paradigmas. “Vocês não são o futuro do Brasil, vocês são o presente, a realidade”, destacou. Por isso, é necessário agir e construir desde já”, aconselhou. Outro ponto mencionado, que vem das próprias escolas, é a visão generalizada sobre os políticos e, por consequência, o afastamento destas questões. “Na política não existe vácuo. Se você não escolher um bom para ocupar a vaga, um mau político vai entrar”, avisou.

Para Kátia Abreu, o jovem precisa estar envolvido com as questões políticas, pois nos poderes Legislativo e Executivo é que são tomadas as medidas que dão rumo ao País. “Não estou dizendo que todos têm de ser candidatos, mas tem que ter um candidato e cobrar dele. A política abre possibilidades incríveis de mudança na sociedade”, explicou.

A senadora salientou que, com o programa CNA em Campo, trazido agora a Mato Grosso do Sul, a intenção é promover uma ruptura de conceitos, mostrando na realidade o que acontece no campo e o que pensa o produtor rural. Ela comparou o trabalho a uma catequização e disse que todos os produtores têm o dever de se envolver, seja por meio do seu sindicato ou de seu próprio círculo de convivência. (Fonte: Agência CNA)
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