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Rural Segunda-feira, 15 de Outubro de 2007, 10:50 - A | A

Segunda-feira, 15 de Outubro de 2007, 10h:50 - A | A

Qualidade da nossa carne bovina é indiscutível\", garante Stephanes

Valor Econômico

O ministro da agricultura Reinhold Stephanes, que amanhã (16-10), em Bruxelas, deve enfrentar questionamentos de parlamentares europeus em relação à sanidade da carne bovina brasileira, disse estar "totalmente confiante" de que a União Européia não vai embargar o produto. "Não há razão pra isso. A qualidade de nossa carne é indiscutível", afirmou o ministro no último sábado na Anuga, maior feira do setor de alimentos do mundo que acontece em Colônia (Alemanha).

Os parlamentares europeus estão sendo pressionados por pecuaristas da Irlanda e do Reino Unido para proibir a entrada da carne brasileira na UE sob a alegação de falhas no controle sanitário e na rastreabilidade do rebanho bovino do Brasil. Além dos parlamentares, o ministro vai se encontrar com o comissário de saúde da UE, Markos Kyprianou, que tem defendido a carne brasileira mas que, na semana passada, pressionado pelos parlamentares, disse que se os controles definidos pela UE não forem implementados até o fim do ano, haverá embargo.

Stephanes disse que vai mostrar aos deputados europeus que apóiam os irlandeses - seriam "28 entre 500 e poucos" - "a falta de apoio na realidade do discurso deles", já que não haveria justificativa técnica para o embargo. No encontro com Kyprianou, o ministro vai relatar as medidas para cumprir as exigências dos europeus em relação aos controles sanitários. Entre elas, a implantação de novo sistema de testes de eficiência de vacinas contra febre aftosa, que está sendo feita.

Além disso, informou, foi colocada em vigor uma nova legislação no Brasil sobre os focos e a intervenção em focos de aftosa, como queria a UE. Atendendo à demanda européia por documentos mais seguros, o Brasil também vai começar a aplicar com o bloco o sistema de certificados de exportação impressos na Casa da Moeda, como já adotou com a Rússia.

De acordo com o ministro, estão sendo tomadas, ainda, medidas para melhorar o controle do trânsito dos animais. "Por último, é a questão da rastreabilidade, que ainda temos prazo. O sistema está aprovado e agora está na fase de operação", concluiu.

O ministro foi duro com os pecuaristas irlandeses. "Os produtores irlandeses estão no papel deles (...) Eles podem defender a posição deles, só não estão sendo honestos quando tentam mostrar relatórios clandestinos que só por isso nem podiam ser considerados (...) eu tenho seríssimas dúvidas se aquelas fotos são do Brasil, até porque ninguém entra numa fazenda brasileira ou numa planta frigorífica sem autorização e todos os cuidados necessários".

Afirmou, também, que a missão de irlandeses que esteve no Brasil visitando fazendas e fábricas "é algo clandestino, que não merece nenhuma credibilidade, não corresponde à realidade brasileira, afinal de contas o Brasil exporta carne para 140 países e se nossa carne não fosse boa, não estaria em 140 países".

Pelo menos por enquanto, o Brasil parece ter um forte aliado na União Européia contra o desejo dos irlandeses de proibir a entrada do produto no bloco. A Alemanha, um dos principais clientes da carne brasileira na Europa, defende que a campanha dos irlandeses contra a carne brasileira não é uma campanha da UE. "Essa campanha contra a carne brasileira não é uma campanha oficial, de um governo, da comissão européia, é uma campanha privada de competidores irlandeses", disse o vice-ministro da agricultura, Gerd Muller, durante um encontro com Stephanes.

Ele afirmou ao Valor ter ouvido do ministro brasileiro que "não há realmente uma razão" para o embargo. Segundo o alemão, o Brasil tem padrões de controle, e a UE controla os padrões em frigoríficos. Portanto, não há dúvida quanto à qualidade da carne brasileira que vai para Europa.

"Neste momento acho que não há razão para embargar a carne brasileira". Ele ressaltou, contudo, que deve haver controles na produção no Brasil, uma demanda da UE. "Os consumidores alemães e europeus têm de ter certeza que a produção brasileira segue os padrões definidos pela EU", disse, defendendo que o Brasil lide com transparência com o tema e que não tenha medo dos controles europeus. "Esse é o melhor jeito de fazer uma campanha contra essa campanha irlandesa. Depois disso, acho que a carne brasileira vai ter um sabor melhor que antes".

Do lado irlandês, Mark Zieg, especialista de mercado de carne da Bord Bia, a associação da indústria de alimentos da Irlanda, diz "não saber" se há uma campanha contra a carne brasileira. E defendeu a posição dos pecuaristas irlandeses, representados pela Irish Farm Association, que, segundo ele, estão preocupados com o comportamento dos preços do gado.

"Os produtores estão obviamente preocupados com os preços. Há vários estudos mostrando que a rentabilidade está muito baixa, negativa atualmente, e os produtores têm tido problemas com o aumento dos custos com os controles sanitários". Ele argumenta que ao ver cada dia mais carne importada entrando na Europa, os pecuaristas querem que esse produto siga os mesmos padrões de controle e sanidade aplicados dentro da UE. É exatamente isso que os irlandeses afirmam não ocorrer no caso do Brasil. Para Zieg, como organização lobista, a IFA tem entre suas atribuições procurar melhores condições para os produtores na UE, incluindo os melhores preços.

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