Marcelo Miranda Soares, 73 anos, está em plena atividade à frente do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em Mato Grosso do Sul.
Ele foi o segundo nome escolhido para governador do recém-criado estado de Mato Grosso do Sul dois anos após a divisão do Mato Grosso Uno ocorrida em 1977.
Hoje, quando o Estado completa 34 anos de sua criação, o Capital News divulga entrevista com o ex-governador.
Além de Miranda, outros nomes que figuraram no governo como Pedro Pedrossian, Zeca do PT e André Puccinelli (PMDB) também falaram com exclusividade Capital News sobre os desafios de administrar um Estado jovem e pujante.
Todos gravaram mensagens em vídeo que podem ser acessadas ao final desta página.
Numa conversa franca, Miranda fala sobre sua primeira passagem pelo comando do Estado, nomeado pelo governo militar.
Seu primeiro governo foi curto e marcante a ponto de ter-lhe causado arrependimentos.
Porém, sua carreira política começou antes disso, quando foi eleito prefeito de Campo Grande em 1976.
Em seu currículo consta ainda uma eleição para o Senado em 1982 e por fim a eleição para governador em 1987. “Este período foi espetacular”, define.
Capital News - A divisão de Mato Grosso foi algo positivo?
Marcelo Miranda - Eu acho que é só analisar hoje a situação que os dois estados estão. A área sul era tida como rica e a norte tinha grande dificuldades. Hoje se vê que os dois cresceram.
Capital News – Como foi o começo do novo Estado?
Marcelo Miranda - Mato Grosso do Sul nasceu com dificuldades. O governo federal nos deu pouco apoio para a implantação do governo. Logo que o Estado foi criado, o governo funcionou, pela primeira vez, no prédio que fica na esquina da Calógeras com a Ernesto Geisel. Nós não tínhamos estrutura. Não tinha costume de ser Capital. Algumas coisas diferentes começam a aparecer. Quando eu entrei, o poder público usava muito carro preto. Tinha demais.
Capital News – Aí o senhor extirpou tudo?
Marcelo Miranda - Quando eu entrei aboli tudo. O importante é a riqueza do nosso Estado. O Brasil está vendo a importância do Centro-Oeste e particularmente de Mato Grosso do Sul. Hoje vemos, por exemplo, a maior fábrica de produção de celulose em Três Lagoas. Isso pode ser transplantado para outras regiões do País. Hoje fala-se na criação de novos estados dividindo-se o Pará. Sou a favor. Deu certo a criação de Mato Grosso do Sul e também do Tocantins. Mostrando para o governo federal que as divisões são benéficas.
Capital News - A falta de apoio do governo federal no momento da criação do Estado não se deveu a disputa entre grupos políticos?
Marcelo Miranda – Não tem nada disso. O governo federal dividiu o Estado por vontade e decisão própria. Era preciso que tivesse destinado recursos para aqueles que iriam administrar o novo Estado. Mato Grosso tinha todos os prédios e secretarias e era tido como um estado pobre. Hoje cresce mais do que Mato Grosso do Sul. Mas, MS não tinha Capital. Foi difícil de se construir a infraestrutura. Aí foi até o contrário do que você está dizendo. Foi o entendimento político que deu aos governadores que seguiram a possibilidade de implantar o Estado.
Capital News – Então o problema inicial foi uma falta de planejamento do governo federal?
Marcelo Miranda - Falta de planejamento para criar a estrutura necessária de governo. Os poderes como um todo precisa de estrutura. Até hoje, muita coisa, muitas estradas importantes foram construídas pelo governo estadual. Hoje, eu estou aqui no Dnit e te digo que muitas estradas importantes federais foram implantadas pelo governo estadual e não foram ressarcidas pelo governo federal até hoje.
Capital News – O que o senhor mencionaria como maior realização de seu período como governador?
Marcelo Miranda – Não. A implantação do Estado foi importante. Construímos um número muito grande de salas de aula. Naturalmente, outros governadores que vieram deram prosseguimento. Mas, nós deixamos salas de aula para todos os alunos. Implantamos nas cidades, o programa mais espetacular e que não aparece foi a infraestrutura de saneamento. Nos deixamos o Estado com 94% da população com água potável, o que trouxe uma queda vertiginosa da mortalidade infantil.
Miranda diz ter construído grande número de salas de aula e ampliado rede de abastecimento de água
Foto: Deurico/Capital News
Capital News – Como o senhor se tornou governador?
Marcelo Miranda – Foi apoio político. Eu tinha sido o último prefeito eleito de Campo Grande. Primeiro foi nomeado Harry Amorim Costa e a classe política não aceitou. Sete meses depois de empossado, eu saí da prefeitura e foi para o governo, nomeado.
Capital News – O Pedro Pedrossian ajudou o senhor?
Marcelo Miranda – Ajudou. Todos os senadores e deputados ficaram a favor. Talvez tenha sido este o grande erro que eu cometi politicamente.
Capital News - Como assim?
Marcelo Miranda – Eu saí de uma prefeitura que eu tinha sido eleito para assumir um governo apor meio de uma nomeação. Hoje, eu cometeria novamente o erro se vivesse novamente esta situação. Entretanto, isso não foi bom.
Capital News – O que é que tem de ruim em ser nomeado governador?
Marcelo Miranda – A nomeação de governador é bem diferente da eleição onde o povo participa. Então eu saí da prefeitura onde eu tinha um programa estruturado e em andamento. Larguei isso para poder começar a criar um Estado, criar secretarias, instalar os poderes Legislativo e Judiciário.
Capital News – E tinha muita gente querendo o seu lugar, não é?
Marcelo Miranda -- Tinha muita gente. Se hoje eu me encontrasse na mesma situação e não tivesse esta experiência poderia cair no mesmo erro.
Capital News - Depois teve o período como governador eleito, o senhor mudaria algo se pudesse?
Marcelo Miranda – Neste caso não. Acho até que foi um período espetacular. Foram quatro anos muito bons.
Capital News – O que o Estado tem de pontos fortes e fracos?
Marcelo Miranda – Eu acho que o Estado como um todo é potente. Temos o Pantanal que é uma dádiva de Deus. É uma área espetacular em termos de turismo. É preciso que isso aumente. Nós temos áreas importantes para a produção de grãos. O Centro-Oeste e MS representa o celeiro do mundo. Podemos produzir grãos para exportar muito. Somos o celeiro da produção de celulose e de papel em Três Lagoas. Isso é na realidade um retrato do que nós seremos no futuro que é muito promissor.
Capital News – E o ponto fraco? Tem gente que aponta a infraestrutura.
Marcelo Miranda – Eu conheci Mato Grosso do Sul quando vim para cá para a construção da barragem de Jupiá. Campo Grande funcionava a motor diesel e eu não morri. Sem energia não se pode atrair indústrias. A linha divisória do Brasil era o Rio Paraná. Pra cá não existia nada, nem estrutura e nem habitantes. Atualmente, a infraestrutura do Estado está sendo implantada ainda. Precisamos de mais ferrovias, usar mais os rios e vias maiores e de melhor qualidade. Sempre me perguntam sobre a duplicação de trechos de estradas. Mas, precisamos ter a consciência disso em termos de Brasil. Está sendo duplicada, por exemplo, a BR-101 lá no Sul que é uma violência em termos de tráfego com 80 mil veículos por dia. Aqui o maior volume que temos é de 14 mil por dia.
Capital News – A duplicação é algo perigoso?
Marcelo Miranda – É uma coisa importante, se tivermos dinheiro para fazer isso. Faremos barato e criaremos todas as condições para o empresariado enxergar estrutura aqui. Você tem que fazer bem feito. Você tem que criar terceiras faixas para favorecer a passagem dos veículos mais pesados. Temos projetos prontos para melhorar.
Capital News – A falta de estrutura nas BRs contribui para os acidentes?
Marcelo Miranda – As BRs melhoraram muito. Estão bem sinalizadas. Os acidentes se devem muito à falta de cuidado. Tem muita batida de frente. Quem bate de frente é quem tenta passar quando não pode e aí bate.
Marcelo Miranda avalia que a população pequena é um ponto fraco de Mato Grosso do Sul
Foto: Deurico/Capital News
Capital News – O senhor já disse que não se pode apontar a falta de infraestrutura como um ponto fraco porque o Estado ainda é jovem e melhorias estão em andamento. Haveria outro ponto fraco?
Marcelo Miranda – Talvez o ponto fraco do Estado seja o volume pequeno da população. Eu vou dar um exemplo, a Dilma Rousseff não veio ao Estado no segundo turno da campanha presidencial. Campinas tem mais eleitores do que Mato Grosso do Sul. Do ponto de vista de força política é preciso que a nossa população aumente e muito. Temos pouco habitante para uma área muito grande.
Capital News – O principal desafio do Estado, então, seria o aumento populacional?
Marcelo Miranda – Sem dúvida. É importante que a gente tenha população maior. É importante para que a gente tenha poder político. A industrialização é conseqüência do aumento populacional. Se não você passa a ter dificuldades de encontrar mão de obra, por exemplo.
Capital News – Qual sua opinião sobre a possibilidade de mudança do nome do Estado?
Marcelo Miranda – Sou contra. Acho que Mato Grosso do Sul nasceu com este nome. Não só pelas questões históricas, mas afetiva mesmo. Criar um novo nome porque?
Capital News - Há quem diga que falta uma identidade própria. O estado frequentemente é confundido com o Mato Grosso.
Marcelo Miranda – Basta você pegar países desenvolvidos como os Estados Unidos, onde há Carolina do Norte e Carolina do Sul. Isso não influencia em nada. Nós é que temos que nos impor.
Capital News - Quem defende mudar o nome para Estado do Pantanal para sustentar que somos detentores daquele santuário, está equivocado?
Marcelo Miranda – Mas, não somos donos do Pantanal. Temos uma parte a outra é do outro Estado. Mato Grosso do Sul tem muito mais a ver. Nenhum das opções como Estado de Maracaju, Campo Grande seja mais adequada do que Mato Grosso do Sul.
Capital News - O senhor continua filiado PR?
Marcelo Miranda – Sim.
Capital News - O senhor pretende disputar mais eleições?
Marcelo Miranda – Não pretendo. Acho que precisa haver vontade política para que a gente volte. Não tenho vontade de voltar. Não cansei da política. Entretanto, para entrar numa disputa política é preciso ter condições de se eleger, ter apoio de quem está no poder, ver se seu nome está bem. Só vontade própria não basta.
Vídeo
Veja abaixo as demais entrevistas produzidas especialmente para a data
MS 34 anos: "Estado novo nasceu com espírito de velho", relembra Pedro Pedrossian
MS 34 anos: "O momento político foi injusto comigo", reclama Zeca do PT
MS 34 anos: "Maior desafio é conquistar um equilíbrio financeiro definitivo", aponta Puccinelli
Por Valdelice Bonifácio - Capital News (www.capitalnews.com.br)
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