Confira também sugestões sobre como usar essas obras na luta antirracista
A luta das mulheres negras e latinas tem o seu dia de ser homenageada, 25 de julho, apesar de merecer todos os dias e ser percebida em dados gritantes de desigualdade. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) levantados em 2022, mulheres negras são as mais subutilizadas no mercado de trabalho, e 12,6%, o dobro em relação a mulheres brancas, não tinham carteira assinada.
Outro resultado preocupante revelado foi o de que mulheres negras foram as que menos ocuparam cargos de gerência.
A data de julho mostra ser mais do que merecida a esses ícones de resistência, principalmente para discutir e refletir sobre preconceitos a serem desconstruídos. Uma das maneiras de fazer isso é por meio dos livros de grandes autoras negras latinas que apontam as dificuldades vividas e percebidas por elas.
Essas obras podem ser trabalhadas em reuniões de clubes de livro e também por docentes da faculdade de pedagogia para que futuros pedagogos e pedagogas aprendam maneiras de ser parte da luta antirracista e contra a misoginia.
Confira alguns livros que valem muito a pena serem discutidos.
Úrsula
O romance escrito por Maria Firmina dos Reis informa sobre a vida na África e como os povos escravizados eram capturados por homens chamados de “caçadores de almas”. Por meio desses relatos, é possível compreender parte das amarguras vividas por negros e negras que vieram ao Brasil trazidos à força em navios negreiros.
É considerada uma das primeiras obras abolicionistas publicadas por uma mulher negra no Brasil, em 1859, na cidade de São Luís.
Quarto de Despejo
A escritora Carolina Maria de Jesus revela na obra o dia a dia em uma favela de São Paulo, situação vivida por ela. A autora nasceu em Minas Gerais, na cidade de Sacramento, e mudou-se para o local que é cenário da história, passando a trabalhar como doméstica e coletora de materiais recicláveis.
Os textos foram uma forma de desabafo para Carolina Maria, e esse apanhado de emoções conseguiu penetrar o emocional dos leitores, vendendo 30 mil exemplares já na primeira edição.
Olhos d’Água
A obra rendeu à autora Conceição Evaristo o prêmio Jabuti e também gerou pedidos de fãs para que ela ocupasse uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Com foco na pobreza e violência urbana que acometem a população afro-brasileira, a autora apresenta as histórias de diversas mulheres.
As protagonistas diferem em idade e papéis sociais, que vão de filhas a avós, com seus vínculos e suas vulnerabilidades que as trazem para perto do público.
Um Defeito de Cor
A história da autora Ana Maria Gonçalves traz uma protagonista africana, idosa e cega que tem um grande objetivo: encontrar o filho perdido que está no Brasil. A narrativa, ao mesmo tempo que foca no encontro, percorre etapas da vida da personagem como a escravidão e outras violências.
Um Defeito de Cor é comparado a clássicos que apresentam histórias sobre pessoas escravizadas na América do Norte, como Raízes.
Quando me Descobri Negra
Bianca Santana relata casos de pessoas que, assim como ela, precisaram passar por um doloroso processo de descoberta para se afirmar como negra. A própria autora afirma: “tenho 30 anos, mas sou negra há dez. Antes, era morena”.
Também são apontadas formas de discurso de ódio que oprimem as pessoas negras por meio da suposta obrigatoriedade de alisar o cabelo, do tratamento dado por policiais e pelo mercado de trabalho.
Pequeno Manual Antirracista
Djamila Ribeiro desvela o racismo como um sistema de opressão, responsável por criar desigualdade social, e já vai direto ao ponto, apontando estratégias para combater o problema. A autora aponta 11 formas de agir de maneira antirracista, baseadas na filosofia e sociologia.
A escritora também traz uma visão ampla, apresentando políticas públicas voltadas para o combate ao racismo.
Heroínas Negras Brasileiras
Os livros de história citam muitos nomes de pessoas consideradas heróis nacionais, e muitas vezes personalidades negras são apenas citadas na condição de escravizados que resistiram, mas sucumbiram. A obra de Jarid Arraes muda essa perspectiva, trazendo a história de mulheres negras como Dandara e Carolina Maria de Jesus.
As narrativas cheias de grandes feitos históricos e pedaços da identidade do Brasil são contadas de uma forma bem brasileira, por meio de 15 cordéis, literatura popular nordestina.
Por um Feminismo Afro-latino-americano
Uma literatura recomendada pela filósofa Angela Davis, o livro de Lélia Gonzalez traz escritos que datam de 1979 a 1995, mas que parecem se encaixar no contexto atual. A literatura é considerada também simbólica pelo uso do chamado “pretuguês”.
A obra também informa sobre a busca por um Brasil democrático e introduz de forma cronológica a vida de Lélia.