Das cinco pousadas do Pantanal, listadas no Guia Quatro Rodas como melhores destinos para turismo rural, quatro ficam em Mato Grosso do Sul: Fazendas Pequi, Xaraés, Ilha e Baía Grande. Isso mostra o potencial de Mato Grosso do Sul para o turismo chamado de rural, porque é feito dentro de propriedades até então utilizadas apenas como sedes de fazendas de criação de gado ou para agricultura.
O presidente da Associação Brasileira de Turismo Rural do Estado (Abraturr/MS), Alexandre Costa Marques, é dono da Baía Grande e há cerca de cinco anos começou a investir nesse setor, utilizando-se da fazenda de sua família para construir uma das pousadas mais visitadas do Pantanal sul-matogrossense.
Para entender melhor esse segmento e conhecer suas potencialidades, acontece entre os dias 20 e 22 de novembro deste ano, no Centro do Convenções Rubens Gil de Camilo a V Feira Nacional de Turismo Rural (Feiraturr), que tem inscrição gratuita e que terá palestras sobre várias regiões do Brasil que tem despontado no turismo rural. Além disso, a feira contará, para a abertura, com apresentação da dupla Tostão e Guarani.
Confira a entrevista:
Capital News: O que é o turismo rural e qual sua melhor/maior potencialidade?
Alexandre: É o turismo que envolve diretamente a produção no meio rural, ou seja, numa fazenda, numa chácara, enfim. E hoje no Brasil ele está em ampla expansão, com crescimento em torno de 18% ao ano e dentro do segmento turismo, é o que mais cresce no Brasil. Mato Grosso do Sul está nesse embalo, inclusive a gente está com uma projeção de crescimento de 20% anual, então assim, o grande potencial do Brasil hoje é Mato Grosso do Sul.
Capital News: Como é o turismo rural no Brasil e que espaço representa dentro do mercado turístico brasileiro?
Alexandre: O turismo rural no Brasil está da seguinte forma: o primeiro estado que concentra mais esse setor é Minas Gerais, depois vem Santa Catarina, que foi onde nasceu o turismo rural, daí aparece São Paulo e Mato Grosso do Sul, que está começando ainda e que tem muito a crescer. Mas hoje, em torno de atividade e empreendimentos de área rural variam de 13 mil a 14 mil em todo Brasil. E aqui no Estado temos cerca de 20 empreendimentos de turismo rural sendo desenvolvidos. É claro que dentro de Mato Grosso do Sul está mais focado na região pantaneira, mas a tendência é se espalhar por todo estado.
Capital News: Quais são os atrativos do turismo rural que podem fazer uma pessoa desistir de ir à praia no fim do ano e decidir fazer turismo rural?
Alexandre: muito interessante essa pergunta. É que na verdade todo mundo tem um pezinho na fazenda, então o turismo rural vem resgatar essa coisa de natureza, de estar numa fazenda, de acompanhar a lida do gado, de mostrar pro filho o que é uma galinha viva, como é tirar leite da vaca manualmente, acompanhar de fato a produção da fazenda. E hoje o turismo rural está se desenvolvendo muito nessa área de cavalgadas. Na parte de gastronomia também. No Espírito Santo, por exemplo, já está muito consolidado essa questão do agroturismo, na parte de produção de queijo, então quer dizer, nós estamos crescendo e tem muito a crescer, muita coisa pra ver. E como eu já disse, aqui no Estado, é a região pantaneira que tem crescido muito e no Pantanal tem duas coisas que são muito interessantes: ao mesmo tempo que você está praticando o turismo rural você pratica o ecoturismo também. Vamos imaginar que a gente está numa cavalgada; daí passa um bando de arara azul e fica impossível você não falar da arara azul e isso é um pouco de ecoturismo também, é uma característica do Mato Grosso do Sul, da região pantaneira.
Capital News: Quais as localidades rurais mais procuradas pelos turistas? A maioria dos turistas são brasileiros ou estrangeiros?
Alexandre: o público ele varia de 18 a 50 anos, geralmente família e esse perfil está começando a mudar. Nós estamos percebendo que a classe C está procurando esse tipo de turismo. E assim, hoje, o que comanda é Minas Gerais, que onde tem mais atrativos no turismo rural, tem Santa Catarina que é o berço desse setor, como eu já disse e São Paulo.
Capital News: Mas esses locais, o que eles apresentam de diferente para serem pólos do turismo rural?
Alexandre: tem várias coisas: fazendas históricas, além de casarios e outras propriedades que estão completamente restauradas e eles se vestem a caráter, com roupas de barão, baronesa, os escravos, etc. É um resgate histórico. O turismo rural pedagógico também tem crescido muito e é muito forte no interior de São Paulo. Eles levam as crianças das escolas para aprender mais sobre a ecologia, biologia, é pedagógico mesmo.
Capital News: Há condições de ser implantado um turismo nesses moldes em Mato Grosso do Sul? Histórico ou pedagógico?
Alexandre: algumas fazendas já começaram a trabalhar com o turismo pedagógico e já recebemos grupos de São Paulo aqui no Estado. O turismo rural aqui no Estado a gastronomia é muito local e não temos uma fazenda da época dos escravos por exemplo, então a gente não tem isso pra explorar, porque se tivesse seria um caminho.
Capital News: Por que o Pantanal é o local mais forte para o turismo rural no Estado?
Alexandre: porque o Pantanal é conhecido mundialmente e então já se tem um atrativo. E cerca de 70% do público que se instala nas pousadas pantaneiras são estrangeiros. Já aqui em Campo Grande, de uns anos pra cá, abriram muitas pousadas para day use, e tem sido um trabalho muito bom, perto, o que é muito bom pro campo-grandense conhecer, valorizar a terra, muito legal.
Capital News: Além do Pantanal e Campo Grande, aqui no Estado, quais outros locais? Fale também sobre Corumbá e Bonito.
Alexandre: bom, Bonito é conhecido como turismo ecológico, mas claro que se pratica o turismo rural também, lá tem cavalgadas, só que o forte de Bonito é o ecológico. Em Dourados também está começando o turismo rural também, mas envolvendo a parte técnica de soja e grãos. Na região pantaneira tem uma parte investindo nisso aí também, mas na parte ambiental com projetos de onça, projetos de jacaré, de capivara, etc.
Capital News: Quanto o setor movimenta no MS e no Brasil?
Alexandre: a gente não tem um dado específico nisso aí. Isso eu vou receber da Abraturr nacional depois do evento [Feiraturr].
Capital News: Qual e como é a relação da Abraturr com a Secretaria de Produção e Turismo (Seprotur)? Há convênios ou parcerias?
Alexandre: sem dúvida a Seprotur, junto com a Tereza Cristina é uma parceirona nossa, junto com a Nilde Brum da Fundação de Turismo, assim como outros parceiros: o Sebrae, a prefeitura, enfim, tem um entrosamento fantástico isso aí. Nós temos um projeto muito interessante junto com a Seprotur que está sendo finalizado que envolve os pousadeiros da região de Miranda, junto com a Fundação de Turismo e Fundação de Cultura. E o que é? Juntamos seis pousadeiros de Miranda que se interessaram pelo projeto, conversamos com as entidades públicas e fizemos o “Música Pantanal de Miranda”. Isso era pra valorizar a cultura local e já passaram cantores como Tostão e Guarani, Beti e Betinha, Maciel Corrêa, entre outros. Isso está terminando agora em novembro e é uma das parcerias que a gente conseguiu e vamos lutar pra continuar não só em Miranda, mas Campo Grande, Corumbá e outras cidades.
Capital News: Por que investir no turismo rural é um bom negócio?
Alexandre: vários fatores. Primeiro eu vou citar a valorização da propriedade. Segundo, o que melhora dentro disso aí? A renda, a auto-estima dos funcionários melhora muito, porque ele começa a ver e a sentir que vem gente de outros países e estados para conhecer e saber sobre o seu local, para ouvir suas histórias e o conhecimento que os peões e o povo de lá têm. Aí surge a valorização do ser humano, a fixação dele na sua terra e também o aumento da renda familiar, já que tem mais trabalho. Outra coisa é a preservação ambiental, todos começam a se preocupar com isso, não deixam o lixo jogado, cuidam da própria fazenda e isso é um valor inestimável.
Capital News: Qualquer produtor rural, fazendeiro ou agricultor pode estar investindo no turismo rural?
Alexandre: sim, claro! O turismo rural não tem tamanho, qualquer propriedade pode se abrir pra isso. A sugestão que eu faço é de que, quem quiser investir nisso procure o Sebrae, que vai mostrar todos os caminhos necessários para implantar o turismo rural, porque tem algumas características: o ideal é que o proprietário receba esse hóspede, que seja o anfitrião e nisso tudo há detalhes que o Sebrae ensina, com cursos, palestras, e te dá todas as orientações para não gastar dinheiro à toa também.
Capital News: O que será discutido na reunião fechada entre os presidentes estaduais das Abraturr?
Alexandre: em todas as Feirasturr que acontecem tem essa reunião. Como é uma feira anual a gente discute tudo: as ações para o próximo ano, o que precisa mudar ou ser melhorado.
Capital News: O que ainda precisa ser feito para melhorar e implementar o turismo rural no Brasil?
Alexandre: nós precisamos de políticas de turismo rural para todo País. Precisamos de mais divulgação, que é o gargalo desse setor, e isso falta em revistas especializadas, grandes jornais, além de qualificação profissional, mas como o turismo rural em MS ainda é muito novo tudo isso ainda está engatinhando.
Capital News: Com relação a valores. Tem um valor fixo, varia de propriedade para propriedade, é acessível?
Alexandre: cada empreendimento varia. No Pantanal por exemplo varia de R$ 180 a R$ 200 por pessoa com dois passeios no dia e três refeições. Outras propriedade fazem por R$ 500, R$ 600, de acordo com as atrações.
Capital News: Como está o potencial de Mato Grosso do Sul?
Alexandre: cada vez melhor. O trade turístico de MS está cada vez melhor e isso não é porque eu sou daqui, é porque é visível, é fato. E o mais interessante é que Mato Grosso do Sul está participando de uma rede internacional de turismo rural, contemplando dez propriedades aqui no Estado. Essa rede é um braço de uma associação européia, cuja sede é em Portugal e aqui essa sede chama-se Fazendas do Brasil. E o mais interessante é que é uma porta aberta dos proprietários de turismo rural na Europa. Como é uma associação européia, envolve Portugal, Holanda, parte da Alemanha, França, Estônia, e o legal é que dá pra divulgar o Estado. Vamos supor que um turista visita um desses locais e lá tem um folheto dessa associação e vê que lá tem Brasil e que dentro do turismo rural tem Mato Grosso do Sul. Então, é uma porta dentro da Europa para o Brasil e para Mato Grosso do Sul. Isso já está acontecendo, já existe, mas tem muita coisa pra vir ainda.
Capital News: Para terminar, você deve ter acompanhado aquele caso de turistas que vieram para uma pousada no Passo do Lontra, em Corumbá, e que quando chegaram ao local, não tinha nada do que lhes havia sido apresentando. Como evitar e coibir essas práticas que só colocam o nome do Estado e do Brasil como locais enganosos para o turismo?
Alexandre: de fato aconteceu isso sim. O que acontece é que temos péssimos ou mesmo “não-profissionais” no turismo do Estado. Eu aconselho o seguinte: o turista que quiser vir e ter uma segurança, antes de tudo tem que comparar na internet, no Guia Quatro Rodas ou em outro guia semelhante e que tem credibilidade. E se ainda houver dúvida, entre no site do Ministério do Turismo, entre em contato e busque essa pousada, que certamente vai estar cadastrada e que serão as confiáveis.