Sexta-feira, 15 de Agosto de 2008, 17h:01 -
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Exclusivo: Secretária de produção Tereza Cristina fala ao Capital News
Redação Capital News (www.capitalnews.com.br)
Capital News: Como foi a reunião com os representantes da OIE e como Seprotur agiu para que a liberação de Mato Grosso do Sul ocorresse? Houve a apresentação de dados, informações adicionais em relatórios? Como a Secretaria trabalhou para reverter a situação em que o estado estava?
Tereza Cristina: Foi uma reunião fechada onde tão somente o relatório foi apresentado. No relatório apreciado havia a descrição de todas as ações que o governo do Estado realizou durante o primeiro semestre de 2008. Pelo tamanho do envolvimento do Estado com essas ações eles acharam que Mato Grosso do Sul estava apto a receber a sua liberação. Ficou uma pergunta e uma ação que deve ser desenvolvida, que é a Zona de Alta Vigilância (ZAV) com a Bolívia. A extensão da ZAV do Paraguai até a Bolívia foi uma recomendação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). O trabalho já se iniciou. A Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) já esteve em Corumbá e já está trabalhando na região. As ações desenvolvidas serão as mesmas implementadas na divisa com o Paraguai, começando pelo georeferenciamento das propriedades até a vacinação assistida, identificação dos animais, monitoramento do trânsito, porque o transporte hidroviário é muito intenso naquela região, e outras. Para isso os produtores serão muito bem orientados, pois sem a orientação e compreensão da importância dessas ações é muito difícil conseguirmos concretizar esse trabalho.
Capital News: Com a confirmação de MS como área livre da aftosa, ela vale para o Estado inteiro? Quais serão as reações no mercado em relação à carne bovina? Os pólos para a exportação da carne irão aumentar? Qual a previsão que a senhora possui?
Tereza Cristina: Os municípios inseridos na ZAV estão completamente fora e assim devem permanecer pelo período de até dois anos, por recomendação da OIE. O nosso próximo passo é buscar a liberação de propriedades do Estado junto a União Européia, que paga melhor pelo nosso produto, e para isso os produtores tem que procurar suas certificadoras e essas pedir junto ao Ministério da Agricultura (MAPA) que agende uma auditoria na propriedade. Se cumprida as normas e critérios pré-estabelecidos, o MAPA irá incluir a propriedade na lista de fazendas a serem auditadas pela missão européia que deve visitar o Estado até o final do ano. Essa missão vai avaliar quais propriedades estão aptas a exportar para a União Européia. Singapura é o mais novo parceiro comercial de Mato Grosso do Sul. O comunicado foi feito pelo Ministério da Agricultura no final do mês passado – 25 de agosto – liberando as exportações de carne bovina desossada e produtos suínos desossados. Uma vez habilitado, os ajustes comerciais (volume) passam a ser tratados entre as autoridades sanitárias daquele país diretamente com as unidades industriais do Estado (frigoríficos). Mato Grosso do Sul já possui parcerias com outros diversos mercados, mas agora vamos trabalhar para acessarmos mercados com população grande, pois precisamos de consumidores. A Europa é um mercado que paga mais, porque exige mais. Mas temos outros mercados menos exigentes, porém mais populosos e que podem importar muita carne do Estado. Se bem que o dever do Estado é dar garantias que a sanidade vai bem. O papel de buscar mercados, vendas, é da iniciativa privada que tem hoje em Mato Grosso do Sul 36 plantas com SIF (Serviço de Inspeção Federal).
Capital News: Caso as exportações da carne aumentem, isso provocará um aumento no preço da arroba da carne? Quais serão as conseqüências em cima dos preços do produto?
Tereza Cristina: Mercado é mercado. É a lei da oferta e da procura. Agora, se o mercado abrir para a Europa, por exemplo, aí sim o valor da arroba é diferenciado. Há fazendas em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás – habilitadas para exportar para União Européia – que recebem até 25% a mais por arroba. Isso significa que o produtor, hoje, está recebendo mais de R$100,00 por arroba. Agora, é importante deixar bem claro que esse é um momento que existem poucas propriedades habilitadas para União Européia.
Capital News: Gostaria que a Sra. falasse a real situação e a sua opinião sobre às demarcações de terras indígenas pela Funai no MS? Pode acontecer uma guerra no campo entre as partes (índios e fazendeiros)?
Tereza Cristina: É muito preocupante, pois trás instabilidade quanto aos negócios que estão acontecendo no Estado. Quem é que vai investir numa região que está sob a ameaça de uma demarcação, e passível de desapropriação? Só essa ponderação já mostra a gravidade do assunto. Outra coisa complicada é que essas terras não são terras devolutas, ninguém chegou lá e tomou posse. São terras que têm escrituras, são títulos que vem desde a época do império, outros foram vendidos pela união ou pelo Estado aos produtores rurais que pagam impostos, produzem alimentos – inclusive o PIB brasileiro é feito em cima do campo, então é uma situação preocupante e que causa instabilidade. É complicado afirmar que pode causar guerra, mas pode causar conflitos e essa possibilidade já deixa os produtores rurais completamente inseguros. Mas o governo vem fazendo várias ações políticas, algumas jurídicas, e não vai deixar que essa insegurança tome conta do Estado. Essas portarias da Funai vieram de maneira desastradas. Elas podiam ter sido conversadas, mas ao contrário disso o governador disse nunca ter recebido nenhum telefonema da Funai. A notícia chegou através do Diário Oficial.
Capital News: O que o Governo pode fazer para evitar essa situação? Qual a real produção total desta região prevista para demarcação? Será que tem cunho político está situação criada pela Funai?
Tereza Cristina: É uma política do Governo Federal. Então há cunho político sim.
Capital News: Qual a sua opinião sobre a possibilidade de levar desenvolvimento para a região do Pantanal através do Cultivo de Cana-de-açúcar e seus derivados?
Tereza Cristina: Não existe a possibilidade de plantar cana-de-açúcar no Pantanal, até mesmo porque é uma planície inundável. Agora, se você me disser cana-de-açúcar em municípios periféricos ao Pantanal, onde o Zoneamento Econômico Ecológico (ZEE) identificar a aptidão para culturas como soja, milho, pastagem e que podem receber a cana, isso eu não vejo nenhum problema. Para isso o governo do Estado contatou um estudo, que é o ZEE, que está sendo feito pelo Ministério da Agricultura, junto com outros ministérios, onde há um estudo específico sobre a cana-de-açúcar e que vai mostrar os municípios que podem receber a cana sem dano nenhum, tanto para o bioma amazônico, quanto para o Pantanal. Esse estudo vai mostrar também que existe muito espaço com terra degradada e que essas podem ser cultivadas com cana que, inclusive, tem um diferencial favorável nessas regiões mais problemáticas: o manejo da cana só ocorre a cada seis anos, ou seja, não é como uma cultura anual que a cada seis meses tem que estar mexendo no solo. Além desse benefício, ela usa pouco produto químico, pois é uma cultura rústica. Através desse Zoneamento isso tudo vai ser mapeado, tanto na Bacia do Paraguai quanto na do Paraná.
Capital News: MS é reconhecidamente um grande produtor de gado, qual a ação da Seprotur para atrair indústria ligada ao desenvolvimento do couro? Como as indústrias do calçados?
Tereza Cristina: O problema da indústria de calçado hoje está no setor, que devido à concorrência com a China ficou economicamente inviável. Por esse motivo várias indústrias brasileiras saíram do Brasil, como é o caso do Rio Grande do Sul, que era um grande pólo calçadista. Para nós resta, realmente, melhorar o couro. Mato Grosso do Sul já têm várias indústrias de processamento do couro, precisamos apenas dar o acabamento ao produto, concluir as fases – hoje fazemos apenas o wet blue e o semi-acabado.
Capital News: Em relação ao turismo, a senhora acha que a confusão de nomes com “Mato Grosso do Sul” e “Mato Grosso” ainda afeta as atividades de turismo nos estados? Quais são elas?
Tereza Cristina: É difícil quantificar, mas afeta. Acho que facilitaria se fosse Mato Grosso do Sul e Mato Grosso do Norte. Mas acho também que, de tanto os sul-mato-grossenses falarem, isso vem melhorando. Talvez fosse necessária uma campanha externa.
Capital News: Quais as ações da Seprotur para divulgar as belezas naturais do MS, buscando fomentar mais o Turismo local?
Tereza Cristina: O Estado, através da Fundação de Turismo – instituição vinculada a esta secretaria – vêm trabalhando em quatro frentes: 1- Planejamento Estratégico, a ficar pronto no final de 2008 – irá planejar o setor para até 2020. O principal objetivo está na implantação de políticas públicas distribuída em 10 regiões, com a finalidade de fortalecer as governanças locais para elaboração dos planos de ações para cada região, sendo esses: plano de capacitação, marketing, investimento e captação de investidores. Também será trabalhada a regionalização turística dentro das 10 macro-regiões. 2 - Estruturação dos destinos turísticos considerando, inicialmente, os três municípios indicados pelo Ministério do Turismo (Corumbá, Campo Grande e Bonito). O mesmo será feito através de emendas parlamentares, parcerias com o setor privado, com verba do orçamento do Ministério do Turismo e do Estado (exemplos: aeroporto de Bonito – investimento privado sendo que a captação de vôos é uma parceria entre poder público e a iniciativa privada; Estrada Parque Pantanal – investimento de emendas parlamentares para sinalização turística, ambiental e rodoviária, construção do Centro de Atendimento ao Turista (CAT), e substituição das pontes, para garantir a segurança do turista e da população local; Trem do Pantanal – investimento público e privado, a primeira fase inicia-se em maio de 2009 (Campo Grande/Miranda) e até 2007 a segunda (Miranda/Corumbá); 3 – Capacitação em parceria com entidades afins e 4 - O marketing, baseado nas pesquisas do Ministério do Turismo para os mercados nacional e internacional participando de feiras, realizando workshops e rodada de negócios, treinamento específico para agencias de viagens para comercializar o ‘Produto MS’, e em 2009 a realização da segunda Feira Internacional e salão de Turismo de Mato Grosso do Sul.
Capital News: Quais são as previsões e projetos, que a Seprotur está trabalhando atualmente? E Quais são os projetos futuros para Mato Grosso do Sul dentro da sua pasta?
Tereza Cristina: O projeto futuro é fazer com que as ações de hoje sejam contínuas, um trabalho focado na sanidade, desenvolvimento de novas culturas e seus ordenamentos – como é o caso da cana de açúcar e das florestas, capacitar mão-de-obra para atender a demanda, entre outros que o Estado vem estudando, os quais anunciaremos em breve.