O entrevistado da semana do Capital News é o secretário de Saúde do município, Luis Henrique Mandetta. Entrevista coletiva ele falou sobre diversos assuntos entre eles, Dengue, Leishmaniose, Aids e hospitais de Campo Grande. Confira!
Capital News: A prefeitura de Campo Grande já anunciou investimentos de R$ 1 milhão em ações de combate à dengue. Eu gostaria de saber de que forma podemos evitar que uma mega infestação da doença tome conta da Capital novamente a exemplo do verão passado.
Mandetta: Na verdade são adicionais porque o programa contra a dengue consome muito mais do que um R$ 1 milhão mês.
Dengue você tem sempre três variáveis que você tem que estar atento. A primeira se você tem vírus novo. No fim de 2006 nós identificamos em Campo Grande o tipo 3, que nós campo-grandenses, não tínhamos e não temos imunidade contra esse tipo 3. Então isso era um sinal, de preocupação.
O segundo é o clima. Então nós sabemos que dezembro, janeiro, fevereiro e março nosso município é muito propício à proliferação do mosquito por causa da chuva e do calor, que é praticamente diário. No mês de janeiro de 2007 nós ficamos 26 horas sem chuvas, em um espaço de trinta dias, choveu 440 milímetros no mês de janeiro de 2007. Foi um recorde de precipitação.
E a terceira variável é a quantidade de mosquito, de larvas e focos que a gente encontra, que é diretamente ligado a conscientização da população. Dessas três variáveis, você não controla o vírus, você não controla o clima, o único que você tem possibilidade de controlar é a educação da população e incentivar a atitude da população no intuito de não deixar ambientes propícios a proliferação do mosquito.
Quando você vem no ano de 2005, um ano extremamente seco, nós só tínhamos um vírus que já tinha circulado há um tempão, a população tomando as medidas habituais, nós tivemos o menor número de dengue da série histórica de Campo Grande. Em 2006, quando entrou o vírus tipo 3 ele encontrou o ambiente propício. Então, excesso de chuva, baixo nível de vigilância da população e vírus novo é igual à epidemia.
Isso aconteceu no Rio de janeiro, São Paulo, Baixada Santista, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Goiânia, O vírus 3 entrou por Três Lagoas, Dourados em 2006 e em 2007.
A dengue pode ser causada por quatro tipos de vírus, nenhum é mais grave que o outro, são só vírus que são diferentes um do outro. Mas quando você teve dengue por um vírus tipo 1, por exemplo, e depois é contaminado pelo tipo 2, a probabilidade de se fazer uma dengue hemorrágica é maior.
Em 98, Campo Grande teve uma epidemia pelo tipo 1. Em 2002 e 2003, Campo Grande teve epidemia pelo tipo 2. em 2007, foi do tipo 3. Na verdade eles entraram em ordem aritmética, mas poderia ser quatro, dois, três ,um. Aqui só não entrou o tipo quatro, no Brasil ainda não há registros. Mas ele está aqui pela Venezuela, países vizinhos. Então se entra um novo tipo de vírus e pega uma população que foi exposta a um outro vírus da dengue, a probabilidade de formas hemorrágicas aumentam, por isso nós tivemos nesta epidemia, muitas formas de manifestação hemorrágica, porque são pessoas que tinham já um contato com o vírus tipo 2 e com o tipo 1.
Não é um vírus que seja mais ou menos grave, depende do sistema imunológico da defesa do indivíduo com relação aquele vírus.
CP News: O que muda? Os sintomas?
Mandetta: Por exemplo, o vírus tipo 3, ele tem um maior tempo de viabilidade no meio ambiente. O vírus tipo 2 tem uma característica de maior tempo, ele fica mais tempo viável no mosquito. O vírus tipo 1 tem como características, uns radicais um pouco diferentes. É igual quando você fala de gripe. Diariamente o tipo da gripe muda. Você pega uma gripe hoje e pra aquele vírus específico seu sistema de defesa está preparado.
Se aquele vírus sofre uma mudança, seu sistema de defesa não reconhece como o vírus antigo e faz novamente um caso de gripe. O da dengue são quatro tipos, por isso que tenta-se tanto uma vacina. Se conseguisse, imunizaria a população e nós teríamos uma maneira mais eficaz de combater a doença, porque realmente, em um País tropical como este, com o clima totalmente favorável, com um nível de educação sanitário baixo, infelizmente nós temos todas as pré-condições para ir passando por essa epidemia de dengue. No Brasil ela esta hoje em todos os municípios.
O vírus tipo quatro é uma preocupação muito grande, não porque ele seja mais grave ou menos grave, mas é porque a população brasileira inteira não tem defesa contra ele.
CP News: No começo do ano a gente ouviu falar sobre casos de dengue visceral no Paraguai.
Mandetta: Isso foi uma coisa totalmente fora de critérios técnicos porque não existe dengue visceral. Ela faz um quadro geral, o vírus tem que se multiplicar dentro do organismo humano. Então ele se multiplica no fígado, no peritônio, no pericárdio, no rim. Ele ta ali dentro se multiplicando, então causa inflamação generalizada e se você não tem uma rede de saúde que dê conta de cuidar de um grande número de pessoas ao mesmo tempo, você começa a ter muitos casos de óbitos, que é o que aconteceu no caso do Paraguai.
Campo Grande surge hoje em várias citações nacionais. Se nós tivemos uma epidemia, nós só tivemos dois óbitos, pra uma epidemia considerada de grande porte no período de janeiro, fevereiro, março.
Tivemos um senhor de setenta e dois anos que estava com dengue e foi à noite ao banheiro, caiu, porque estava fraco, estava com tontura, bateu a cabeça e no dia seguinte, começou a apresentar hemorragia.
A gente reconheceu como caso relativo a dengue, mas se fosse levar ao pé da letra talvez ele poderia ter entrado como traumatismo craniano por queda, mas entrou na nossa estatística.
O segundo óbito foi de uma paciente japonesa. Como característica a gente observa que o paciente oriental, o sistema imunológico deles faz formas mais graves. Isso é uma coisa que a gente observou aqui. Nesses outros locais onde a rede de saúde não esta preparada para atender um grande número de pessoas ao mesmo tempo, você tem um número muito grande de óbitos. O grande desafio é montar uma rede e garantir o atendimento das pessoas e identificar quais os casos que estão evoluindo mal e que você precisa levar para o hospital, precisa internar. Então você tem uma série de estrutura que tem que estar funcionando muito bem para que você possa dar essa resposta.
Laboratório tem que estar funcionando 24 horas por dia. A gente chegou a fazer três mil exames em uma noite.
Nós trabalhamos de uma maneira muito forte o setor da saúde para podermos atender as pessoas da melhor maneira possível e ter o número baixíssimo de óbitos, que a gente teve perante o número de casos. O esperado era que se em uma epidemia deste porte, a gente não tivesse todo o atendimento que foi feito, o esperado era que tivéssemos a faixa de 15 a 20 óbitos e nós tivemos dois.
Até recebemos agora a visita do pessoal de Cuba, de várias secretarias municipais que vêm para conhecer a rede e para saber qual foi a estratégia de atendimento, já que ela é uma doença que reflete na saúde. Mas a Saúde sozinha, a prefeitura sozinha, o poder público sozinho, não tem nenhuma condição de fazer limpeza do quintal, da caixa d´água, tirar o vaso de planta da casa das pessoas, colocar o pneu no lugar certo. Ela é de comportamento urbano, que quer um tipo de vida com saco plástico. Queremos jogar as coisas no terreno baldio, dar destino errado pras coisas. Pensamos que esta prática é inofensiva e quando ela se volta contra a gente, se reflete na saúde porque causa uma doença aguda. Outras doenças também acontecem por essa prática de baixa educação sanitária. Ainda temos doenças que são típicas de terceiro mundo por causa da falta de educação sanitária.
CP News: Como está a parceria com o governo do Estado no combate à dengue?
Mandetta: O governo do Estado tem uma função de coordenar, de garantir os equipamentos e fazer também a parte de comunicação. O que a gente tem esse ano, diferente dos anos anteriores, é uma atuação muito mais presente, muito mais ativa da Secretaria Estadual de Saúde do que a anterior. Assim como a União, que também tem toda a estratégia de inseticida, os carros, aquele carro de fumacê, aquilo tudo é da União. O que a gente vem solicitando tanto ao Estado quanto à União, é que atualizem esse equipamento. Façam aquisição de equipamentos novos, ou seja, os equipamentos, conforme o tempo vai passando, eles vão ficando danificados, obsoletos e a gente vem assistindo no plano estadual uma resposta melhor com relação aos equipamentos.
CP News: Qual o número de casos registrados até agora?
Mandetta: O número total, de janeiro até agora, é de 45.190 casos, (que eu vi ontem 23/11), sendo que, o que a gente vem fazendo desde o início de agosto é confirmar os casos notificados. Ou não afastando. Ou seja, aqueles que podem ser, que são casos suspeitos. No mês de outubro nós tivemos cinco casos confirmados. Em setembro, dois casos. Em agosto, nenhum. Então a gente ta em um momento muito bom, se comparado aos anos anteriores, mesmo tendo uma parcele enorme da população que é suscetível a entrar em contato com esse vírus da dengue
CP News: O senhor acha que depois do último surto, a população está mais preocupada em cuidar do seu quintal, em receber o agente de saúde?
Mandetta: É uma pena que isso não seja uma coisa que nós tenhamos que ter passado por um sofrimento coletivo tão grande para que as pessoas despertem para a necessidade de fazer esse cuidado diário com relação a dengue. No ano passado, nesta época, eu lembro que nós fizemos o Dia D de Combate a Dengue, nós fizemos gincana de bairro contra bairro, nós fizemos outdoor, nós fizemos tv, rádio, jornal, agentes comunitários fizeram as visitas, mas aquela coisa que a pessoa fala, “é exagero, isso não vai acontecer”.
A característica deste mosquito é que ele é um mosquito muito exigente. Às vezes as pessoas falam assim: “Ah, mas aqui na minha casa passa uma enxurrada de água”. Ele não vai em água de enxurrada, em água que corre, ele é de água limpa e parada. Ele é um mosquito basicamente domiciliar. Às vezes as pessoas falam, “ah, porque tem um terreno, que tem mato”. Esse mosquito, ele não tem nada a ver com vegetal. O problema é q você tem locais que acumulam água e que, se as pessoas jogam sacos plásticos, jogam pneu dentro do terreno, aquilo ali vai ficar com água parada para que ele possa se procriar.
Mas ele é basicamente um mosquito doméstico. Ele voa de 50 a 100 metros, no máximo, do lugar onde ele nasce. Então ele nunca é uma coisa assim, “veio um mosquito voando não sei de onde em uma nuvem e caiu aqui”. Não, ele é de plano pequeno. O habitat principal dele é dentro do domicílio e ele gosta de água parada. Se ela ta no sol, ela evapora, então ele precisa da água parada e sombreada. Ou local que permaneça com água parada.
Cerca de 80% dos focos em Campo Grande são de vasos de plantas. Tanto de planta aquática quanto aquele famoso pratinho que as pessoas teimam em colocam em baixo do xaxim. Aí, a dona de casa vai regar a planta e a água para ali em baixo. Muitas vezes ela põe a água no pratinho intencionalmente para que a planta fique bonita e a planta fica bonita e o mosquito agradece e fala “Opa! Casa, comida e roupa lavada”
CP News: Continuam as fiscalizações em imóveis fechados?
Mandetta: Aqueles que estão para alugar ou para vender com imobiliária, a gente já conseguiu. As imobiliárias têm sido muito rápidas e muito parceiras. Na hora que elas recebem os imóveis, o próprio corretor já faz um olhar diferenciado na hora de receber esse imóvel e já comunica a secretaria e a gente faz a visita com a chave desses imóveis.
Dessas imobiliárias, 100%, entregam as chaves para fazermos as visitas. Só que o imóvel fechado com imobiliária é uma realidade da classe alta e da classe média. Na periferia, quando se fecha uma casa para alugar ou para vender, eles partem para a economia informal. Normalmente a chave fica com um parente, com o vizinho e a gente tenta, de toda as maneiras, entrar em contato com a pessoa para entrar na casa. Mas se não for possível, nós temos garantia judicial para com o auxilio do chaveiro, entrar na casa, coisa que nós não tínhamos no verão passado.
Nós não podíamos entrar por se tratar de uma propriedade particular privada. Nós fomos até o judiciário que concedeu uma autorização para que podermos tomar essa medida. A gente evita ao máximo isso, mas em alguns casos é necessária.
Outro tipo de imóveis que ficam abandonados são aquelas obras paralisadas. Tanto da construção comercial quanto da residencial. A gente nota que em dezembro, janeiro e fevereiro, a maioria das obras reduz muito as atividades porque têm o gasto com décimo terceiro, tem férias, tem começo do ano com toda essa carga de gastos tributários, enfim, chove demais, a obra não rende.
Então normalmente as pessoas paralisam as obras neste período e retornam em março e essas obras são sempre um grande problema pra gente porque ficam latas, não tem morador, acumula água. Nós temos feito uma parceria com o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) na fiscalização destas obras. Os fiscais do CREA foram todos capacitados para fiscalizar obras, tanto em andamento, como obras paralisadas, no intuito de que não se transformem em locais de proliferação do mosquito.
E temos aquelas grandes obras que ficaram inacabadas e são pontos estratégicos onde a gente faz visitas quinzenais, que é, rodoviária que não foi conclusa, o antigo Alhambra, na Rui Barbosa, o Mercado do Produtor. Nessas obras estão grandes metros quadrados que foram paralisados há muitos anos e que são massas falidas. Você não tem um responsável por aquilo ali para acionar, judicialmente, então a gente acaba tendo que fazer um trabalho de intervenção.
CP News: Leishmaiose. Primeiro de tudo eu gostaria que o senhor explicasse aos leitores o que é a leishmaniose e de que maneira ela pode ser contraída?
Mandetta: A leishmaniose e a dengue têm diferenças muito importantes. No caso da dengue, a população, ao mesmo tempo que é vítima, ela é a produtora da situação da doença. Dengue é comportamento.
Leishmaniose é uma doença mais complexa. Ela precisa do mosquito, que não tem nada a ver com água parada, e de um hospedeiro, outro animal para esta cadeia, que no meio urbano é o cachorro. Essa relação homem cão é muito íntima, muito próxima. Quando o cachorro esta com a leishmania na sua corrente sanguínea, o mosquito pica o cachorro e pica o ser humano e ai o ser humano adoece.
Ela é uma doença que não é viral, é uma leishmania, outro tipo de situação. A pessoa vai apresentando os sintomas de uma maneira muito lenta. Vai havendo uma febre baixa, mal estar, dor abdominal e, talvez a pessoa ache que não é nada, que vai passar. O quadro é um quadro arrastado, não é de apresentação de doença aguda, como é a dengue,. E o diagnostico precisa que o médico pense mais nessa possibilidade de leishmaniose, solicite alguns exames específicos pro diagnóstico e de tratamento muito mais prolongado, muito mais rebuscado que o caso da dengue.
Essa doença, em 1999 foi confirmado o primeiro caso em Campo Grande. A Capital não tinha a leishmaniose visceral, só a cutânea, na pele, que veio na época da construção da estrada de ferro, 1914. Como ela veio de Bauru, até se chamou, durante muito tempo, essa doença aqui no nosso meio de úlcera de Bauru, porque fazia uma ferida na pele.
CP News: Ao lado das regiões Norte e Nordeste do País, a região Centro-Oeste apresenta o maior percentual de mortes causadas pelo vírus HIV. Nós gostaríamos de saber se o senhor pode traçar um panorama desta situação, comparando-a com anos anteriores.
Mandeta: Nós temos, no Brasil, uma história de sucesso com relação aos prognósticos que eram feitos no início desta epidemia mundial do o HIV. O Brasil é uma referencia mundial como estratégia de programas de prevenção, atendimento, fornecimento e garantia de medicamentos. O SUS (Sistema Único de Saúde) quebrou, inclusive, patentes de laboratórios internacionais para poder dar condições. Criou o conceito de drogas essenciais. O Brasil hoje faz toda a proposta pra ONU (Organização das Nações Unidas), pra Organização Mundial de Saúde dos sistemas de Saúde pública no quesito Aids.
A preocupação das pessoas em relação a Aids, como você diminuiu aquele quadro dramático, aqueles casos públicos, como foi o Cazuza que foi ficando doente na frente das câmeras e aquilo suscitava um grande debate. Doeu muito em toda uma geração, perder o seu maior poeta, o seu maior tradutor. E hoje, como você tem um tratamento em que aquele quadro não se comporta mais daquela maneira tão agressiva que chocava e mobilizava tantas pessoas no que se refere a prevenção, a gente assiste já, a um aparecimento da doença e dois públicos. Na terceira idade, onde você tem, com o aparecimento de medicamentos como o Viagra e o Siales, uma geração que voltou a ter uma atividade sexual e que, culturalmente não usa preservativo. A contaminação das mulheres por parte dos parceiros. E a gente vê o início das atividades sexuais do adolescente, como grupo de risco principal, puxando as estatísticas.
Nós temos em Campo Grande uma estabilização. Não temos um dado de aumento no número de casos. O DST/Aids de Campo Grande é título de excelência. Temos um trabalho grande em parceira com Organizações Não Governamentais que chegam aos locais em que o poder público, eventualmente, não pode chegar, q’ue faz um trabalho com profissionais do sexo, mapeamento de áreas de prostituição, nós temos um programa de redução de casos onde nós identificamos os drogados que usam seringas. A gente faz o cadastro e o fornecimento para que eles não compartilhem seringas. Nós temos um mapeamento muito forte por parte da Saúde municipal dessas situações. Mas a gente assiste, ao aumento da prostituição, inclusive na classe média, masculina, em Campo Grande, q era algo que voce tinha pouco número de casos, hoje nós temos muitas saunas, muitas casas de prostituição masculina. A gente tem uma série de desafios com relação a Aids. Temos uma história de sucesso, diminuímos muito a mortalidade, temos pessoas vivendo com HIV, mas assistimos, por exemplo, um número menor de pessoas fazendo testes preventivos. Todas as nossas unidades de saúde pagam o teste para a Aids, basta a pessoa solicitar. Nós temos todo o trabalho muito bem estruturado com relação a Aids no município de Campo Grande.
CP News: Secretário, hoje em dia o portador do vírus já não tem mais um perfil pré-estabelecido não é mesmo?
Mandetta: Não tem. No começo ela era comportamental, hoje para cada dois homens você tem uma mulher. E nós estamos rapidamente chegando a um homem e uma mulher. A mulher nos preocupa demais porque, como a faixa etária principal é dos 15 aos 40 anos, essa é a idade reprodutiva da mulher, então, a transmissão vertical, para o bebê é muito perigosa. A mulher compartilha, por conta da estética, manicure, os materiais cortantes, e você aumenta mais ainda o potencial de risco.
CP News: Qual a avaliação que o senhor faz sobre a situação da Saúde hoje no município de Campo Grande?
Mandetta: A Capital tem hoje uma situação dúbia. Se nós fossemos atender ao município de Campo Grande, exclusivamente, nós teríamos uma capacidade instalada pra lá do ideal, teríamos um fluxo de exames sem demanda reprimida. Nós sabemos que o cenário é muito bom.
Quando você melhora a oferta, aumenta a demanda. Quando a gente investe mais em saúde, os municípios que investem menos começam a mandar os pacientes pra dentro dele. Se você faz mais atendimento, as pessoas procuram mais, se você fornece mais medicamento as pessoas procuram mais. Então isso se torna uma relação muito complicada.
Nós trabalhamos e recebemos recursos para atendermos uma população de 750 mil habitantes, que é a população de Campo Grande, e fazemos atendimento pra uma população de três milhões de habitantes; 2,5 milhões de outros Estados, mais a população dos nossos países vizinhos, que são muito pobres, que não têm verba para investir em saúde pública, que é o caso da Bolívia e do Paraguai.Mais toda a região da calha norte, que acaba vindo para Campo Grande porque não tem atendimento em Rondônia, não tem no Acre, no Norte do Mato Grosso. Cuiabá é uma cidade que, sistematicamente, manda para Campo Grande a alta complexidade.
Então, Campo Grande acaba pagando um preço por estar correndo atrás de uma demanda muitas vezes maior do que a sua capacidade instalada. Isso é possível de ser corrigido desde que você tenha um grande investimento em informática e que você consiga ter a sua população pleiteada nos seus programas e que os outros municípios são entrem mediante autorização prévia e pactuem. Já que querem manda para Campo Grande pacientes para tratar de cardiologia, ortopedia, mandem o paciente, mas mandem o recurso. O nosso grande esforço agora é no sentido de organizar um sistema de regulação já a partir de 2008.
Quando a gente assumiu, encontramos uma situação bastante complexa no setor hospitalar. O setor hospitalar de Campo Grande precisa de uma Santa Casa forte, do HU (Hospital Universitário) funcionando.
Nós encontramos a Santa Casa fechada, O HU com o pronto-atendimento fechado, o Hospital Regional Rosa Pedrossian sem condições de responder porque não tinha organização e ainda não é um hospital que tenha assumido uma responsabilidade e que dê condições da gente colocar efetivamente para algumas áreas de alta complexidade. É um hospital fantástico, mas que precisa se estruturar melhor.
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* Proximo entrevistado será o presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Edil Albuquerque (PMDB)