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ENTREVISTA Sábado, 25 de Junho de 2022, 08:52 - A | A

Sábado, 25 de Junho de 2022, 08h:52 - A | A

Entrevista

Histórias de um tatuador

Tarsis já fez tatuagem em genitália com a frase “bem vindo ao inferno”

Renata Silva
Especial para o Capital News

Acervo pessoal

Histórias de um tatuador

Tarsis trabalhando em seu estúdio de tatuagem

“Ser tatuador é ser tudo um pouco. É ser pai, amigo, irmão mais velho, as vezes filho, psicólogo e por aí vai. São tantas histórias, que a gente se conecta com várias pessoas”, assim descreve o Paulista Tarsis que há cinco anos esta em Campo Grande transformando histórias, sentimentos, sonhos em tatuagem.

Quem, desde criança, não ouviu a pergunta: O que você quer ser quando crescer? As respostas são as mais inusitadas, desde pequeno Tarsis Caetano Silva Souza de 33 anos já sabia o que queria ser e dava os primeiros sinais da profissão que seguiria. “Eu chegava da escola em casa com desenhos no braço que eu fazia em mim mesmo, as vezes meus amigos viam e me pediam pra fazer desenhos nos braços deles e eu já achava aquilo um máximo” detalha.

O jovem atua como tatuador há 8 anos, mas como profissional na área ha 5, nessa caminhada já ouviu tantas histórias em seu estúdio, muitos dos clientes, são hoje amigos. Tarsis se lembra de um casal de clientes e não esqueceu mais. “Uma delas foi de um casal que perdeu o filho pequeno. O marido pediu pra fazer um desenho pra ele, eu confesso que fiquei nervoso, porque ele tinha uma postura bem rígida, pensei: se eu errar ele me mata.

"Arte tinha um pai levando o filho com asas de anjo até os portões do paraíso. Foi bem incrível fazer essa tattoo"

 

No dia que ele fez a tatuagem e ele olhou no espelho pronta, ficou mudo, eu quase desmaiei de tensão. Então, chamou a esposa e os dois começaram a chorar. Eu só percebi que os dois estavam chorando, após um tempo e aquilo me emocionou muito. A arte tinha um pai levando o filho com asas de anjo até os portões do paraíso. Foi bem incrível fazer essa tattoo”, lembra.

O tatuador conta que a primeira tatuagem em seu corpo foi aos 18 anos, após pedir permissão aos pais. Ele fala que quando chegou ao local aonde faria o desenho se apaixonou e não largou mais a ideia de seguir a profissão, só não sabia dos desafios que enfrentaria.

Acervo pessoal

Histórias de um tatuador

A primeira tatuagem que o Tarsis fez nele


Para realizar o sonho, Tarsis saiu de casa porque os pais não aceitavam a orientação sexual dele. O tatuador conseguiu concretizar o sonho dois anos depois, após chegar em Campo Grande. “Minha primeira tatuagem foi em mim mesmo, uma Lady Gaga toda feia com traços bem grossos que eu tenho na minha perna esquerda. Eu não a cobri até hoje, tem um valor meio sentimental”, destaca.

O tatuador fala que cada cliente é uma história e uma possibilidade de mais pessoas conhecerem a arte e sua pessoa. Ele considera que o mais importante é focar sempre em ser um profissional melhor e não esquecer de ser uma pessoa melhor, dia após dia.

6 Curiosidades do tatuador

Capital News: Qual foi a tatuagem mais maluca que fez?

“Bem-vindo aos portões do inferno”

Tarsis: A mais maluca que eu já fiz foi uma frase de uma amiga. Ela teve a ótima ideia de escrever bem perto da genitália: “bem-vindo aos portões do inferno”, pra mim foi a mais ousada que eu topei fazer, e só aceitei por ser alguém que eu conhecia. Geralmente não aceito tatuagens que eu considero pejorativa ou meio promíscua.

Capital News: O pedido de tatuagem mais inusitado?
Tarsis: Um dos pedidos mais inusitados foi uma frase bem pejorativa nas nádegas da pessoa. E foi até meio cansativo explicar pra ela que eu não pegaria pra fazer, a pessoa ficou insistindo por vários minutos até que no final eu precisei ser rude e bloquear o contato porque até fotos e nudes ela estava mandando.

Capital News: Como é no dia dia?
Tarsis: O dia a dia é bem corrido e focado como qualquer profissão, às vezes as pessoas acham que pode ser fácil por não ser trabalho braçal ou algo do tipo, mas pode ter certeza que é cansativo e envolve muito psicológico. É uma profissão que exige muito da minha mente e também da minha estabilidade emocional. Já tive que cancelar e reagendar 2 dias de agendamento (em torno de 5 clientes) por estar com ansiedade, doente, preocupado com algo. Prefiro fazer isso do que atender sem estar no meu 100%. Tem gente que entende e tem gente que não, mas eu acho essa a maior sinceridade e respeito que eu posso ter com o cliente que quer meu serviço e minha total disposição.

Capital News: Já errou uma tatuagem?
Tarsis: Ja errei sim, kkkk, infelizmente acontece muito no começo, hoje paro pra ver algumas tatuagens minhas do começo e penso (misericórdia). Recentemente fiz uma cobertura na perna do meu próprio marido de uma tatuagem que eu tentei fazer ha uns 7 anos atrás e confesso que não consegui terminar porque não sabia como. Kkkk

Capital News: Quem quer ser um tatuador, por onde começar?
Tarsis: Acho que hoje para ser tatuador, além do básico como saber desenhar e ter disposição para pensar nisso 100%, além disso, tem uma parte muito importante que é o atendimento ao público. Vejo muitas reclamações de postura e arrogância em questão ao atendimento no comércio em geral, principalmente com vendas e tudo mais. E atender pessoas é quase tão importante do que só fazer a tatuagem.

"Focar sempre em ser um profissional melhor e também não esquecer de ser uma pessoa melhor, dia após dia"


Capital News: Qual a dica que você deixa?
Tarsis: Cada cliente é uma história e uma possibilidade de mais pessoas conhecerem sua arte e sua pessoa. Então acho que a dica seria focar sempre em ser um profissional melhor e também não esquecer de ser uma pessoa melhor, dia após dia.

Acervo pessoal

Histórias de um tatuador

Tarsis trabalhando em seu estúdio de tatuagem

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