O presidente da Acrissul (Associação dos criadores de Mato Grosso do Sul) Chico Maia conversou com exclusividade ao Capital News e debateu assuntos como crise econômica, força do agronegócio, sanidade animal e também sobre a 77º Expogrande 2015, que acontece entre os dias 23 de abril ao dia 3 de maio em Campo Grande. Confira abaixo à entrevista.
Capital News - Nesses 3 mandatos como presidente da Acrissul, como analisa este trabalho de quase 6 anos?
Chico Maia – Tenho muito orgulho de todo esse tempo trabalhando pelo setor. Isso tudo aqui é uma doação, é uma doação de tempo, eu não recebo nada, a gasolina do meu carro é minha, isso tudo aqui é um tempo dedicado ao setor apenas. Nesse tempo todo passamos por momentos importantes nessa trajetória, tive muita felicidade de viver um momento em que o setor se consolidou na economia do país e isso não vem por acaso, é graças ao produtor que se especializou, investiu no seu negócio, houve acesso aos bens de consumo, a arroba do boi que antes quando eu assumi você tinha que matar 100 bois para comprar uma caminhonete, hoje você mata 35 cabeças. Houve uma valorização, então me sinto parte importante desse desenvolvimento do agronegócio local, durante esses anos enquanto presidente desta casa me sentem muito honrado. Na Acrissul é inquestionável que houve uma transformação de espaço físico e econômico, estamos entregando uma entidade consolidada, robusta, patrimonialmente rica e financeiramente estável. É uma entidade reconhecida pelo seu patrimônio e pela vanguarda da pecuária, não vou renovar meu mandato por que acredito que as coisas precisam ser renovadas, precisam de mudança, então esses 6 anos foram importantes mas não pretendo ser presidente novamente depois que o mandato acabar.
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Chico Maia, presidente da Acrissul fala sobre seu trabalho durante quase 6 anos a frente da Acrissul
Capital News - E o agronegócio continua forte e em desenvolvimento?
Chico Maia – Hoje talvez seja o setor do país que não tem “jeitinho”. Não tem esquema, não tem jogada, aqui tem que trabalhar e hoje as pessoas vêem isso, é o setor que tem a menor presença possível do Estado. Hoje estamos vivendo um setor consolidado onde se tiver bom para a indústria, o consumidor e o agronegócio está bom para todo mundo. Por isso temos que sempre estar promovendo discussões com produtores para melhorar a qualidade da carne.
Capital News - O aumento da carne mostra que o setor está desajustado economicamente?
Chico Maia – Não acredito nisso. Mundialmente a carne não é um produto popular se falando de boi. É um produto que tem grande aceitação mas em nenhum lugar do mundo ela é barata por que ela custa caro. Esse custo de produção é muito alto, são dois a três anos investindo num negócio. A soja se planta, o arroz em três meses já se tem um retorno e a carne não. Esses valores mudam sim mas é por uma questão de custo e o que o valor demanda para o momento, não está relacionada a uma crise econômica.
Capital News – Estamos atravessando uma crise econômica e política no país. Como o setor agropecuário tem sobrevivido a esse período de instabilidade?
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Chico Maia acredita no fortalecimento do agronegócio mesmo com crise econômica no país
Chico Maia – Nós não estamos numa situação de sobrevivência. Estamos colhendo aquilo que a gente vem plantando há muito tempo em todas as esferas. Houve uma correção nos valores das commodities e isso dá uma margem melhor. É uma atividade naturalmente de muito risco, quando você planta você tem que olhar para o céu, o insumo mais caro da agricultura é a água, não são os fertilizantes. Você tem que arrumar o solo mas olhar para cima. É uma atividade de muito risco mas temos dado sorte que estamos passando por um momento climático favorável e o mundo consumindo, a China consumindo, ou seja o Brasil não é mais só o país do futebol e do carnaval, nós somos reconhecidos pela produção.
Capital News – A geração de emprego, renda e investimento em tecnologia continuam?
Chico Maia – Nós somos um dos setores que mais emprega no país, com mão-de-obra que envolve a terra e a tecnologia, a ciência tem evoluído para agregar esses elementos. Com certeza a tecnologia é uma parceira do produtor rural. Você tem um trator guiado por GPS, que mapeia as regiões e áreas que precisam de cuidado, de precisão, com tecnologia de alta qualidade, então hoje isso tudo está ligado e em sintonia, emprego e tecnologia no campo trabalhando juntos.
Capital News – Temos uma campanha de aftosa atuando. O produtor rural está se preocupando mais com a saúde animal e o controle de qualidade?
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Chico afirma que Campanha da Aftosa mostra que produtor está preocupado com sanidade animal
Chico Maia – Quando você combate uma coisa que você não vê, você só pode fazer isso com consciência, pois o vírus não se vê. O produtor tem que ter a consciência de que a sua “não ação”, pode gerar problemas. O produtor tem essa consciência, ele pratica isso, ele vacina seu gado por que nós sabemos que só alcançamos esses valores com sanidade. Sem sanidade não tem mercado. Por que hoje não basta ser o maior produtor. Tem que ter qualidade naquilo que se faz. Quantidade sem sanidade não abre portas para ninguém.
Capital News – A ministra da Agricultura Kátia Abreu afirmou que o ajuste fiscal não afetará o agronegócio. O senhor acredita nessa situação?
Chico Maia – Embora eu não acredite na ministra eu acredito que esse processo não terá tanta conseqüência negativa para o setor por que isso é vital. O agronegócio é um órgão vital que tem que ser protegido e acompanhado. Hoje o agronegócio é o que segura o país hoje. Temos diferenças de posições ideológicas ao governo, em alguns aspectos com tudo que está acontecendo no país mas o agronegócio está firme. Ampliou-se as linhas de crédito, o banco do Brasil representa muito, os bancos de primeira linha, os juros atrativos então esse cenário sobrevive muito bem às crises econômicas.
Capital News – O Plano Nacional de Defesa Agropecuária será lançado no dia 6. Essa é mais uma prova de que o controle sanitário é o principal item para os bons negócios no campo?
Chico Maia – Todas essas exigências ambientais, sanitárias são fundamentais desde que não se haja exagero. Exemplo, o Pantanal. Ele tem uma atividade pecuária a 280 anos e compõe o gado com a presença do homem e 86% do nosso bioma é preservado. Tem que se ter bom senso e não pode ser radicalizado. Essa é uma verdade absoluta, o controle é importante a vigilância é importante, o meio ambiente é importante mas tudo tem que ser feito sem exageros. No Brasil existe uma característica do brasileiro que é a pessoa não saber o que está falando e ainda “virar doutor”. As coisas não são assim, nós temos que saber o que exigir e o que fazer principalmente.
Capital News – O CAR (Cadastro Ambiental Rural) tem sido importante nessa preservação e consórcio produção x meio ambiente?
Chico Maia – Nós temos que ter a situação legalizada para não se ter dúvidas quanto às regras que devem ser cobradas e exigidas. Hoje temos dúvidas se o produtor vai comprar uma área de determinada propriedade e região pois ainda não está definido o que pode e o que não pode ser feito. Isso é importante por que através do CAR você mapeia e tem a sua situação assegurada. Mas é necessário ter uma flexibilidade, eu vejo os produtores rurais atuando dentro do possível para trabalhar dentro das regras e do que for necessário.
Capital News – No âmbito estadual, como analisa os primeiros meses do governo tucano, no que se refere ao cenário do agronegócio?
Chico Maia – O governador Reinaldo Azambuja está comandando o estado numa situação nacional tumultuada, onde ninguém acredita em ninguém e a cada momento se reduz mais as esperanças ele tem mostrado bem suas condutas e seus princípios. Nós precisamos ter referência, que os impostos estão bem alocados, que estamos trabalhando, que tem que ter responsabilidade. Ninguém está esperando hoje que o governador Reinaldo chegue amanhã e faça uma ponte que ligue Mato Grosso do Sul a São Paulo, esperamos que ele coloque em prática uma gestão ética, não esquecendo o setor do agronegócio. Nós só queremos isso. O setor do agronegócio precisa muito pouco do governo, a não ser a infraestrutura que é papel deles. A conduta tem sido muito serena, nada espetacular e pirotécnica e nem é isso que queremos. Ele está fazendo o possível e tem que ter um pouco de paciência.
Capital News – Sobre a Expogrande, as expectativas são as melhores?
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Parque de Exposições Laucídio Coelho quase pronto para receber produtores e população
Chico Maia – São 77 anos de história. Para isso acontecer tem que sempre ter algo a mais. Apenas 1 ano não teve feira que foi na segunda guerra mundial pois os produtores precisavam alimentar os soldados. Todos os anos tivemos com revolução, sem revolução, que é uma expressão máxima das nossas culturas e dos nossos valores. Eu espero que tenhamos uma boa feira, mesmo com um período em que não se houve feira. Não existe festa boa sem gente para aproveitar, então quero que o povo participe, curta os vários shows, os produtores façam bons negócios, passeiem as crianças no parque então com certeza será uma festa boa.
Capital News – Espera mais de 600 milhões em negócios na feira? Produtos agrícolas? Leilões?
Chico Maia – No ano anterior chegou o relatório com leilões, comercialização, todo o montante deu R$ 600 milhões aproximadamente dando um salto extraordinário. Eu não vou confirmar isso sozinho então chamei os diretores dos bancos que afirmaram o valor de 600 milhões. Se tivermos uma queda de 10 a 20% desse valor está de bom tamanho. Temos que considerar no que se refere à pecuária os valores serão majorados por que o preço do animal, da arroba aumentou. Teremos 36 leilões mostrando animais de extrema qualidade, procedência, com presença muito forte da eqüinocultura com 600 cavalos a mais dentro do parque então vai ser uma festa ampla para mercados, leilões, muita palestra, fórum da pecuária, dia de campo que vai demonstrar ao produtor que quando se adota métodos de produção com boa genética, bom manejo e sustentabilidade você alcança índices extraordinárias como desmamar um bezerro nelore com 300 quilos.
Capital News – O parque passou por reformas. Quais foram essas principais mudanças?
Chico Maia – Fizemos mudanças com 30 mil metros de nossa área e construímos um supermercado que é patrimônio da entidade e graças a esses recursos e o aluguel é que permitiu nós investirmos implantar exigências que deveriam ser feitas e atendidas com mais de 1 milhão e meio no parque. Com rede de esgoto de 1700 metros aqui dentro, uma estrutura de bombeiros para acompanhar vistorias para ficar de acordo com as normas dos bombeiros, implantamos vários hidrantes, portas, extintores para que se adéqüe ao necessário. Aqui antes era um parque de “puxadinhos”, com várias barraquinhas, e agora transformamos, derrubamos mais de 20 mil metros quadrados de área para facilitar o nosso selo de licenciamento ambiental. Tudo que se imagina de regra sanitária foi feito. O parque está bonito e coloco o desafio de você andar em Campo Grande e encontrar um parque mais bonito que esta praça das figueiras que tem no nosso parque. Está realmente muito bonito e vamos transformar isso aqui num parque de eventos.
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Parque de Exposições tem reforma concluída com mudanças em 30 mil metros quadrados
Capital News – Com todas essas mudanças, faça um convite a comunidade para participar desta grande festa, patrimônio da cidade.
Chico Maia – Nós estamos de braços abertos e portões abertos para receber todo o povo sul-mato-grossense. Tudo foi feito com muito cuidado, com muito zelo, com a devida importância que tem o nosso setor, durante esses 10 dias vamos mostrar a nossa cultura, a nossa alegria, o nosso trabalho e a nossa produção. Acredito que serão 10 dias de muita diversão, negócios, afinal festa boa tem que ter gente, venham todos participar.
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