Equipe Renault o que pode acontecer agora?
O furo satisfaz o jornalista, mas traz consigo uma tensão que machuca. Se o tema for tão polêmico como este envolvendo Renault e Nelsinho Piquet, a tensão começa quando você junta tudo o que apurou das fontes e conclui que existe o fato, e vai até além do momento em que toma a decisão de revelá-lo. Primeiro por causa da reação das pessoas, que sempre vai ser de espanto e dúvida. Chega um momento em que isso faz balançar a sua própria confiança na apuração. Depois, com a bomba repercutindo em sites do mundo todo, aparecem as pessoas fazendo perguntas, querendo saber se fulano está envolvido e tentando interpretar à maneira delas.
Nesse caso de Spa, apesar da confiabilidade das fontes, para não correr o risco de cair no descrédito, depois de jogada a bomba, eu precisava de uma confirmação da FIA, que só uma pessoa com relacionamento muito bom com os representantes da entidade que estivessem ali no autódromo poderia conseguir. É aí que entra o trabalho do nosso produtor Jayme Brito, naquele momento com a função de meu anjo da guarda. Quando ele chegou na pessoa certa e levantou a questão, ouviu o seguinte comentário: "Pensei que eu fosse ter um fim de domingo tranqüilo". Aquilo já era uma confissão, mas precisávamos bem mais — de uma declaração oficial. Sei lá como conseguiram localizar o presidente Max Mosley naquele começo de noite, mas sei que, em questão de 15 minutos, veio a confirmação. Recuperei a respiração e a cor.
Na sequência ouvi histórias de gente que tinha certeza ou, no mínimo, desconfiava da fraude, inclusive com citação de nomes de pilotos e funcionários de outras equipes. Foi exatamente por tratar-se de um assunto que já circulava no meio desde a corrida de Cingapura que acabei citando uma conversa de algum tempo atrás com Felipe Massa, que não é parte do processo, não é testemunha, muito menos fonte. É apenas mais um que sempre ouviu histórias a respeito do caso. Pelo que ouvi de companheiros em Spa, provavelmente o único a nunca ter brincado sobre Cingapura é Alonso.
Algo assim tão grave um dia viria à tona. Mesmo que seja movido pela intenção de Mosley de fisgar mais um de seus inimigos, o Briatore, o que importa, agora, é chegar aos culpados, em benefício do esporte. Mosley está mesmo de saída. Deixa ele se vingar à vontade, que acaba surgindo mais sujeira para ser expurgada. Me contaram que o ambiente entre os investigados pesou em Spa no sábado enquanto estávamos preocupados com a prova de classificação. O diretor Pat Symonds viveu um corre-corre no paddock, no domingo Flavio Briatore teve aquela atitude incomum de ir pessoalmente ordenar aos mecânicos que fizessem Alonso abandonar a corrida quando foi constatado um defeito na roda dianteira esquerda. E, minutos depois, abandonou o autódromo.
A empresa contratada pela FIA para investigar já tem gravações de conversas de rádio entre equipe e pilotos na corrida de Cingapura, dados da telemetria do carro antes e depois da batida, depoimentos de engenheiros e alguns mecânicos. Alonso e Nelsinho são parte do processo. O que pode acontecer de agora em diante? Na equipe Renault existe muita gente que não teve participação. Acredito que os culpados pertençam a um pequeno grupo, e a investigação deve concluir que a idéia foi do Briatore. Nelsinho tem sua carreira comprometida e a Renault pode até sair da F1, mas já está em curso uma operação para evitar a saída da montadora que, além de ter sua equipe própria, ainda fornece motor para a Red Bull. Bernie Ecclestone vai se empenhar nisso em busca de soluções menos drásticas. Exceto para Briatore, um ex-parceiro de negócios que ele já abandonou há algum tempo.