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Flavio Briatore sai pela porta dos fundos da F1
O meu fim de semana de Monza girou em torno do caso Renault. Como já esperava, eu fui muito procurado e seria chato dizer a companheiros de longa data que eu não tinha nada a dizer. Na verdade, o que eu tinha a dizer era apenas que cumpri minha obrigação com as pessoas que me ouvem ou lêem. A obrigação de informar, contando aquilo que a gente fica sabendo. Quanto à fonte, nem preciso ter o trabalho de negar a informação porque todos sabem que uma regra básica do jornalismo é preservar as fontes a qualquer custo. Não revelar jamais, ainda que muita gente desconfie.
O caso é tão serio que não merece brincadeira, mas alguma coisa que li nos jornais chega a ser divertido. Em italiano, expressões que conhecemos no nosso idioma ou no inglês, soam engraçadas. Numa matéria especulativa sobre quem seria a minha fonte, a "Gazzetta dello Sport" usou a expressão "Gola Profonda", que é a tradução do Deep Throat, apelido dado pelos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein para o seu informante secreto (era o título de um famoso filme pornô dos anos 70) no caso Watergate que derrubou Richard Nixon da presidência dos EUA. O "Corriere della Sera" fala em "capro espiatório", que vem a ser o nosso conhecido bode expiatório.
A única pessoa que não dava mostras de levar o caso a sério era o principal personagem, Flavio Briatore. Eu me surpreendi com o que vi na sexta-feira em Monza. Um clima de incerteza gerado por um comunicado da equipe Renault dando a entender que a montadora estava dando total apoio a Briatore, e o próprio chefe da equipe informando a jornalistas que estava abrindo processo criminal contra Piquet, pai e filho, por calúnia, difamação e extorsão. No momento em que viu o comunicado, meu companheiro Jayme Brito, produtor da Globo, que morou mais de 10 anos na França, já me chamou a atenção para algo que não batia. Pelas leis francesas, é impossível um indivíduo ou uma empresa iniciar um processo criminal contra alguém. Apenas o Procurador da República pode fazer isso, depois de analisar as evidências que surgirem de uma investigação judicial. Era a dica de que Briatore estava blefando. Mas o clima não condizia com isso. Havia no ar uma sensação de que o jogo tinha virado a favor de Briatore.
Na quarta-feira a verdade veio à tona com a demissão da dupla Briatore-Symonds. Aquilo de Monza tinha sido apenas o último suspiro do playboy. Quanto ao diretor técnico Pat Symonds, ele estava mais enrolado do que ninguém. As conversas de rádio deixam claro seu envolvimento, por exemplo, quando ele garante aos engenheiros que "sabemos como livrar Alonso do tráfego muito em breve". As mesmas conversas isentam os engenheiros da Renault, que se mostraram surpresos com a decisão de chamar Alonso para o box tão cedo (12ª volta). Briatore não abre a boca no rádio, até o momento da batida do Nelsinho. Aí começa o teatro de quem quer aparentar irritação com o erro do piloto. Hoje ouvi uma opinião curiosa do amigo Marco Mora — o Briatore teria xingado Nelsinho daquela forma, dizendo que "isso não é um piloto" apenas pelo fato de a batida ter saído mais forte do que o planejado. Estragou o carro. Faz sentido!
O material colhido nos depoimentos é extenso. E o que se tem visto hoje de informações pingando aqui ou ali é resultado do vazamento de informações que fazem parte dos depoimentos. Por exemplo, Nelson Piquet (pai) não deu entrevista alguma, mas apareceu no jornal "Sport", da Espanha, algo que faz parte do depoimento que ele prestou na Inglaterra para os investigadores da Quest, empresa contratada pela FIA, afirmando que Alonso devia ter conhecimento da tramóia combinada, o que parece óbvio. Não deve ser punido porque não é inimigo de Max Mosley, e nem tem uma folha corrida tão extensa quanto a de Briatore.