Durante a abertura do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas realizado pela Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), na manhã da última segunda-feira (1), o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Daniel Vargas argumentou sobre quem contribui mais para o aquecimento global com a emissão de gases causadores do efeito estufa (GEE) e quais as estratégias adequadas para mitigar esse problema.
Na palestra de tema “Transição Verde: conversão do verde ao valor”, realizada no Sebrae, o pesquisador rebateu ideia do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) acerca de setores poluidores. O IPCC é o organismo da ONU que concentra as discussões e elabora diretrizes para as políticas de combate às mudanças climáticas e que aponta como potenciais poluidores a Agricultura, a Pecuária, o Transporte e o Comércio.
O pesquisador explicou que a desconfiança lançada sobre a Agricultura tem a ver com a ideia de que qualquer aumento na produção demanda devastação de florestas. De acordo com Vargas, na Europa a média de produtividade das culturas se mantém inalterada há anos, e por isso não conseguem assimilar o aumento produtivo do Brasil, cujas safras têm sido cada vez maiores sem que a área plantada aumente na mesma proporção.
Daniel Vargas também apontou que a culpa da poluição muda a depender do contexto. Na exploração de petróleo, por exemplo, o ônus fica para os países que compram os derivados. Já na Agricultura, a conta recai ao país que produz. Essa distorção prejudica a América Latina e a África e beneficia os países ricos.
Vargas rebateu a teoria de que pecuária polui porque o boi emite metano. O pesquisador explicou que parte do metano que é gerado pelo bovino é transformado em água e CO2 num período de até 10 anos após a emissão. Esse CO2 acaba sequestrado pela vegetação que serve de alimento para o rebanho, de modo que o saldo de GEE acaba zerado nesse processo. “O Metano não é como o CO2 que dura até mil anos na Atmosfera. Não pode ser computado de forma cumulativa. A depender da qualidade do sistema produtivo implantado, julgado na melhor forma científica, o boi pode ser uma geladeira para o planeta”, afirmou.
O pesquisador também questionou a suposta superioridade do carro elétrico que circula na Europa, em contraponto ao motor flex movido a gasolina e etanol (ou só etanol) usado no Brasil. “O carro elétrico em si não polui nada, nem escapamento tem. Mas a energia que move esse carro é gerada por usinas termelétricas à base de carvão mineral, combustível altamente poluidor”, pontuou.