Os terminais da Capital não foram os mesmos nesta manhã de sexta-feira (22). Os vendedores ambulantes, com seus isopores contendo chipas ou outros salgados, estavam em menor quantidade para atender os usuários que aguardam os ônibus coletivos da Capital. Isso porque muitos deles participaram do protesto, em forma de passeata, contra a fiscalização da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran) para inibir o trabalho informal deles, pois há proibição municipal de vendas de ambulantes nos terminais da Capital.
Os vendedores fizeram a passeata passando pela Avenida Afonso Pena e foram até a Prefeitura, onde quatro de seus representantes foram recebidos pelo prefeito Nelson Trad Filho (PMDB), que afirmou que faria o cadastramento para legalizar o trabalho deles.
Os ambulantes acusam os fiscais da Agetran de abuso de autoridade na abordagem para retirada de seus produtos e proibição das vendas. Eles afirmam que acabam sendo humilhados com xingamentos e maus tratos por parte dos fiscais.

Clarice Correa da Silva, de 79 anos, reclama que os fiscais levaram seu dinheiro
Foto: Deurico/Capital News
A revolta teve auge com o caso de uma mulher de 79 anos. Clarice Correa da Silva tentou “salvar suas chipas” quando os fiscais chegaram ao terminal de ônibus Guaicurus (saída para São Paulo) para fazer “a limpa”. Clarice correu com sua mercadoria para o banheiro, e na pressa, acabou por deixar parte de suas coisas para fora, como seu dinheiro, que, segundo ela, foi levado pelos fiscais. Para a reportagem do Capital News, Clarice, que se trancou no banheiro até os fiscais partirem, explica que vende no terminal porque necessita pagar suas contas. “Eu preciso pagar meu aluguel”, afirma a senhora que assim como vários outros ambulantes, sai correndo com seus alimentos quando vêem os fiscais da Agetran chegando aos terminais.

Rudel Espíndola Trindade Júnior, diretor-presidente da Agetran, afirma que continuará com a fiscalização
Foto: Deurico/Arquivo Capital News
Na Praça Ary Coelho, após a passeata, os vendedores ambulantes aguardavam seus representantes que estavam em reunião com o prefeito e mostravam revolta e indignação com as atitudes dos fiscais da Agetran. O diretor-presidente da Agetran, Rudel Espíndola Trindade Júnior, argumentou e afirmou que a fiscalização vai continuar: “Nós temos o combate a venda dos ambulantes nos terminais e vamos continuar sempre com essa fiscalização”, disse Rudel,que ainda completou dizendo que a mídia muitas vezes pode achar um absurdo mas “as vendas tumultuam o trânsito de pessoas nos terminais”, exemplificando com o fato de cintos e sapatos serem espalhados pelos terminais para serem vendidos.
Por sua vez, os ambulantes afirmam que vendem apenas alimentos, e que estão dispostos a serem regularizados. “Não queremos nada de graça. É só estipular uma taxa, que seja ao nosso alcance, que nós pagamos para trabalhar, usamos até uniforme se pedirem”, disse a vendedora Mara Odete Azambuja.

Mara Odete Azambuja, fala da possibilidade de regularização dos vendedores ambulantes
Foto: Deurico/Capital News
Para Marten Krepel, o papel dos ambulantes vai além da informalidade: “Nós somos parte da história dos terminais”, exalta o rapaz, que também afirma que o trabalho deles não incomoda os outros usuários do transporte coletivo: “As pessoas querem também que a gente fique. É bom pra todo mundo”.
Acompanhada de dois filhos, um deles ainda no colo, Ana Paula Siqueira de Souza, que esperava o coletivo no ponto de ônibus, confirmou a tese de Marten. “Eles não atrapalham ninguém, pelo contrário. Às vezes a gente está com fome e não teve tempo de comer ainda, principalmente pra quem tem criança. Então é uma facilidade pra gente que está no terminal. Eles às vezes deixam as caixas no chão ou ficam sentados, não atrapalham a passagem de ninguém”, afirma Ana Paula, que diz utilizar frequentemente o transporte coletivo e passar pelos terminais.

Ana Paula Siqueira de Souza, usuária do transporte coletivo, gosta da presença dos vendedores ambulantes
Foto: Deurico/Capital News
Mais de quatro vendedores ambulantes afirmaram para o Capital News. “Nós poderíamos estar roubando, mas estamos trabalhando. Polícia pra prender bandido não tem, mas fiscal pra tomar nossa mercadoria tem de monte”, e Luiz Renato Nascimento, um dos vendedores ambulantes, ainda cobrou o prefeito Nelson Trad: “O Nelsinho disse que ia gerar emprego e não desemprego. Os cobradores já perderam seu emprego. Enquanto isso tem gente caindo dos ônibus porque o motorista não consegue enxergar quem desceu. E a gente sendo tratado como bandido e bicho, sendo que não roubamos ninguém”, reclama o vendedor.

Luiz Renato Nascimento diz que está trabalhando e é tratado como bandido e bicho
Foto: Deurico/Capital News
O diretor da Agetran explica que o procedimento de fiscalização não é fácil, e por isso ocorre “enfrentamento” e “bate-boca” entre fiscais e ambulantes: “A situação é complicada, os fiscais pedem e as pessoas não saem”, explica Rudel. A vendedora Mara Odete e outros ambulantes afirmaram que eles param de vender sim, mas voltam assim que a fiscalização sai do local, pois “se os fiscais estão fazendo o trabalho deles, os vendedores também estão”.
Por: Ana Maria Assis - (www.capitalnews.com.br)