As desigualdades sociais por cor ou raça são evidentes no Brasil, em Mato Grosso do Sul, segundo um estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça vinculado ao IBGE, que analisa as desigualdades entre brancos, pretos, pardos, amarelos e indígenas não é diferente. No que se refere a faixa salarial e mercado de trabalho, a cor tem influência no rendimento mensal dos trabalhadores, aponta a pesquisa.
A média de ganhos dos brancos, segundo o levantamento, está em R$ 3.099. O índice é 75,7% maior quando comparado ao dos pretos, que é de R$ 1.764. O número ainda supera em 70,8% a renda média dos trabalhadores pardos, de R$ 1.814.
Para se ter uma ideia a desocupação e informalidade atingem mais a população preta e parda. Em 2021, MS registrou 1,287 milhão de pessoas ocupadas. Dentre estas, 543 mil eram brancas, 96 mil pretas e 611 mil pardas. Em 2020, estes números eram 1,235 milhão, 522 mil, 79 mil e 606 mil.
A busca por uma oportunidade de emprego ou alguma ocupação, seja ela formal ou informal também é menor para as pessoas pretas. Em 2021, dentro da população branca, a taxa de desocupação ficou em 6,8%. Já entre a população preta a taxa ficou em 13,4%. Em 2020, os valores eram mais próximos. 8,3% para pessoas brancas, 11,7 para pretas e 10,1 para pardas.
Neste domingo (20) é celebrado "O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data foi instituída em novembro de 2011 e faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares.
Negro pernambucano que Zumbi nasceu livre e foi escravizado aos seis anos de idade. Ele Foi líder do Quilombo dos Palmares e morto em 1695 na região de Alagoas. A data celebra e relembra a luta dos negros contra a opressão no Brasil e marca a importância das discussões e ações para combater o racismo e a desigualdade social no país.
Sobre esse dia tão importante para a movimento negro e sociedade como um todo o Capital News conversou com a Romilda Neto Pizani. Ela é Educadora Social; Coordenadora do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro MS; Integrante da Diretoria Executiva do Grupo TEZ - Trabalho e Estudos Zumbi e é Representante Estadual da CONEN - Coordenação Nacional das Entidades Negras.
Acervo pessoal
Saber das suas origens, das diferenças, do padrão de beleza colocado, são fatores importantes para o crescimento e desenvolvimento de uma pessoa negra
1. Capital News: Na sua opinião, quais os principais desafios que a população negra enfrenta?
Romilda Pizani: Em primeiro lugar, a Segurança pública. O índice de pessoas negras mortas pelo estado é absurdamente maior do que todos os outros tipos de mortes. Em segundo a Educação Pública de qualidade e permanência da pessoa negra na escola e faculdade.
"O índice de pessoas negras desempregadas é três vezes mais do que o não negro"
O trabalho com carteira assinada também é um desafio. O índice de pessoas negras desempregadas é três vezes mais do que o não negro. As Políticas Públicas para a juventude negra como cultura, formação profissional e esporte também é um problema. Temos que ocupar os nossos jovens Negros de forma com que eles tenham a oportunidade de ter sonhos e se projetar para o futuro.
2. Capital News: Quais caminhos precisam ser percorridos para que haja mais igualdade?
Romilda Pizani: Muitas coisas, no entanto o investimento financeiro nas políticas públicas; Atualização e adaptação do que já existe são os caminhos mais assertivos.
3. Mercado de trabalho, o IBGE mostra que há diferença salarial dependendo da cor de pele, o que você pensa sobre isso?
Romilda Pizani: A estrutura racista já diz, temos o diagnóstico da disparidade salarial, mas não temos o diagnóstico do porquê desta disparidade. No entanto sabemos o porquê.
A partir do momento em que se publiciza os principais pontos sobre esta disparidade, automaticamente o Brasil deixa de passar a ideia de ser um país que não há racismo para ser mais um país que reproduz a estrutura racista das mais diversas formas e o mercado de trabalho é um deles.
4. Capital News: Você acha que houve um avanço nas políticas públicas voltadas a população negra?
Romilda Pizani: Sim, com certeza, nos últimos 20 anos podemos ver e constatar o que a educação faz na vida de uma pessoa, ou seria, a oportunidade tem que chegar ao alcance de todos.
5. Capital News: Como a população negra pode contribuir para um cenário mais igualitário?
Romilda Pizani: Se posicionando, assumindo a sua negritude, falando sobre o que te incomoda e propondo melhoria, seja no seu meio social, trabalho, família e etc.
Acervo pessoal
A transformação ocorre através do diálogo. A sociedade precisa, em primeiro lugar, compreender e aceitar as diferenças
6. Capital News: O diálogo é importante no que se refere a essa igualdade?
Romilda Pizani: Eu penso que a transformação ocorre através do diálogo. A sociedade precisa, em primeiro lugar, compreender e aceitar as diferenças. Só o conhecimento vai contribuir para que muitos pensamentos equivocados se desfaçam.
7. Capital News: Esse seria o primeiro passo para evitar a discriminação nas primeiras fases da vida?
Romilda Pizani: Com certeza contribuirá para que, a criança negra, ao adentrar numa escola, não seja discriminada, na rua, com boné, uma roupa, não seja discriminado por isso. A jovem, quando for em busca do primeiro emprego, não seja discriminada por isso é um processo de conscientização e é um processo demorado, mas que dá resultados.
"Saber das suas origens, quem você é, saber das diferenças do padrão de beleza colocado"
8. Capital News: Como a família pode contribuir nesse aspecto?
Romilda Pizani: A família negra é a base. Saber das suas origens, quem você é, saber das diferenças do padrão de beleza colocado, isso é muito importante para o crescimento e desenvolvimento de uma pessoa negra.