Em entrevista exclusiva concedida pelo presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Laucídio Coelho Neto, fala sobre o desenvolvimento da pecuária pós-aftosa. Entre os assuntos, os 70 anos da Expogrande previsto para o dia 3 de abril do próximo ano, as possibilidades para o couro em Mato Grosso do Sul e a arrecadação do Fundersul. Confira!
CP News: Recentemente a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) divulgou um aumento de 29% nas exportações de carne do País. Em quanto tempo o senhor acha que o Mato Grosso do Sul vai voltar a ter sucesso nas exportações?
Laucidio Coelho: As exportações virão paulatinamente. A Rússia já está comprando aqui, Israel, Egito, alguns países já retomaram as exportações. Nós fomos reconhecidos como área livre da Aftosa pelo governo federal, agora tem outro trâmite, que é junto a OIE e depois junto à comunidade européia. Se bem que, os dois processos estão correndo mais ou menos juntos. Eu acredito que isso deve consumir mais ou menos o primeiro semestre do ano que vem.
Eles estiveram no Estado recentemente e não falam o resultado das visitas, mas estamos aguardando o relatório da visita da Missão Européia para este mês ainda. Da OIE provavelmente em Janeiro, mas de acordo com as impressões dos técnicos responsáveis pelo acompanhamento, foram bastante satisfatórias as visitas.
CP News: Como o senhor acha que está a consciência do criador de gado em Mato Grosso do Sul depois de todo esse sufoco proporcionado pela febre aftosa no Estado?
Laucidio Coelho: A consciência do produtor nosso sempre foi extraordinariamente boa. Nós sempre tivemos índices de vacinação acima de 98% quando o número desejado é acima de 80%. Agora, infelizmente não é cem por cento e nem a vacina é cem por cento garantida. Não existe classe prefeita.
CP News: A preocupação maior continua sendo a fronteira com o Paraguai?
Laucidio Coelho: Vamos dizer que é o nosso Tendão de Aquiles, nosso ponto fraco. Temos ao longo dela vários assentamentos do lado do Brasil e do lado do Paraguai. Temos várias aldeias indígenas dos dois lados também. Temos casos em que uma não admite com a outra o trânsito interno. É uma situação delicada mas tem sido feito uma vacinação obrigatoriamente acompanhada por técnicos do Iagro e do lado de lá por técnicos paraguaios. Isso vem funcionando, ultimamente, muito bem.
Na fronteira com a Bolívia o Mato Grosso do Sul tem mais sorte porque do lado da Bolívia nós temos pouco gado. A Bolívia é mais problema pro Mato Grosso porque na região de Rondonópolis, por ali tem muito gado da Bolívia.
CP News: Como representante dos criadores de gado de Mato Grosso do Sul, gostaría que o senhor falasse um pouco sobre a rastreabilidade bovina.
Laucidio Coelho: A rastreabiidade na verdade é feita no Estado há mais de vinte anos, mas não dávamos esse nome a ela. Não era feita da maneira como é hoje. Era feita por propriedade como funciona no mundo inteiro, com exceção da Europa. Foi montada para efeito de controle da aftosa. Foi com essa rastreablidade que nós conseguimos eliminar do Estado a doença. A OIE por exigências da Europa, por causa do mal da vaca loca, que é uma doença que nunca ocorreu no Brasil nem na America latina, é que passamos a fazer essa rastreabilidade individual. Mas isso é uma exigência européia e estamos até achando que é mais uma barreira comercial do que sanitária.
CP News: O senhor acha desnecessária?
Laucidio Coelho: Desnecessária. A rastreabilidade necessária é a por propriedade, é o controle da propriedade. Não tem razão de ser. Na Europa, na França, foi criado porque os subsídios lá são altíssimos. Enquanto uma vaca nossa aqui custa trezentos e poucos dólares, um produtor na França recebe 500 dólares por amo de subsídios, por vaca. Então se a vaca viver 10 anos ele vai receber cinco mil dólares de subsídios fora o preço da vaca. Nós não temos subsídio nenhum. Muito pelo contrário, temos uma carga tributária elevada. Isso faz com que esse tipo de rastreabilidade seja caríssimo e quem ganha é a indústria e o europeu, o produtor nosso perde.
CP News: Recentemente, em uma entrevista a uma rádio de Campo Grande, o senhor citou o governo passado como Zeca Aftosa. O que o senhor quis dizer quando mencionou essa expressão? O senhor acha que faltou empenho do governo passado no combate a doença?
Laucídio Coelho: O governo passado assumiu e, trinta, trinta e poucos dias, que ele era governador já apareceu o primeiro foco e isso, tivemos várias reincidências ao logo de todo mandato. Sempre na fronteira. Nós tivemos num passado recente, o Iagro que, hora tinha dinheiro, hora não tinha dinheiro e sanidade é um trabalho permanente. Você não pode afrouxar hora nenhuma. E nós não conseguimos esse serviço com esse nível de atenção tão necessário.
CP News: O governo atual tem sido diferente?
Laucídio Coelho: O governo atual botou como prioridade número 1 do governo, a questão sanitária do Estado e houve um empenho da nossa secretária, Tereza Cristina, e nas nossas principais reuniões o governador se fez presente e isso mudou e fez com que nós conseguíssemos essa evolução tão grande na sanidade, recuperamos nosso status de área livre. E já temos recursos garantidos para 2008 e 2009 para a questão da sanidade. E pelo menos nos próximos dois anos, já temos verba garantida., o que nos garante pelo menos mais dois anos de uma atenção sanitária em alto nível.
CP News: A Acrissul lançou no mês passado, o Centro de Promoção Comercial e Tecnológico da Agropecuária. Qual o objetivo dele?
Laucídio Coelho: Na verdade o Centro dá mais forma no que nós sempre fizemos. Nós temos aqui o auditório, o recinto para leilões e que nós usamos também para fazer palestras. Só que o nosso recinto hoje é muito grande, então m quando a gente tem uma reunião que não cabe no nosso escritório e a gente leva pro auditório, o auditório é grande demais. Então nós estamos fazendo um prédio menor com todo o equipamento, tanto para fazer as palestras, fazer os encontros, como também servirá para fazer leilões. Então é um prédio de multi-uso e nós vamos ter condição então, de fazer os nossos leilões, a divulgação de tecnologia, com mais e conforto e melhor aparelhado para receber nossos associados e os produtores do Estado.
CP News: A Acrissul já está se preparando para a edição de número 70 da Expogrande. Quais as novidades que o setor pode esperar?
Laucídio Coelho: Setenta anos é uma data bonita, uma data marcante. Esta é a segunda exposição mais antiga do Brasil e isso nos traz muita responsabilidade. Mato Grosso do Sul tem a qualidade de gado que tem, a qualidade de pecuária que tem e evidentemente em função da qualidade dos seus produtores, mas tem uma grande parcela disso ai que é da Acrissul. Foram 70 anos divulgando genética, produzindo genética de qualidade para o Estado, divulgando tecnologia e fazendo promoção comercial. Então será uma grande festa e num momento muito oportuno que é essa recuperação do status exportador, a recuperação de preços que ta acontecendo desde o mês passado e esperamos que se mantenha durante a safra, um preço significativamente melhor do que no ano passado. Então, digamos assim, vai ser uma exposição mais caprichada do que o normal, dada esta data festiva.
Os preços ainda estão recentes e no período de entre safra a comercialização é relativamente pequena, então nós esperamos consolidar um pouco mais para ter uma projeção no que se refere a movimentação financeira prevista. Acreditamos que os preços devem ceder um pouco, por causa da safra, por causa da oferta, já estão cedendo, mas nós esperamos que se estabilize em um patamar razoavelmente bom em função dos dois últimos anos. Nós esperamos esse ponto de equilíbrio para ter uma projeção
CP News: O que o criador pode esperar no que se refere a palestras?
Laucídio Coelho: A programação da parte tecnológica está ainda em aberto mas ela vai ser muito forte. Nós temos o apoio da Embrapa, que está preparando os nomes, os temas e este ano está bastante avançada o apoio da CMA e do Sindicato das Indústrias Fabricantes de Vacinas. Com esse reforço pra esse ano nós acreditamos que vamos ter ainda palestras, encontros de nível superior. Sem desfazer do passado, mas esperamos dar um ganho a mais nessa parte. Mato Grosso do Sul está passando por um momento muito importante em sua economia que é a diversificação . Estamos tendo um avanço muito grande do eucalipto, cana, e essas áreas estão saindo principalmente da pecuária. E nós só vamos ter uma pecuária melhor ainda do que nós temos e continuar crescendo com tecnologia, agregando mais tecnologia ainda. Então no curto e no médio prazo, a tecnologia que já era e sempre foi importante, passará a ser de uma importância muito maior.
Em Campo Grande, em especial, no decorrer ainda do primeiro semestre do ano que vem, estará entrando em funcionamento o frigorífico Bertin, que será o maior frigorífico do País. E também será aberta a segunda etapa do Friboi, que será o segundo maior frigorífico do Brasil em Campo Grande.
Então Campo Grande sempre teve uma característica de ser a maior praça do Brasil em comercialização de gado magro e passará, no decorrer do primeiro semestre do ano que vem, a ser a primeira praça do Brasil na comercialização do boi gordo. Então nós já temos por indicação do vereador Edil Albuquerque, que deu a denominação de Campo Grande A Capital da Pecuária, nós vamos ser realmente, tanto do gado magro, quanto do gado gordo.
Essa demanda que vai ser muito rápida, uma indústria do tamanho da Bertin, nós vamos ter que introduzir exportadora tecnologia e o confinamento faz parte. Nós não temos um dado do confinamento em larga escala aqui no nosso estado. É um dos pontos que nós vamos ter que olhar com muito carinho pra poder atender a essa demanda tão aumentada de boi gordo aqui em volta de Campo Grande.
CP News: E o Fundersul, tem correspondido às necessidades dos produtores e criadores do Estado?
Laucídio Coelho: Esse primeiro ano, alegando sempre uma falta absoluta de recursos e uma necessidade de botar o caixa do governo em ordem, foi feita muita pouca coisa nesse sentido. As promessas são fortes e esperamos que assim aconteça. No governo passado nós arrecadamos uma verba muito considerável para o Fundersul e a gente tinha muito pouca capacidade visual de achar os serviços.
CP News: E o Centro Tecnológico do Couro?
O Centro é para desenvolver a tecnologia do couro. Nós temos em Mato Grosso do Sul, a maior capacidade instalada de abates do nosso querido Brasil. Já é maior e com os dois frigoríficos que eu mencionei, será maior ainda. E nós estamos engatinhando na industrialização do couro. Nós temos algumas indústrias de wet blue que é o primeiro estágio do curtume e agrega muito pouco valor ao couro. A idéia do centro é botar tecnologia a disposição tanto do pecuarista, quanto dos cuidados que ele deverá ter, mas principalmente com a indústria, ela será mais voltada para desenvolver a industrialização do couro aqui no Estado e dar suporte tecnológico para novas indústrias e fazer com que a gente possa sair do wet blue para outros estágios, chegar no couro acabado e partir para a industrialização do couro. Produzir produto pronto e acabado aqui no Estado. Trazer indústrias de estofamento, de sapatos, de roupas. Nós gostaríamos que esse dinheiro ficasse aqui dentro do Estado.
CP News: Em quanto tempo o senhor acredita que o Estado possa chegar a esse estágio?
Nós não temos tido muita sorte com o couro. Aqui, durante o governo passado e o prefeito André, eles acertaram incentivos fiscais para uma grande indústria se instalar em Campo Grande e dar o começo desse processo. Infelizmente a indústria entrou em dificuldades, não começaram as obras. O governo investiu em terraplanagem, a prefeitura no terreno, mas a indústria entrou em dificuldade e a coisa não se concretizou. Estão bem adiantados os entendimentos com outros grupos, mas nós ainda não temos uma certeza desse horizonte. Mas o empenho da nossa secretária Tereza Cristina é muito grande e eu acredito que isso, no decorrer do mandato do André, isso vá acontecer. Pelo menos uma grande indústria se instale e acabe chamando as outras aqui pro Estado.