O julgamento dos três acusados pelo assassinato do cacique guarani-kaiowá Marcos Veron, ocorrido em janeiro de 2003 em Juti, no interior de Mato Grosso do Sul, acontece nesta segunda-feira (21), em São Paulo. A pedido do Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal do Júri foi transferido de MS para SP para garantir a imparcialidade dos jurados e evitar que a decisão sofra influência social e econômica dos envolvidos no crime.
O julgamento é considerado histórico pois é a primeira vez que acusados pela morte de um indígena em Mato Grosso do Sul vão para o banco dos réus. Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos e Jorge Cristaldo Insabralde são acusados de homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e meio cruel, tortura, seis tentativas qualificadas de homicídio, seis crimes de sequestro, fraude processual e formação de quadrilha. Outras 24 pessoas foram denunciadas por envolvimento no crime.
O júri foi suspenso em maio do ano passado, depois que o MPF abandonou o plenário, em protesto contra a decisão da juíza Paula Mantovani Avelino, da 1ª Vara Federal (SP), que iria designar intérprete apenas para os índios que não falam português. Para o MPF, o fato de um indígena compreender o que é perguntado não significa domínio completo do idioma e do universo simbólico que ele representa. Além disso, a ordem para que os índios falem apenas Português, sem auxílio de intérprete, viola convenções internacionais e a Constituição Federal.
O caso
No dia 12 de janeiro de 2003, um veículo dos indígenas, com 2 mulheres, um rapaz de 14 anos e 3 crianças de 6,7 e 11 anos foi perseguido por 8 km sob tiros. Na madrugada do dia 13, os agressores atacaram o acampamento a tiros. Sete índios foram sequestrados, amarrados na carroceria de uma camionete e levados para local distante da fazenda, onde passaram por sessão de tortura. Um dos filhos de Veron, Ládio, quase foi queimado vivo. A filha dele, Geisabel, grávida de sete meses, foi arrastada pelos cabelos e espancada. Marcos Veron, na época com 73 anos, foi agredido com socos, pontapés e coronhadas de espingarda na cabeça. Ele morreu por traumatismo craniano.
Entre os motivos levantados pelo MPF para pedir a transferência do Tribunal do Júri de Dourados (MS) para a capital paulista estão o poder econômico e a influência social do proprietário da fazenda, Jacinto Honório da Silva Filho.
Por Valquíria Oriqui - Capital News - (www.capitalnews.com.br)
Veja também:
21/02/2011 - 17:21
Encerrado primeiro dia de julgamento de cacique em SP
21/02/2011 - 14:20
Julgamento da morte de cacique deve durar 15 dias
16/02/2011 - 14:31
Julgamento de morte de indígena em MS acontece neste mês em SP
11/06/2010 - 10:28
Área onde cacique Marcos Veron foi morto é declarada como indígena
18/05/2010 - 17:02
Associação Nacional de Procuradores da República rebate críticas de juízes contra procurador de MS
07/05/2010 - 09:36
Julgamento do caso Veron é adiado para 2011
Justiça - 04/05/2010 - 17:55
MPF deixa plenário no júri do “caso Veron”
04/05/2010 - 12:20
Júri do caso Veron será retomado hoje e pode durar até dez dias
03/05/2010 - 16:23
Caso Veron: Juíza indefere pedido de defesa para fastar procuradores
03/05/2010 - 08:15
Acusados da morte do cacique Veron vão a júri
12/04/2010 - 14:31
Atestado médico adia julgamento do Caso Veron
12/04/2010 - 10:07
Acusados da morte de Veron vão a júri hoje em São Paulo
05/04/2010 - 11:59
Assassinos de Marcos Veron vão a júri na semana que vem
12/02/2009 - 15:17
Temendo influência, assassinato de Marcos Veron será julgado em São Paulo