Ana Lucia Umbelina Galache de Souza, uma mulher de 54 anos, foi condenada a devolver R$ 3,7 milhões ao Exército Brasileiro após uma fraude que durou 33 anos. Ela se passou por filha de seu tio-avô, Vicente Zarate, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, para receber a pensão militar. A fraude foi descoberta em 2022, mas a história começou em 1986, quando Ana Lucia falsificou documentos para mudar sua identidade e assumir o nome de Ana Lucia Zarate, permitindo que ela recebesse a pensão desde 1989.
O golpe teve início quando Ana Lucia, com 17 anos, foi registrada como filha de Vicente Zarate e Natila Ruiz, apesar de ser na verdade sobrinha-neta do militar. A nova documentação foi fornecida com o auxílio de sua avó, Conceição Galache, que, além de ser irmã de Vicente, também foi a testemunha da falsificação. Com essa identidade, Ana Lucia obteve novos documentos, como CPF e Carteira de Identidade, e passou a receber a pensão do Exército como dependente de Vicente Zarate.
Em 1988, Vicente Zarate faleceu, e, com o apoio de sua avó, Ana Lucia conseguiu habilitar-se como beneficiária da pensão especial do ex-combatente. No início de 1989, a fraude foi consolidada quando ela se apresentou à Administração Militar como "Ana Lucia Zarate" e teve seu pedido de pensão aprovado, recebendo o pagamento integral desde então.
A fraude permaneceu encoberta até dezembro de 2021, quando a avó de Ana Lucia, Conceição, denunciou a situação à Polícia Civil e à Administração Militar. Ela revelou que a neta usava o nome falso apenas para tratar com o Exército, mantendo o nome verdadeiro em sua vida civil, incluindo no casamento que ocorreu em 1990.
Após meses de investigação, foi confirmado que Ana Lucia nunca foi filha de Vicente Zarate, mas sim sobrinha-neta. Em 2022, o pagamento da pensão foi suspenso e Ana Lucia foi intimada a prestar esclarecimentos. Durante o interrogatório, ela admitiu a fraude, alegando que dividia a pensão com sua avó, que a ajudou a obter os documentos falsificados. Ela também confirmou que utilizava dois nomes: o verdadeiro, Ana Lucia Umbelina Galache de Souza, e o falso, Ana Lucia Zarate, para continuar recebendo o benefício.
Em fevereiro de 2023, Ana Lucia foi condenada a devolver R$ 3,7 milhões ao Exército e a cumprir três meses de prisão, pena que foi recorrida em liberdade. O Superior Tribunal Militar (STM) negou o recurso apresentado em novembro de 2024, reafirmando a condenação. A Defensoria Pública da União, que defendeu a ré, alegou que ela não tinha a intenção de cometer o crime, pois o registro falso foi feito quando ela era menor de idade. No entanto, a Justiça considerou que Ana Lucia cometeu estelionato, pois tinha plena consciência de que estava enganando a Administração Militar para obter benefícios indevidos.