Ligar a TV ou ler os jornais é se certificar de todo o terror que a crise econômica financeira traz à população brasileira. Os produtores rurais, naturalmente, também sentem o mal estar que a retração econômica traz ao setor. Mas a experiência com as dificuldades faz do pecuarista e do agricultor um profissional já acostumado às crises.
Por outro lado, a crise econômica, que já virou jargão na imprensa, impacta o agronegócio e nenhum setor está preparado. O agronegócio brasileiro tem características ímpares em relação aos outros setores. A produção agropecuária é um elo da cadeia produtiva que não tem condição de agregar valor ao seu produto. O produtor rural não é um formador de preço e sim um tomador. A pergunta do vendedor na negociação é a de quanto os compradores pagam pelo nosso produto?
Essa relação de mercado que prejudica os empreendedores do agronegócio é sentida principalmente na relação com os frigoríficos. O elo frágil nessa cadeia, a produção, agoniza ainda mais quando as grandes indústrias de carne fecham as portas. Com o produto já entregue, o recebimento é incerto e o prejuízo é sempre do produtor.
Outra dificuldade que agrava mais ainda o momento que a produção rural vive é a escassez de crédito em todo o mundo. No Brasil, faltam políticas públicas para resolver o problema crônico de endividamento. Mesmo batendo recordes em produção nos últimos 30 anos, é difícil fazer renegociação das dívidas do passado para que o produtor possa efetivamente manter crédito para aquela safra e continuar plantando.
Os governos já reconheceram que os sistemas montados estavam errados e falidos. O nível de endividamento e de risco que temos hoje na agricultura faz com que os bancos, mesmo que queiram emprestar, não possam mais porque estão engessados pela legislação. O que precisa ser feito é a isenção total das dívidas do passado, como já foi feito para outros setores, injeção de dinheiro, como estamos vendo no setor automobilístico, e nos bancos.
Um exercício de desprendimentos para os governos: essa é a hora de cortar custos e dar eficiência à maquina administrativa, e não onerar o contribuinte com mais impostos para fazer caixa. No meio de uma crise, o Estado e a União não devem transferir sua ineficiência para o setor produtivo, seja ele o agronegócio, a indústria ou o comércio e até mesmo à população.
Além da crise, o produtor lida com problemas de questões climáticas, indígenas, ambientais, de custo de produção. A todo momento, somos surpreendidos com exigências e solicitações que dificultam a gestão do negócio, já abalado pela carga tributária e o mau humor do mercado. A agropecuária está acostumada às crises, e sabe gerenciá-las. Temos conhecimento no assunto, por isso conseguimos obter soluções práticas melhor do que os outros setores. Os investimentos que a crise levou, certamente voltarão ao Estado. Experiência de um produtor que observou várias tempestades que atingiram o campo, e se foram, deixando o setor ainda mais resistente.