Vivo futebol desde muito pequeno. O mais novo entre quatro filhos batizados com nomes de jogadores históricos, mas nenhum se chama Edson. Explico: meu pai é palmeirense, daqueles descendentes de italianos que brigam com a TV, gesticulam contra árbitros, técnicos e atletas. E adivinhem quem era o maior rival do time alviverde da capital paulista nas décadas de 1960 e 1970? Pois é, o Santos do tal de Edson, o Pelé. Menino liso, de dribles desconcertantes, lençóis, canetas, gols, golaços e pinturas antológicas.
E aquele menino, agora com mais de oito décadas, nos deixou. Internado desde 29 de novembro no hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde tratava uma infecção respiratória pós-Covid-19, o ex-atleta também passava por tratamento contra um câncer. A luta iniciou em setembro de 2021, quando Pelé passou por procedimento cirúrgico no cólon. Desde então, foram muitas sessões de quimioterapia, até que no início de 2022, os exames detectaram metástases no intestino, no pulmão e no fígado.
Dessa vez, o maior atleta de todos os tempos não saiu vitorioso do campo de batalha. Em comunicado oficial, o hospital israelita silenciou a nação ao informar que às 15h27min do dia 29 de dezembro de 2022, Edson Arantes do Nascimento faleceu, aos 82 anos, em decorrência da falência de múltiplos órgãos, resultado da progressão do câncer de cólon associado à sua condição clínica prévia.
Falar aqui sobre os feitos desse nome sagrado do futebol é, talvez, redundante. Afinal, toda a imprensa mundial voltou sua atenção ao Brasil e a perda de nosso ídolo maior, replicando e repercutindo a notícia ao redor do planeta e listando a carreira inigualável do garoto mineiro de Três Corações. Mas deixarei alguns feitos memoráveis. Pelé jogou profissionalmente de 1957 a 1977. Em 20 anos, levou o Santos de três para 13 títulos paulistas, e foi artilheiro por nove anos consecutivos. Também pelo time praiano, foram seis campeonatos nacionais (Taça Brasil e Torneio Robertão), duas Copas Libertadores (primeira equipe brasileira a vencer a competição) e dois Mundiais de Clubes, em 1962 e 1963. Pela seleção brasileira levantou a taça em três Copas: 1958, 1962 e 1970, sendo o atleta mais jovem a levantar a taça de campeão, aos17 anos e 249 dias. O famoso milésimo gol aconteceu em 1969, em partida contra o Vasco, no Maracanã, em uma cobrança de pênalti.
As proezas do Rei no futebol foram muitas, são dezenas de recordes e premiações, além de se tornar inspiração para gerações de meninos e meninas que sonhavam e que sonham em praticar esse esporte mágico. Mas não bastava ser imenso dentro de campo. Fora do gramado, Pelé transformou o futebol nos Estados Unidos durante sua passagem pelo New York Cosmos, onde atuou por três anos e alavancou a prática do esporte no país. Por sua influência, os Estados Unidos voltaram se classificar e participar de uma Copa após 40 anos, sediaram a Copa de 1994, têm hoje uma das ligas que mais cresce no mundo e em 2026 irão novamente sediar uma Copa, quando dividirão com México e Canadá a função de anfitrião.
No Brasil, Pelé foi ator, cantor, mas foi como ministro do Esporte entre 1995 e 1998 que ele definitivamente mudou o futebol brasileiro. Em seu último ano no cargo, conseguiu aprovar a Lei Pelé, que organizou e modernizou, deu mais transparência e profissionalismo ao esporte nacional. Com o fim do passe nos clubes do Brasil e a transformação dos clubes em empresas. Além do futebol, a lei também criou verbas para o esporte olímpico e paraolímpico e determinou a independência dos Tribunais de Justiça Desportiva.
Com a morte de Pelé, encerra-se uma Era, mas seu reinado permanece em cada pelada de domingo a tarde no meio da rua, com gols feitos de chinelos e dedões doloridos, no terrão ou gramado sintético, nas lambretas e bicicletas, ali estará o Rei, de olho em seu legado.
A história do futebol brasileiro e mundial se mesclam a desse personagem mitológico que conquistou o planeta e que agora se torna uma supernova, afinal, quando as maiores estrelas do universo transcendem a existência, se tornam algo ainda maior, cuja luz ofusca galáxias com seu brilho e beleza. Se tornam supernovas. Como Pelé.
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