Osvaldo Duarte/Dourados News
O acusado foi levado para delegacia de Polícia Civil de Fátima do Sul, onde o crime de estupro qualificado foi denunciado
Fátima do Sul, distante 239 quilômetros de Campo Grande, foi abalada em setembro por uma denúncia de abuso sexual contra o psicólogo Jorge Zacarias, 63 anos, que atuava profissionalmente na cidade. Apreendido em uma casa no bairro Jardim Maracanã, em Dourados, o acusado foi encaminhado para a cidade do interior, onde aconteceu o caso. A acusação partiu de uma adolescente de 15 anos, que ao sair do consultório de Jorge, foi até a delegacia acompanhada pela mãe.
No transcorrer das investigações, coordenadas pela titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de Fátima do Sul, Gabriela Vanoni, outras 12 vítimas se sentiram encorajadas e procuraram a delegacia para relatar abusos sofridos pelo mesmo homem, que segundo a polícia, usava técnicas de hipnose durante as consultas para poder abusar das pacientes. Também durante o inquérito, a Polícia Civil descobriu que Jorge já havia sido denunciado pelo mesmo crime em 2013, em Dourados, absolvido de estupro em decisão de segunda instância.
Em outubro, após um mês de apuração, o inquérito foi encerrado e o psicólogo foi indiciado por estupro qualificado, violação sexual mediante fraude e injúria qualificada, tendo sua prisão preventiva decretada.
Já em dezembro, depois de três meses preso, Jorge Zacarias teve sua soltura provisória concedida pelo juiz Vitor Zampieri, da 1ª Vara de Fátima do Sul. Ele responderá em liberdade, mas deverá comparecer mensalmente ao Fórum de Dourados, onde vive, não poderá se aproximar e nem manter contato com as vítimas, além de não poder exercer a psicologia.
Lideranças indígenas assassinadas na fronteira
Invasão e retomada de Guapo’y, em Amambai, iniciou onda de confrontos e mortes
Em junho, Yuri de Oliveira, pelo Capital News, acompanhou o início de mais um episódio sangrento no histórico de conflitos entre indígenas e fazendeiros na fronteira entre Brasil e Paraguai. No confronto que ficou conhecido como retomada de Guapo’y, em Amambai, os Guarani Kaiowá pediam o reconhecimento da extensão de terras que abrange algumas fazendas como território dos povos originários. Policiais do Batalhão de Choque Militar acionados pelos fazendeiros locais invadiram a área da Fazenda Borda da Mata com o propósito de expulsar os indígenas e no transcorrer das hostilidades mais de uma dezena de pessoas acabaram feridas, além da morte do indígena Vitor Fernandes, 42 anos.
O MPF, Ministério Público Federal, que já havia iniciado perícia na localidade, abriu em novembro inquérito para acompanhar as investigações sobre os acontecimentos e o uso da força policial, já que não havia decisão judicial para a incursão. A apuração inclui os assassinatos de dois líderes indígenas ocorridas nos meses de julho e setembro, em Amambai.
Líderes assassinados
Emboscado no dia 14 de julho, Márcio Rosa Moreira, 40 anos, era do Tekoha Gwapo’y Mi Tujury. Ele recebeu uma falsa proposta de trabalho em construção civil e chegando ao local combinado, junto de outros dois indígenas, foi abordado por dois indivíduos armados que dispararam contra Márcio. Mesmo ferido, ele ainda correu em busca de ajuda, mas não resistiu.
Em setembro, Vitorino Sanches, 60 anos, foi executado com mais de 5 tiros à queima-roupa pelas costas, próximo a seu carro. O indígena já havia sofrido atentado em agosto, quando foi ferido por dois dos 15 disparos feitos contra seu carro.
Caso Marquinhos: Ex-prefeito vira réu no STJ
O ex-prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, não fazia ideia de como seu ano de 2022 seria turbulento. Forte concorrente ao governo de Mato Grosso do Sul, emparelhado com o ex-governador André Puccinelli, Marquinhos teve sua campanha em risco a partir de julho, quando a Polícia Civil de MS abriu inquérito para investigar denúncias de assédio sexual contra o ex-prefeito da capital, que teriam acontecido durante seu período como mandatário municipal.
Conforme reportagem de Yuri de Oliveira para o Capital News à época, o caso foi aberto a partir de depoimentos de quatro mulheres que procuraram a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM). Três delas acusavam Marquinhos de assédio sexual. A defesa do então pré-candidato ao governo do Estado, composta pelas advogadas Rejane Alves de Arruda e Andrea Flores, alegou que as denúncias faziam parte de uma armação política para sabotar a campanha de Marquinhos e que garotas de programa teriam sido aliciadas por uma cafetina para apresentarem falsas denúncias.
“Nós temos certeza de que há uma armação feita pela oposição ao pré-candidato Marquinhos Trad em que está sendo cooptado, por uma cafetina, garotas de programa para virem fazer essas falsas denúncias. Isso está comprovado e na medida do possível nós iremos trazer isso à tona” disse Andréa, em coletiva de imprensa.
Deurico/Arquivo Capital News
Defesa de Marquinhos Trad pediu afastamento de delegada que conduz inquérito de assédio sexual
Novas denúncias
No transcorrer do inquérito e com a exposição do caso na imprensa, mais mulheres entraram em contato pelos canais de denúncia da polícia civil, elevando para 12 o número de acusações de assédio sexual, importunação sexual, estupro na forma tentada e favorecimento a prostituição contra Marquinhos, conforme explicou a delegada Maíra Pacheco Machado, do DEAM, que estava à frente das investigações. Em coletiva, a delegada apontou ainda que existiam casos recentes e casos mais distantes, mas caberia mencionar que muitas das vítimas só se sentiram seguras para entrar em contato após a veiculação da investigação.
Perícia e apreensão
Em agosto as denúncias contra o ex-prefeito chegaram a 15 e uma operação para apreensão e perícia foi deflagrada. Os policiais estiveram no paço municipal, onde dois computadores e objetos pertinentes foram apreendidos e o local periciado para se verificar possíveis pontos em que poderiam ter ocorrido algo. Os peritos também estiveram na Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação (Agetec) por ser lá que os sistemas da prefeitura são geridos e onde poderiam existir registros de entrada e saída de pessoas envolvidas.
Mesmo com a exposição, a incursão foi considerada oportuna pelo ex-prefeito, que em nota de assessoria disse que apesar de ser feita de forma midiática, a operação iria favorecer a defesa. Para a defesa de Trad, o efeito midiático da medida favoreceria candidatos que não teriam como ir para o segundo turno, como apontou a advogada Andréa Flores em entrevista ao Capital News, na época. A advogada avaliava ainda que, de certo modo, haveriam fatores positivos, já que foram coletados os dados dos computadores que controlam a entrada e saída do gabinete, o que provaria que algumas das mulheres nunca estiveram no local.
No final de agosto, um ex-servidor municipal foi preso por coação de testemunhas e cumpridos mandados de busca e apreensão em dois imóveis, um comercial e o outro onde foi constatado o funcionamento de casa de prostituição.
Depoimento e arquivamentos
Entrando em setembro, uma decisão publicada no Diário Oficial da Justiça arquivou 6 denúncias feitas contra Marquinhos Trad. O arquivamento se deu pela prescrição dos supostos crimes antes de uma representação legal.
Com prazo para encerrar em meados de agosto e prorrogado duas vezes, o inquérito seria finalizado com o depoimento do acusado. Após não comparecimento à sede da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) no dia 21, o ex-prefeito acionou a Justiça Eleitoral, solicitando que seu depoimento fosse colhido somente após as eleições sob alegação de que o caso estaria expondo-o negativamente e interferindo no equilíbrio eleitoral.
O habeas corpus foi negado pelo juiz Wagner Mansur Saad, do TRE-MS, entendeu que o caso não tinha relação direta com as eleições. Assim, Trad foi intimado para novo depoimento no dia 23, mas conseguiu nova decisão favorável por decisão judicial da juíza Eucelia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, que tornou facultativo o comparecimento do acusado ao depoimento em 23 de setembro.
Enquanto não acontecia o depoimento do ex-prefeito, a defesa continuou seu trabalho e conseguiu a invalidação de outras 4 denúncias, chegando a 10 de 16 acusações anuladas. Os arquivamentos destas também aconteceram por conta da prescrição do suposto crime.
Três meses após a abertura do inquérito, no dia 18 de outubro, Marquinhos Trad compareceu à DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), onde, durante quatro horas, prestou seu depoimento. Na saída, o ex-prefeito falou que o caso refletiu nas urnas e que o tempo mostraria a verdade. “Foi uma verdadeira crueldade o que fizeram. Vai ter a manifestação e vocês saberão, aliás, hoje só existem três depoimentos válidos das 20 existentes”, enfatizou.
Deurico/Capital News
Advogadas de Marquinhos Trad dizem que mulheres receberam para fazerem denúncia
Denúncia é encaminhada
Com o término das investigações, o Ministério Público do Estado (MPMS) encaminhou à Justiça a peça em que o ex-prefeito de Campo Grande foi denunciado por fatos envolvendo 7 mulheres, 4 a mais que os indiciamentos feitos pela Polícia Civil. O inquérito policial chegou a 1.650 páginas, nele constam depoimentos das denunciantes, das testemunhas, peças periciadas e o depoimento de Trad na Polícia Civil. A análise da denúncia ficou a cargo da juíza titular da 3ª Vara Criminal, Eucélia Moreira Cassal.
Na ocasião, uma das advogadas do ex-prefeito enfatizou situações envolvendo a denúncia: “Só gostaria de deixar claro que embora vocês da imprensa tiveram acesso à denúncia, para a defesa foi negado. Nós entramos em contato com a promotoria do Doutor Alexandre e eles disseram que não podiam nos passar essa denúncia. Entramos em contato então com a 3ª vara criminal e também nos foi negado acesso”, afirmou a advogada Andréa Flores.
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