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Nacional Segunda-feira, 29 de Abril de 2019, 10:37 - A | A

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Pronunciamento

Ex-presidente Lula realiza pronunciamento antes de conceder entrevista à dois jornais

As entrevistas ao jornal EL PAÍS e ‘Folha de S.Paulo” aconteceram no dia 26 de abril, após autorização judicial.

Flavia Andrade
Capital News

Ricardo Stuckert/Lula

Ex-presidente Lula realiza pronunciamento antes de conceder entrevista à dois jornais

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Antes de conceder entrevista à dois jornais conforme autorização judicial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva solicitou “Paciência”, “Tempo” e “oportunidade” para realizar um “micro pronunciamento” sobre seu caso. 

 

Durante a entrevista, estiveram presentes na sala, além dos jornalistas, os cinegrafistas Henry Milleo (EL PAÍS), Victor Parolin (Folha), os fotógrafos Isabela Lanave (EL PAÍS), Marlene Bergamo (Folha), Ricardo Stuckert (Lula), Carla Jiménez (diretora do EL PAÍS no Brasil), advogados Cristiano Zanin (PT) e Manuel Caetano (PT), Cezar Brito e Miriam Gonçalves (EL PAÍS), Franklin Martins, ex-ministro da Secretaria de Comunicação de Lula, delegados Rubens e Mauricio Grillo, da Polícia Federal de Curitiba, Paulo Roberto da Silva, chefe da Comunicação da PF, além de três agentes de segurança.

Veja a íntegra

 

Confira na íntegra o pronunciamento de Lula antes da entrevista:

 

Antes de você fazer a primeira pergunta, queria pedir a paciência de vocês para fazer um micro pronunciamento tratando do meu caso e, depois, eu trato do caso do Brasil se é o que vocês querem:

 

Minha condenação injusta e minha prisão ilegal, há mais de um ano, são mais que o resultado de uma farsa jurídica. São consequências diretas do fracasso social, econômico e político do golpe político do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016. 

 

Aquele golpe começou a ser preparado em 2013 quando a Rede Globo de Televisão usou sua concessão pública para convocar manifestações de rua contra o Governo e até contra o sistema democrático. Tudo valia para tirar o PT do Governo, inclusive a mentira e a manipulação pela mídia. Isso aconteceu quando nossos governos tinham alcançado nossas maiores marcas: multiplicamos o PIB por várias vezes, chegamos a 20 milhões de novos empregos formais, tiramos 36 milhões de pessoas da miséria, levamos quase 4 milhões de pessoas às universidades, acabamos com a fome, multiplicamos de modo espetacular a produção e o comércio da agricultura familiar, multiplicamos por quatro a oferta do crédito, isso em meio a uma das maiores crises do capitalismo da história. 

 

E, ainda assim, quase quadruplicamos as nossas exportações. O novo Brasil que estávamos criando junto com o povo e as forças produtivas nacionais, foi retratado pela Rede Globo e seus seguidores na imprensa como um país sem rumo e corroído pela corrupção. Nem em 1954 com Getúlio nem em 1964 contra Jango se viu tanta demonização contra um partido, um governo ou um presidente. Centenas de horas do Jornal Nacional e milhares de manchetes de revistas contra nós. Nenhuma chance de defender nossas opiniões. Mesmo assim, em 2014, derrotamos os poderosos nas urnas pela quarta vez consecutiva. Para quem não conhece o Brasil, nossas elites dizimaram milhões de indígenas desde 1500, destruíram florestas, enriqueceram por 300 anos a custas de escravos tratados como se fossem bestas. Colonos e operários tratados como servos. Divergentes como subversivos, mulheres como objetos. Diferentes, como párias.

 

 Negaram terra, dignidade, educação, saúde e cidadania ao nosso povo. Mas a Globo, o mercado, e os representantes dos estrangeiros, os oportunistas da política, e os exploradores da gente simples, disseram que era preciso tirar o PT do Governo para resolver os problemas do Brasil e do povo brasileiro. Hoje, o povo sabe que foi enganado. Criamos o PT em 1980 para defender as liberdades democráticas, os direitos do povo e dos trabalhadores. O acúmulo das lutas do PT e da esquerda brasileira, do sindicalismo dos movimentos sociais e populares nos levou a consolidar um pacto democrático na constituinte de 1988. Esse pacto foi rompido pelo golpe do impeachment em 2016 e por seu desdobramento que foi a minha condenação sem culpa, e minha prisão em tempo recorde para que eu não disputasse as eleições. 

 

Reafirmo minha inocência, comprovada por todos os meios de prova nas ações que fui injustamente condenado pelo ex-juiz Sergio Moro, sua colega substituta e três desembargadores acumpliciados do TRF-4. Repudio as acusações levianas dos procuradores da Lava Jato e denuncio [Deltan] Dallagnol, que nunca teve a coragem de sustentar, ante meus olhos, as mentiras que levantou contra mim, minha esposa e meus filhos. Mais de um ano depois da minha prisão arbitrária, está cada dia mais claro para o povo brasileiro que fui injustiçado para não ser candidato às eleições presidenciais do ano passado. Nas quais, segundo todas as pesquisas de opinião pública, teria sido eleito em primeiro turno contra todos os adversários. O povo sabe que minha prisão teve motivos políticos. Posso reafirmar com a consciência tranquila por ser inocente, os que me condenaram, não. Fui condenado sem prova e sem crime. 

 

Minha pena ilegal foi agravada pelo arbítrio de três desembargadores do TRF-4, tão parciais como o juiz Sergio Moro. Os recursos da minha defesa lastreados em argumentos sólidos foram ignorados burocraticamente pelo STJ. Meus direitos políticos foram negados contra a lei, a jurisprudência e uma decisão da ONU pela Justiça Eleitoral. Mesmo assim, minhas ideias e meus ideais continuam vivos na memória e no coração do povo brasileiro. 

 

Mantenho minha esperança e a confiança no futuro em um julgamento justo, por causa das generosas manifestações de solidariedade que recebo todos os dias aqui em Curitiba por parte dos companheiros maravilhosos da vigília e de todos os cantos do Brasil e do mundo. Eu sei muito bem qual o lugar que a história nos reserva, meus companheiros e companheiras, e sei também quem estará na lixeiras dos tempos quando o povo vencer mais essa batalha. Mais importante do que isso, sei que a injustiça cometida contra mim recai sobre o povo brasileiro que perdeu direitos, oportunidades, salários justos, emprego formal, renda e esperança num futuro melhor. 

 

Hoje estou aqui para falar com jornalistas como sempre fiz ao longo da minha vida. Na verdade, para falar com o nosso povo. Esse direito me foi negado por sete meses e durante o processo eleitoral e que estava absolutamente fora da lei. Mas guardo comigo uma certeza. Preso ou livre, censurado ou não, tenho com o povo brasileiro uma comunhão eterna que o tempo não vai apagar. 

 

Contra todos os poderosos, contra a censura e a opressão, estaremos sempre juntos por um Brasil melhor, mais justos com oportunidades para todos. Obrigado

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