A República chega aos 132 anos quando os valores republicanos são confrontados pela polarização pretensamente ideológica, que ameaça pôr em xeque a coesão social, fundamento e espírito da própria Nação.
No próximo dia 15 o Brasil comemora os 132 anos da proclamação da República.
Há dois anos, em artigo intitulado ‘Os 130 Anos da República e os Desafios Contemporâneos’, observávamos: “Derivado do latim res publica – assunto público, bem público ou a coisa pública – o termo República, e mais ainda a essência democrática e civilizatória que a instituição encarna, não comportam as exclusões político-ideológicas, as rejeições preconceituosas ou os virulentos e capciosos ataques a biografias, que proliferam hoje nas chamadas redes sociais.”.
Infelizmente, de lá para cá o quadro de radicalização não tem dado sinais de arrefecimento, nem mesmo quando toda a nação – como o resto do mundo – se viu diante de um inimigo trágico e potencialmente letal como a epidemia de covid-19, que já ceifou a vida de mais de 600 mil brasileiros.
Aliás, ao contrário de unir a sociedade nacional diante de uma tragédia humanitária sem precedentes, a pandemia trouxe, como grave ‘efeito colateral’, a exacerbação do radicalismo, ‘ideologizando’ visões inconciliáveis sobre como prevenir o contágio, ‘atenuar’ os efeitos da covid-19 e, principalmente, sobre as restrições do contato social e das atividades econômicas.
É no contexto dessa inquietante realidade de polarização social que chegamos aos 132 anos de instauração da República como forma de governo.
Se as instituições sobre as quais se assentam a República Federativa do Brasil e o próprio estado democrático de direito dão mostras de solidez e plenitude diante de um ou outro estremecimento, na sociedade o nível de radicalização, especialmente no ‘território livre’ das mídias sociais, tem transformado o que seria o debate de ideias e de concepções políticas adversas em confrontos ideológicos que nada têm de republicanos.
A propósito, permito-me retornar ao artigo de 2019, cuja citação deixa patente que há dois anos a confrontação excludente e perniciosa já tomara grande parte do espaço do debate civilizado, republicano. Dizíamos então:
- Saiba mais
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- 25/03, Dia da constituição: Data impõe refletir sobre os riscos do radicalismo
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- Revisionismo histórico: Tiradentes, um mártir em questão?
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- Covid-19: Consciência cidadã é arma de defesa coletiva
- Crianças e adolescentes: UNICEF Propõe que Municípios Reduzam Índices Sombrios
- A retomada do Aquário do Pantanal
- Hora é de união de todos contra o inimigo comum
- TCE-MS e os desafios contemporâneos: Uma tarefa transformadora
- Biênio 2021-2022: no discurso de posse, compromissos renovados
- Encontro nacional: Em pauta, TCs e democracia
- A dança dos Insensatos: Festas clandestinas “celebram” a morte
- Brasil contemporâneo: O fenômeno dos ‘gurus’ digitais
- Um ano de pandemia: apoio a pequenos municípios será decisivo após covid-19
- Desafio contemporâneo: A relevância institucional do TCE-MS
- Declínio da pandemia: Sensação de alívio não descarta cuidados e solidariedade
- Marco do saneamento, dois anos: Avanços e percalços
- Energia mais cara: nível crítico de represas põe em alerta o sistema elétrico
- CAEPE/MS: Educação, desafio de todos
- TCE-MS, 40 anos: Homenagear nossa história é preparar o futuro no presente
- SÍMBOLOS NACIONAIS: Civismo, a essência da nacionalidade
- Profissionais da saúde mostram que humanidade pode ser melhor
- A Importância da Prevenção ao Suicídio
- Pandemia impõe revisão de valores como tributo
- Pessoas com deficiência: Inclusão enfrenta barreiras
- Crianças sem futuro: trabalho infantil desafia e constrange todos nós
- Pantanal: Ficção e realidade
- Efeito colateral: Ao expor diferentes "brasis", pandemia incita energia social
- Fronteiras da inovação: TCE-MS e governo digital
- STF anula aumento a servidores: Recomendação TCE-MPMS alertou para ilegalidade
- ‘Revoga MS’: Saneamento oportuno
- Cada vez mais frequentes: crises hídricas são alerta de que água é recurso finito
- Volta às escolas: A retomada do ensino presencial
- COVID-19: Mais contagiosa, ômicron desafia o mundo em 2022
- Ideias convergentes sobre o legado do SUS
- O papel transformador do “TCE-MS Sem Papel”
- Recondução Amplia Empenho Pela grandeza da Corte
- Distância Salutar
- SUS deve ser robustecido para desafios pós-pandemia
- O incentivo à doação de órgãos
- Eleições 2022: O perigo da radicalização
- Desafio do século 21: com vacinas anticovid-19, ciência dá lição de governança global
- Campanha eleitoral: Que a sensatez permaneça
- Logística reversa: Pacto põe MS na vanguarda da reciclagem de embalagens
- Auditor de controle externo: Carreira de estado vital para a governança pública
- Combate à corrupção: rede de controle de MS inspira programa nacional
- Mudança climática: Relevância dos órgãos de controle
- Por ampla competição: Orientação do TCE-MS visa sanear licitações
- Violência contra a mulher: Responsabilidade de todos
- 1º de maio: com 14,3 milhões sem emprego, difícil festejar o dia do trabalho
- Governança pública: Por uma cultura da integridade
- Mudança de Paradigmas
- Localização e Nome Atestam a Notável Visão do Fundador
- Sem precedente, crise do COVID-19 testa nosso senso de humanidade
- Eleições 2020: município é espaço vital para efetivação da plena cidadania
- O perigo do radicalismo ideológico
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- LC Nº 31 de 11/10/1977: 44 anos da criação de MS
- Eleições 2022: Sensatez pela democracia
- LC 173/2020: TCE-MS e MPMS alertam sobre contrapartidas a apoio da união
- 2020: Eleições municipais e 40 anos do TCE-MS
- Campanha excepcional deve ater-se a ideias e propostas
- Capacitação de gestores previne ilegalidades no combate à Covid-19
- A Política da Boa Gestão
- Consórcios intermunicipais podem ser saída para escassez de recursos
- Alimentação escolar: Garantir nutrição adequada é dever do gestor público
- Campo Grande, 123 anos: Capital do nosso orgulho
- Sequela social: pandemia expõe e agrava desigualdades na educação
- Decisão do INEP: Desafio urgente para a educação
“Provavelmente nunca foi tão necessário e urgente discutir os fundamentos e valores republicanos quanto neste momento, quando os radicalismos ideológicos e os ‘moralismos’ de conveniência anulam os espaços do diálogo salutar e transformam em inimigos os que pensam de forma diferente.”
Hoje, muito mais do que há dois anos, é flagrante o processo de dissensão social, de rejeição recíproca entre segmentos ou grupos que transformam em “bandeiras ideológicas” meras opiniões pessoais, partidárias ou corporativas. E, com isso, anulam qualquer possibilidade de construção de consensos mínimos, de convergências construídas através do intercâmbio civilizado de ideias.
A República que ora completa 132 anos é, em síntese, a expressão concreta do Estado Democrático de Direito e, ao mesmo tempo, o espaço institucional por excelência onde essa mesma democracia é plasmada continuamente sobre fundamentos civilizatórios inarredáveis.
Por isso mesmo, os princípios republicanos, ou seja, os fundamentos que não só embasam a estrutura política e institucional da Nação, mas definem os paradigmas que regulam a sociedade democrática, precisam ser, mais do que preservados, cultuados e respeitados como valores objetivos.
Lamentavelmente, não é o que vemos na atual quadra da vida política e social brasileira. E, segundo todos os prognósticos, a expectativa é de que em 2022 as campanhas eleitorais acirrem ainda mais a radicalização político-ideológica, em prejuízo do livre e republicano debate de ideias e de propostas.
Assim é que, a República chega aos 132 anos quando, talvez como em nenhum outro momento de nossa história recente, os valores republicanos são confrontados pela polarização pretensamente ideológica, que ameaça pôr em xeque a coesão social, que é fundamento e espírito da própria Nação.
*Iran Coelho das Neves
Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.
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