Grande maioria da população deslocada é de mulheres desesperadas para pôr a salvo seus filhos, pais, sogros e avós; com homens de até sessenta anos impedidos de deixar o país, elas buscam sozinhas livrar a família dos horrores da guerra.
Em poucos outros momentos dos últimos quase oitenta anos o Dia Internacional da Mulher foi lembrado em meio ao desenrolar da tragédia de uma guerra como a atual, que expõe aos olhos do mundo a atroz vulnerabilidade de mulheres, crianças e idosos.
A invasão da Ucrânia pela Rússia já provocou o maior deslocamento humano involuntário desde a segunda guerra mundial, com mais de dois milhões de pessoas que, para escapar dos ataques indiscriminados, buscam refúgio em países vizinhos.
Nem é preciso dizer que a grande maioria dessa população é de mulheres desesperadas para pôr a salvo não só seus filhos, mas também pais e avós, vez que, com homens entre dezoito e sessenta anos retidos como força de resistência contra o invasor, elas são levadas a assumir sozinhas o destino da família, a buscar livrá-la dos horrores da guerra.
Soa como amarga e trágica ironia que o Dia Internacional da Mulher tenha sido povoado pelas dramáticas imagens desta guerra que, muitas vezes transmitidas ao vivo, expõem dores e angústias da população civil totalmente vulnerável. Esses incontáveis “retratos do horror” destacam o indesejado – por elas – protagonismo heroico das mulheres ucranianas. E de tantas outras, das mais diversas nacionalidades, que viviam na Ucrânia ou para lá se deslocaram como voluntárias ao eclodir o conflito, movidas pelo espírito de solidariedade.
Porém, talvez somente quando acabar esta guerra absurda – como todas as guerras – possam vir à tona as histórias de coragem e patriotismo das mulheres ucranianas que, nas tropas regulares, na polícia ou engajadas nas milícias populares, se sacrificam para combater o exército invasor.
Nas frentes de combate ou nos hospitais, no transporte de centenas de milhares de patrícios em busca de refúgio, e em incontáveis outras frentes de ação humanitária onde são exigidas, as mulheres da Ucrânia talvez nem tivessem tempo para se lembrar do Dia Internacional da Mulher. Contudo, serão reverenciadas a partir de agora, seja pela determinação e coragem para repelir o invasor ou pelo desprendimento sem limites com que se doam à tarefa de minimizar os efeitos cruéis da guerra.
Sofrimento e desespero, porém, são aflições comuns a mulheres dos dois lados desta guerra que, como todas as guerras, foi engendrada por homens. Os lamentos inconsoláveis de mães de soldados russos ao imaginarem seus filhos mortos ou capturados lavraram doloroso protesto que, reprimido na própria Rússia, ressoaram em todo o mundo no Dia Internacional da Mulher.
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A coragem de Yelena Osiprova, senhora russa de 77 anos e sobrevivente do cerco nazista de Leningrado, ao protestar contra a guerra na Ucrânia e ser presa pela polícia em São Petersburgo, se iguala à de outra mulher que, em algum ponto do território ucraniano, afrontou um soldado invasor, bradando que voltasse para seu país.
Embora da mulher ucraniana a imprensa não tenha registrado o nome, ambas protagonizaram imagens que certamente entrarão para a história como emblemáticas da coragem e da justificada repulsa da mulher ante insensatez dos homens que fazem a guerra.
Assim, ao coincidir, tragicamente, com o 13º dia deste que é considerado o maior ataque de uma nação contra outra na Europa desde a II Guerra Mundial, o Dia Internacional da Mulher de 2022 assinalou um momento de duríssimas provações para as mulheres da região conflagrada.
Que a beligerância insana dos homens possa cessar o mais rapidamente possível.
*Iran Coelho das Neves
Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.
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