Tentativas de desconstrução da imagem do alferes como herói da Independência inserem-se numa nova onda de revisionismo, quase sempre de inspiração ideológica.
O feriado de 21 de abril celebra a memória de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira, enforcado em 1792 e, posteriormente, erigido como Mártir da Independência do Brasil, que só seria proclamada trinta anos depois.
Embora há algum tempo certos historiadores apontem que o “processo de mitificação” de Tiradentes só se deu a partir da Proclamação da República – pela necessidade de heróis que aproximassem o movimento com as camadas populares –, nota-se que tentativas de desconstrução da imagem do alferes como herói da Independência inserem-se numa nova onda de revisionismo, quase sempre de inspiração ideológica.
Obviamente, não interessava à monarquia, estabelecida em 1822, celebrar a memória de um inconfidente republicano como herói nacional. Daí, o longo olvido a que Tiradentes e a própria Conjuração foram relegados, até a proclamação da República, em 1889.
Porém, sustentar que a instauração da figura de Tiradentes como herói da Independência foi uma simples jogada de ‘marketing político’, urdida pelos próceres militares e civis para popularizar o regime republicano que acabavam de instalar, extrapola os limites da imaginação criativa de correntes acadêmicas novidadeiras.
Não se trata, naturalmente, de questionar o direito de historiadores, de esquadrinhar os mais diferentes aspectos e personagens de nossa história, expondo novos olhares sobre eles. O problema é quando teses – que devem ter suporte em dados e referências confiáveis – são substituídas por simples especulações que, mesmo manejadas com habilidade, não passam disso.
- Saiba mais
- A retomada do Aquário do Pantanal
- Hora é de união de todos contra o inimigo comum
- Biênio 2021-2022: no discurso de posse, compromissos renovados
- A dança dos Insensatos: Festas clandestinas “celebram” a morte
- Combate à corrupção, desafio civilizatório
- Um Pantanal, Dois Estados E o Nosso Dever Comum
- Um ano de pandemia: apoio a pequenos municípios será decisivo após covid-19
- Declínio da pandemia: Sensação de alívio não descarta cuidados e solidariedade
- Covid-19: Consciência cidadã é arma de defesa coletiva
- Crianças e adolescentes: UNICEF Propõe que Municípios Reduzam Índices Sombrios
- Energia mais cara: nível crítico de represas põe em alerta o sistema elétrico
- Bacia do prata: Infraestrutura e integração
- Auditor de controle externo: Carreira de estado vital para a governança pública
- Mudança climática: Relevância dos órgãos de controle
- Violência contra a mulher: Responsabilidade de todos
- Qualidade do gasto público: Ainda sobre a relevância dos TCS para a democracia
- Campanha eleitoral: Que a sensatez permaneça
- A Importância da Prevenção ao Suicídio
- Pandemia impõe revisão de valores como tributo
- Efeito colateral: Ao expor diferentes "brasis", pandemia incita energia social
- STF anula aumento a servidores: Recomendação TCE-MPMS alertou para ilegalidade
- TCE-MS, 40 anos: Homenagear nossa história é preparar o futuro no presente
- SÍMBOLOS NACIONAIS: Civismo, a essência da nacionalidade
- Cada vez mais frequentes: crises hídricas são alerta de que água é recurso finito
- Volta às escolas: A retomada do ensino presencial
- Profissionais da saúde mostram que humanidade pode ser melhor
- Crianças sem futuro: trabalho infantil desafia e constrange todos nós
- Saúde, direito de todos: Há 34 anos, constituinte definia princípios do SUS
- Desafio contemporâneo: A relevância institucional do TCE-MS - 2
- Eleições 2022: Sensatez pela democracia
- TCE-MS e os desafios contemporâneos: Uma tarefa transformadora
- MS, 45 anos: Breve história, grandes avanços
- SUS deve ser robustecido para desafios pós-pandemia
- Desafio do século 21: com vacinas anticovid-19, ciência dá lição de governança global
- Logística reversa: Pacto põe MS na vanguarda da reciclagem de embalagens
- O incentivo à doação de órgãos
- Ideias convergentes sobre o legado do SUS
- Combate à corrupção: rede de controle de MS inspira programa nacional
- Por ampla competição: Orientação do TCE-MS visa sanear licitações
- O papel transformador do “TCE-MS Sem Papel”
- Recondução Amplia Empenho Pela grandeza da Corte
- 1º de maio: com 14,3 milhões sem emprego, difícil festejar o dia do trabalho
- 132 anos de república: Radicalismo e valores republicanos
- Distância Salutar
- Pantanal: Ficção e realidade
- Reconhecimento: Servidor público, agente da cidadania
- Censo escolar 2021: Um inventário desafiador
- COVID-19: Mais contagiosa, ômicron desafia o mundo em 2022
- Campo Grande, 123 anos: Capital do nosso orgulho
- O perigo do radicalismo ideológico
- Covid-19 “suspendeu” calendário gregoriano
- Pandemia: Vacina contra Covid-19 é bem público essencial
- Tóquio 2020: Evento histórico perdeu oportunidade única
- Mudança de Paradigmas
- Localização e Nome Atestam a Notável Visão do Fundador
- Pandemia: que papel teremos quando a tragédia virar história?
- LC Nº 31 de 11/10/1977: 44 anos da criação de MS
- Sem precedente, crise do COVID-19 testa nosso senso de humanidade
- Eleições 2020: município é espaço vital para efetivação da plena cidadania
- LC 173/2020: TCE-MS e MPMS alertam sobre contrapartidas a apoio da união
- CAEPE/MS: Educação, desafio de todos
- Marechal da paz: Nossa dívida com rondon
- Marco da humanidade: Já somos oito bilhões
- Fogo no Pantanal: Sinais de alerta para tempos desafiadores
- Eleições 2022: O perigo da radicalização
- Eleição e governança: Serviço público e democracia
- Sequela social: pandemia expõe e agrava desigualdades na educação
- A Política da Boa Gestão
- Consórcios intermunicipais podem ser saída para escassez de recursos
- Gastos emergenciais: A relevância do tce-ms no contexto da pandemia
- Tensões Institucionais: Democria exige resgatar diálogo
- 2020: Eleições municipais e 40 anos do TCE-MS
- Campanha excepcional deve ater-se a ideias e propostas
- Caso Henry: violência contra a criança não distingue classe social
- COP26: O futuro do planeta em debate
- Capacitação de gestores previne ilegalidades no combate à Covid-19
- Desenvolvimento de MS: Educação, fator decisivo
- Corredor bioceânico: Fórum é marco de avanço
- Os TCs e a democracia: Artigo traz reflexão oportuna
- Duas presidenciáveis: Protagonismo da mulher sul-mato-grossense
- Cobertura da mídia: Guerra na ucrânia eclipsa pandemia
- Cartilha do TCE-MS visa garantir transição segura nos municípios
- Agenda 2030 da ONU: desenvolvimento sustentável é desafio comum e urgente
- Pesadelo real: Fome no Brasil é drama diário de 19,3 milhões
- Com EAD, Programa do TCE é Instrumento de Vanguarda
- Um Olhar Sobre a Tragédia Pantaneira
- Dia internacional da mulher: igualdade de gênero é conquista em construção
- Setembro Amarelo: Prevenção ao suicídio, um desafio de todos
- MS tem 38,29% da população carcerária trabalhando
- A MULHER NA POLÍTICA: Sub-representação Feminina É Desafio Contemporâneo
- Pantanal: MPEs unem MS e MT em defesa do bioma
- Governança pública: Por uma cultura da integridade
- Um passo importante
- Decisão do INEP: Desafio urgente para a educação
- Voto feminino, 92 anos: História de lutas e conquistas
- Mortes violentas: Tragédia brasileira
- Alimentação escolar: Garantir nutrição adequada é dever do gestor público
- Garantia de qualidade: Reconhecimento e estímulo
- O TCE-MS, o eSocial e A Unificação Virtuosa
- Solidariedade como dever social e ético
Aliás, bem a propósito desse revisionismo recorrente em nossa historiografia, o economista Pedro Malan (ministro da Fazenda de 1995 a 2002) dizia, ainda na década de 1990: “No Brasil, até o passado é incerto.” Com respeitável formação acadêmica, Malan certamente não estava pondo em questão a natural inquietação dos historiadores diante de verdades ‘definitivas’. Antes, ironizava as frequentes tentativas de revisar fatos de nossa história, sob a conveniência desta ou daquela corrente ideológica.
Pretender reduzir a dimensão histórica e a importância emblemática de Tiradentes como Mártir da Independência, sob o trôpego argumento de que foi resgatado porque o culto a sua memória era útil para popularizar o regime republicano recém-instalado, afronta a própria essência de nossa brasilidade, corrói o cabedal de valores com os quais se constrói o sentido de pátria.
É certo que uma nação não precisa inventar um novo ‘herói’ a cada crise, real ou fictícia. Mais certo, porém, é que a nação que não celebra seus autênticos heróis estará em descompasso com a sua história. E, portanto, fadada ao desencontro com seu futuro.
Cultuar a memória de Tiradentes como Mártir da Independência do Brasil é, antes de tudo, celebrar os valores fundantes da Pátria.
*Iran Coelho das Neves
Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.
• • • • •
A veracidade dos dados, opiniões e conteúdo deste artigo é de integral responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Capital News |