Acervo pessoal
Eu vejo que as pessoas, se preocupam muito em punir o abusador, mas esquecem que pra vítima, vai ficar uma marca
Ela é esposa, mãe de dois filhos, cristã e idealizadora do Projeto Nova, em Campo Grande. Um projeto que tem como propósito promover qualidade de vida através de atendimento psicossocial a pessoas sobreviventes do abuso e exploração sexual, estamos falando da Psicanalista Viviane Vaz. Neste mês de maio a convidamos para um bate papo para conhecer um pouco da sua jornada e do trabalho desenvolvido desde 2011.
Este convite, não foi por acaso, e sim porque o mês de maio é um mês dedicado ao enfrentamento e prevenção ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil, conhecido nacionalmente como “Maio laranja”. A iniciativa partiu depois que o dia 18 foi instituído pela lei federal 9970/00 como o dia nacional de combate a essa grave violação de direitos, data alusiva à morte da menina Araceli, violentada e morta aos oito anos de idade.
Durante todo esse mês são realizadas atividades com o objetivo de informar, sensibilizar e combater essa forma de violência, é um período de muitos trabalhos para Viviane Vaz. No entanto, ela reservou um tempinho para gente. Bora?
1) Capital News: Quem é Viviane Vaz?
Viviane Vaz: Eu sou Psicanalista, Missióloga, Escritora e Palestrante. Sou casada com Evandro Vaz e tenho dois filhos, um de 12 e outro de 7 anos de idade..
2) Capital News: Conte-nos um pouco da sua trajetória?
Viviane Vaz: Desde a faculdade eu me interessava em temas relacionados a violência na adolescência e contra criança. No entanto, o meu maior desejo era o de ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade e exploração sexual. Entre tantos sonhos, o maior deles era trabalhar o tema fora do país, mas eu e o meu marido entendemos que o propósito de Deus era outro: Desenvolver o trabalho em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
3) Capital News: Como esse trabalho começou?
Viviane Vaz: Em 2011 eu e meu marido começamos um trabalho com mulheres que desejavam sair da prostituição. Ao atendê-las, notei que todas tinham histórico de algum tipo de abuso sexual na infância. Foi aí que comecei a me aprofundar mais nesse assunto, percebi também, que era um tema muito comum: As histórias delas e o quanto isso destruía a vida, o futuro dessa pessoa. Então a gente começou a trabalhar com essa temática do abuso sexual mais diretamente.
4) Capital News: Conte-nos mais sobre Projeto Nova?
Viviane Vaz: O Projeto Nova existe desde 2011, ele faz parte de uma fundação que é a Fundação de Assistência à Pessoa Humana (Funasph). Ele oferece tratamento psicossocial às vítimas de abuso e exploração. Atuamos com apoio de voluntários principalmente da área da psicologia e da educação. A gente conta muito com o apoio de estagiários e acadêmicos de estágio obrigatório. Hoje atendemos 60 crianças e adolescentes e 28 mulheres
5) Capital News: O Projeto sobrevive de que?
Viviane Vaz: O Projeto sobrevive de doações. A gente entra nos editais, emendas parlamentares. Recentemente, foi aprovada uma parceria em um projeto do Criança Esperança, da Fundação Abrinq, isso tem nos ajudado a custear as atividades. No entanto, a gente precisa fazer eventos pra suprir as demandas da manutenção da sede que são as demandas de aluguel, energia, etc. Para essas demandas, gente tem que estar sempre correndo atrás de fazer eventos pra cobrir as despesas.
6) Capital News: Falando diretamente de abuso sexual, como identificar um? Qual o perfil dele?
"São nas relações próximas que os maus tratos adquirem sua maior gravidade e frequência."
Viviane Vaz: Na maioria dos casos são homens, mas mulheres também abusam. 20% a 35% dos agressores sexuais foram abusados sexualmente quando criança e 50% deles foram vítimas de maus-tratos físicos combinados com abuso psicológico [Fonte: Marshall (1990)]. Possuem vidas sociais como qualquer pessoa, possuem um sistema de crenças baseadas nos mitos culturais sobre masculinidade (Cultura do Estupro), representada por uma crença que livra o autor do estupro e transforma a vítima em réu de questionamentos sobre seu comportamento. Crianças e Adolescentes também podem reproduzir o abuso que sofreram. São nas relações próximas que os maus tratos adquirem sua maior gravidade e frequência.
7) Capital News: Quais são os principais sinais que uma pessoa pode estar sofrendo abuso?
Viviane Vaz: São vários. Mas entre eles estão: Baixa autoestima; Autoimagem distorcida; Dificuldade de aprendizagem, baixo rendimento escolar; Agressividade, mudança de humor, falta de apetite; Alteração no sono, insônia, pesadelos, agitação noturna; Dificuldade de relacionamento, tendência ao isolamento Social, falta de confiança; Comportamentos regredidos; Comportamentos erotizados; etc.
8) Capital News: Quais as principais consequências para essa criança ou adolescente que foi abusada?
Viviane Vaz: Também são muitas as consequências. Entre elas: Doenças psicossomáticas; Doenças psiquiátricas como Depressão e Ansiedade, Transtornos Uso e dependência de álcool e drogas; Comportamentos de Risco (compulsões alimentares, sexuais, etc); IST (Infecção sexualmente transmitida); Em alguns casos, aborto.;
9) Capital News: O que fazer, assim que descobrir que uma criança ou adolescente está sendo abusada?
Viviane Vaz: O mais importante é proteger a vítima. Fazer investigações para com o abusador(a) ou até mesmo vingança/justiça não é papel da sociedade, é papel da justiça, no máximo podemos vigiar para que as leis sejam cumpridas.
10) Capital News: Nessa caminhada, quais são os principais desafios?
Viviane Vaz: Os principais desafios são os de tirar esse mito de que educação sexual é ensinar a criança a ter relação, não é isso. Falar de educação sexual, é falar sobre privacidade, falar sobre respeito, sobre amor a si próprio. É também sobre inteligência emocional, sobre empatia, sobre respeito, enfim sobre esses temas que são necessários falar. É dessa maneira que a gente consegue, de alguma maneira, proteger a criança e falar sobre esse assunto. É importante que a gente comunique para as crianças que algumas partes do corpo ninguém pode tocar.
"Pra essa vítima foi arrancado algo, uma infância muito preciosa e a gente não vai devolver. Essa pessoa precisa de acolhimento, de um tratamento. É possível ressignificar sua história e isso depende de tratamento."
11) Capital News: O que é mais te frustra quando falamos nesse assunto?
Viviane Vaz: Eu vejo que as pessoas, muitas vezes, se preocupam muito na denúncia, em punir o abusador, em como vai ser, mas esquecem que pra vítima, vai ficar uma marca. Pra essa vítima foi arrancado algo, uma infância muito preciosa e a gente não vai devolver. Essa pessoa precisa de acolhimento, de um tratamento. É possível ressignificar sua história e isso depende de tratamento.
12) Capital News: Quem quer ajudar o Projeto, como faz?
Viviane Vaz: Quem quiser colaborar com roupas em bom estado, porque todo mês a gente realiza um bazar entre a 13 de maio e Barão do Rio Branco. Além disso precisamos de parceiros fixos, que possam nos ajudar todo mês.
Serviço
Mais informações podem ser obtidas via Whatsapp, pelo número: (67) 3324-4200, ou no site do projeto: http://projetonova.com/.
As doações podem ser realizadas na conta do Projeto Nova / Funasph:
Caixa Econômica - Agência: 3144
Operação: 013 - Conta: 13566-0
CNPJ: 07.650.299/0001-79
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