O momento exige desarmamento de espírito e contenção de ânimos para a urgente recuperação de condições mínimas para interlocução sem repulsas mútuas e sem protagonismos exacerbados.
É desalentador constatar que, assolado por uma gravíssima crise sanitária que já ceifou mais de meio milhão de vidas, refém de uma crise econômica e social que já escala os quinze milhões de desempregados, vítima da maior crise hídrica em mais de um século, e exposto ao risco flagrante de reeditar a tragédia dos incêndios florestais da última temporada, o Brasil dispenda boa parte de sua energia vital a flertar perigosamente com uma crise institucional.
Insistimos aqui no vocábulo ‘crise’ para reforçar o argumento de que, em meio a tantos e urgentes problemas, tudo de que o Brasil não precisaria – e não merece – é se ver envolvido em uma situação política que submete a estresse contínuo e perigoso as suas instituições.
E é exatamente o que estamos vendo hoje: sobre o panorama real de um país que amarga o aprofundamento de desigualdades e o acúmulo contínuo de urgências sociais e humanas não respondidas, projeta-se a sombra sinistra e ameaçadora de frequentes ‘incidentes políticos’ com potencial para empurrar a nação para um impasse institucional.
Seria surreal, não fosse objetivamente preocupante, que em momento tão desafiador para o Brasil real – este mesmo que conta mais de 570 mil mortos pela covid-19, desemprego em massa e empobrecimento galopante –, as elites responsáveis pelo ordenamento político-institucional dispersem, com impasses em muitos casos evitáveis, as energias que lhe foram conferidas por delegação inscrita na Constituição Federal.
Sejam eleitos pelo voto no popular no Legislativo e no Executivo, ou titulares de funções no Judiciário e no Ministério Público, todos os que integram os Poderes da República estão sob o mandamento constitucional que, ao lhes assegurar legitimidade e autonomia enquanto agentes públicos, impõe-lhes a pesada responsabilidade de defender a todo custo o estado democrático de direito.
Daí ser profundamente preocupante constatar a sequência de incidentes e impasses – alguns claramente ‘artificiais’ e outros tantos removíveis pelo diálogo sensato, mas todos potencialmente perigosos – que tem tumultuado a agenda política sobre a qual o Brasil real gostaria de ver suas lideranças se debruçarem.
Em um cenário de sucessivas inquietações ouvem-se com frequência vozes autorizadas que, para contemporizar, sustentam que apesar dos estresses repetidos a que vêm sendo submetidas, todas as instituições estão em pleno funcionamento. E, por isso, defendem eles, não haveria motivo para se temer riscos de abalo nas estruturas da República, ou seja, no regime democrático estabelecido pela Constituição de 1988.
Porém, temos aí um caso clássico em que a premissa é verdadeira – as instituições funcionam –, mas a conclusão – de que portanto não há por que temer abalos ou rupturas – mostra-se no mínimo temerária. Pois somente enquanto os instrumentos do estado de direito estão em plena vigência é possível adotar medidas eficazes e legítimas para frear – e punir – afrontas ao sistema democrático.
Significa dizer que, se não há dúvida de que a própria Democracia, como regime garantidor das liberdades que é, tem em si mesma os antígenos capazes de debelar ataques explícitos ou arremetidas oportunistas a seus fundamentos, este é o momento de fazer uso deles. Com a ponderação e o equilíbrio que lhes conferem a legitimidade que é essência do estado democrático de direito.
- Saiba mais
- Covid-19: Consciência cidadã é arma de defesa coletiva
- Crianças e adolescentes: UNICEF Propõe que Municípios Reduzam Índices Sombrios
- A retomada do Aquário do Pantanal
- Hora é de união de todos contra o inimigo comum
- Combate à corrupção, desafio civilizatório
- Um Pantanal, Dois Estados E o Nosso Dever Comum
- Eleições 2022: O perigo da radicalização
- Campanha eleitoral: Que a sensatez permaneça
- Dia internacional da mulher: igualdade de gênero é conquista em construção
- Declínio da pandemia: Sensação de alívio não descarta cuidados e solidariedade
- Auditor de controle externo: Carreira de estado vital para a governança pública
- Mudança climática: Relevância dos órgãos de controle
- Pantanal: MPEs unem MS e MT em defesa do bioma
- Bacia do prata: Infraestrutura e integração
- Violência contra a mulher: Responsabilidade de todos
- Agenda 2030 da ONU: desenvolvimento sustentável é desafio comum e urgente
- Pesadelo real: Fome no Brasil é drama diário de 19,3 milhões
- Profissionais da saúde mostram que humanidade pode ser melhor
- A Importância da Prevenção ao Suicídio
- Pandemia impõe revisão de valores como tributo
- TCE-MS, 40 anos: Homenagear nossa história é preparar o futuro no presente
- SÍMBOLOS NACIONAIS: Civismo, a essência da nacionalidade
- O contágio das mentes: A politização da pandemia e o risco de graves “sequelas sociais”
- LGDP: Por uma cultura da proteção de dados
- Cobertura da mídia: Guerra na ucrânia eclipsa pandemia
- MS, 45 anos: Breve história, grandes avanços
- 25/03, Dia da constituição: Data impõe refletir sobre os riscos do radicalismo
- Volta às escolas: A retomada do ensino presencial
- Saúde, direito de todos: Há 34 anos, constituinte definia princípios do SUS
- Desafio contemporâneo: A relevância institucional do TCE-MS - 2
- PNPC: Informação como arma contra a corrupção
- Eleições 2022: Sensatez pela democracia
- O papel transformador do “TCE-MS Sem Papel”
- Recondução Amplia Empenho Pela grandeza da Corte
- Distância Salutar
- SUS deve ser robustecido para desafios pós-pandemia
- O incentivo à doação de órgãos
- Ideias convergentes sobre o legado do SUS
- Alimentação escolar: Garantir nutrição adequada é dever do gestor público
- Campo Grande, 123 anos: Capital do nosso orgulho
- Enfrentamento da Covid-19 o TCE-MS, a crise sanitária e a responsabilidade permanente
- Por ampla competição: Orientação do TCE-MS visa sanear licitações
- Decisão do INEP: Desafio urgente para a educação
- Reconhecimento: Servidor público, agente da cidadania
- Tecnologia & cidadania: estrutura virtual a serviço do controle externo eficaz
- 132 anos de república: Radicalismo e valores republicanos
- Censo escolar 2021: Um inventário desafiador
- Risco real: Radicalismo ideológico bloqueia diálogo sensato
- Sem precedente, crise do COVID-19 testa nosso senso de humanidade
- Eleições 2020: município é espaço vital para efetivação da plena cidadania
- O perigo do radicalismo ideológico
- Covid-19 “suspendeu” calendário gregoriano
- Mudança de Paradigmas
- Localização e Nome Atestam a Notável Visão do Fundador
- A dança dos Insensatos: Festas clandestinas “celebram” a morte
- Busca ativa escolar: Responsabilidade com o futuro
- Eleição e governança: Serviço público e democracia
- Um ano de pandemia: apoio a pequenos municípios será decisivo após covid-19
- LC Nº 31 de 11/10/1977: 44 anos da criação de MS
- Marechal da paz: Nossa dívida com rondon
- Marco da humanidade: Já somos oito bilhões
- Energia mais cara: nível crítico de represas põe em alerta o sistema elétrico
- CAEPE/MS: Educação, desafio de todos
- Fogo no Pantanal: Sinais de alerta para tempos desafiadores
- Biênio 2021-2022: no discurso de posse, compromissos renovados
- Capacitação de gestores previne ilegalidades no combate à Covid-19
- A Política da Boa Gestão
- Consórcios intermunicipais podem ser saída para escassez de recursos
- 2020: Eleições municipais e 40 anos do TCE-MS
- Campanha excepcional deve ater-se a ideias e propostas
- Duas presidenciáveis: Protagonismo da mulher sul-mato-grossense
- Efeito colateral: Ao expor diferentes "brasis", pandemia incita energia social
- STF anula aumento a servidores: Recomendação TCE-MPMS alertou para ilegalidade
- Guerra na Ucrânia: Insensatez dos homens, provação para mulheres
- Desenvolvimento de MS: Educação, fator decisivo
- Cada vez mais frequentes: crises hídricas são alerta de que água é recurso finito
- COP26: O futuro do planeta em debate
- Corredor bioceânico: Fórum é marco de avanço
- Crianças sem futuro: trabalho infantil desafia e constrange todos nós
- O TCE-MS em 2021: Um ano de respostas aos desafios
- MS tem 38,29% da população carcerária trabalhando
- A MULHER NA POLÍTICA: Sub-representação Feminina É Desafio Contemporâneo
- Um passo importante
- Cartilha do TCE-MS visa garantir transição segura nos municípios
- Com EAD, Programa do TCE é Instrumento de Vanguarda
- Um Olhar Sobre a Tragédia Pantaneira
- Qualidade do gasto público: Ainda sobre a relevância dos TCS para a democracia
- Garantia de qualidade: Reconhecimento e estímulo
- Combate à corrupção: rede de controle de MS inspira programa nacional
- Setembro Amarelo: Prevenção ao suicídio, um desafio de todos
- Revisionismo histórico: Tiradentes, um mártir em questão?
- Voto feminino, 92 anos: História de lutas e conquistas
- 1º de maio: com 14,3 milhões sem emprego, difícil festejar o dia do trabalho
- Governança pública: Por uma cultura da integridade
- Mortes violentas: Tragédia brasileira
- Desafio do século 21: com vacinas anticovid-19, ciência dá lição de governança global
- Logística reversa: Pacto põe MS na vanguarda da reciclagem de embalagens
- O heroísmo dos profissionais da saúde
- O TCE-MS, o eSocial e A Unificação Virtuosa
- Solidariedade como dever social e ético
E ponderação e equilíbrio exigem, sobretudo, desarmamento de espírito e contenção de ânimos como pressupostos para a urgente recuperação de condições mínimas de um diálogo sem repulsas mútuas e sem intransigências das partes.
Nunca foi tão urgente e necessário restabelecer, concretamente, o princípio fundamental que, no artigo 2º da Constituição de 1988, define que “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”
Neste momento, as seguidas tensões nas altas esferas da República têm alimentado protagonismos exacerbados que em nada contribuem para aquela fundamental independência harmoniosa. Muito pelo contrário, essa inquietação crescente põe em risco, sim, a estabilidade institucional.
Portanto, mais do que em qualquer outra quadra de nossa história recente, nesta hora as lideranças dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário devem se empenhar, por dever constitucional e por sensatez política, em reduzir as tensões e restabelecer o diálogo verdadeiramente republicano.
*Iran Coelho das Neves
Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.
• • • • •
A veracidade dos dados, opiniões e conteúdo deste artigo é de integral responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Capital News |